O piloto Aray de Paula Xavier começou a correr por volta de 1972 na categoria Estreantes e Novatos no antigo autódromo improvisado no estacionamento do Estádio Pelezão e já na estréia venceu as duas baterias pilotando o fusca 1600 preparado pela Equipe Ideal, surpreendendo a todos, pois os favoritos absolutos eram os Opalas 4100 dos pilotos Marco Emilio e o do Leo Faleiros.
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Apesar dos protestos verbais de algumas equipes, sua vitória foi confirmada, já que muitos não entendiam o porque do fusca preto nº 13 chegar na frente de carros com muito mais cilindradas e potência.
Na primeira bateria o fusca 1600 do Aray brigou toda a prova com o Opala 4100 de Evando Leuman (Leo Faleiros) e só conseguiu a ultrapassagem quando o opala deu uma escapada e caiu para a terceira posição. Daí para o final, Aray conduziu com facilidade o seus fuscão preto nº 13 para a vitória.
O resultado da primeira bateria ficou assim: Aray Xavier com o fusca nº 13 preto da Ideal, 2º chegou o Opala 4100 da Equipe Retifica Brasília, pilotado por Marco Emilio Pires, na 3ª posição o Opala 4100 de Leo Faleiros, em 4º o Fusca 1500 pilotado pelo Ricardo Teixeira Alves (o Nhen Nhen Nhen), que já começava a se destacar também e em 5º o Corcel Rino 1500 de Sidney Abrão Haje.
Na segunda bateria, o opala de Marco Emilio Pires pulou na frente sempre seguido de perto pelo Aray, que colou na sua traseira e depois de fazerem várias ultrapassagens em retardatários, Aray conseguiu recuperar a primeira posição ultrapassando o Marco Emilio e repetindo a vitória da primeira bateria.
A destacar ainda o velho protótipo Simca, que havia rodado em duas curvas, e o KG TC nº 5, que já havia batido no sábado, e logo no início da prova havia dado violenta rodada na reta oposta. Ambos não terminaram a prova. O Simca perdeu uma biela, e o KG TC envolveu-se no único acidente da prova capotando na curva de frente aos boxes, depois de bater em um dos pneus de proteção.
O resultado final ficou assim:
1º - VW 1600 nº 13 pilotado pelo Aray de Paula Xavier da Equipe Ideal
2º - Opala 4100 nº 25 pilotado pelo Marco Emilio Pires da Equipe Retifica Brasília
3º - Opala 4100 nº 11 pilotado pelo Leo Faleiros
4º - VW 1500 nº 15 pilotado pelo Ricardo Alves (Nhen Nhen Nhen) da Equipe Camber
5º - Corcel 1500 nº 7 de Sidney Abraão
Aray continuou a sua tragetória no automobilismo. Um dia, encontrou-se com o jovem kartista Nelson, e os dois começaram a correr juntos. Revezando-se, os dois foram obtendo vitórias. Piquet, mais feliz na trajetória, partiu para a Super V e deu o seu grande salto indo para a Europa. Aray, pelo contrário, sem tempo para conciliar automobilismo, familia e trabalho, (só corria por hobby), mas mesmo assim, participou da Formulas V, Stock-cars, Volks e a extinta Divisão 1.
Aray Xavier, Waltinho, Pupo Moreno, Piquet, Sergio Viana da Brasal e filhos, Ricardo Nhen Nhen Nhen ao fundo |
Depois do fechamento do autódromo do Pelezão, as competições ficaram esquecidas na vida de Aray. Em 84 passou dois anos na Europa para concluir seu doutorado em Direito. Teve alguns contatos com o esporte, já que dois de seus melhores companheiros de pista no Brasil, Roberto Pupo Moreno e o próprio Piquet, faziam sucesso por lá. Assistiu algumas corridas e entusiasmou-se.
Na volta ao Brasil, começou a articular seu retorno também às pistas.
Aray voltou a correr em 07 de setembro de 1986 pilotando um Voyage nº 13 da Equipe Rotor e começou a sondar patrocinadores. Conseguiu juntar algum dinheiro e passou a ter expectativas para resgatar seu lugar nos circuitos brasileiros.
Aray de opalão |
Aray Xavier e Waltinho Ferrari da Ideal |
Aray com o opala nº 13, sua marca |
Aray Xavier, Waltinho Ferrari e Walter Machado |
Continuou na busca por patrocínios. Treinou forte e mergulhou de cabeça no empreendimento. Investiu dinheiro do seu próprio bolso, e obteve apenas o patrocínio do Jornal Correio Brasiliense para divulgação de suas provas.
Sandro Ferrari, Aray Xavier, Waltinho Ferrari e Anderson Manteiga. |
O campeonato Inglês de Formula Ford 1600, segundo Aray, exigiria de qualquer piloto que quisesse participar das 28 provas, pelo menos 100 mil dólares. Mas ele pretendia ajudar jovens pilotos que tivessem interessem em correr em sua equipe: com dois carros e somente ele para pilotar, com 6 mil dólares, qualquer brasileiro poderia compartilhar com ele a emoção das corridas na Europa.
Aray e o mecânico Giovani Coqueiro na garagem apertada onde funcionava a oficina e o Formula Ford 1600 em partes |
O mecânico Giovani Coqueiro e Jesuan, filho do Aray com 15 anos |
Aray, na Inglaterra com o seu Formula Ford 1600 |
Como disse o Jesuan, filho do Aray Xavier:
"Meu pai tinha recém se separado e, com a mágoa de um casamento que não deu certo, resolveu jogar tudo pro alto (trabalho etc). Lembro-me dele dizendo: agora vou voltar a fazer aquilo que sempre gostei, correr de carros!!!!! Batalhou por patrocínio em Brasília, mas não teve muito sucesso. Conseguiu apoio do Correio Brasiliense, acho que apenas para divulgação de suas corridas, e foi pra Inglaterra, na cara e na coragem, tentar a fórmula Ford. Comprou um carro usado lá em partes separadas (carenagem, motor etc) e o montou para o campeonato inglês - fazia os ajustes na própria garagem da casa que alugamos (fotos em anexo, onde aparece eu, o mecânico Geovani Coqueiro, e meu pai). Na primeira corrida, ficou em oitavo lugar. Na segunda, conseguiu a pole, mas, infelizmente, logo na largada, sofreu uma batida do cara que vinha em segundo, e capotou várias vezes. Eu o acompanhava dos boxes. Neste momento estava com o cronometro na mão e tinha a função de sinalizar na pista, volta a volta, o tempo que ele fazia...
Foi um golpe difícil, mas tenho certeza de que ele morreu feliz, fazendo o que mais gostava na vida!!!! "
Aray, depois de marcar a pole em Snetterton/Inglaterra. Ao seu lado o carro que provocou a batida fatal após ambos baterem na primeira curva após a largada |
Fiquei sabendo, na época, que ele havia vendido um apartamento para montar a equipe lá, e, infelizmente, com pouco tempo depois e com 36 anos de idade recebemos aqui a triste notícia do acidente e de seu falecimento.
Como você mesmo disse: "morreu fazendo aquilo que mais gostava na vida" e isto, de uma certa forma, nos confortou um pouco.
Esta é apenas mais um pequena homenagem que faço para estes nossos heróis que ousaram ir em busca dos seus sonhos.
(Fotos, arquivo Jesuan Xavier, Fonte, jornais da época)
Nós que amamos o esporte entendemos perfeitamente a história do bravo Aray, que realizou seu sonho... que legal que seu filho Jesuan também se conforta e entende perfeitamente a grande paixão do pai.
ResponderExcluirJovino, não sei se entendi, o Aray morreu nessa capotada na Inglaterra? Não me lembro dessa tragédia, e olha que eu acompanhava os brasileiros pela 4 rodas. Muito triste isso.
ResponderExcluirSim , infelizmente Aray morreu nessa corrida , nesse capotamento . Excelente piloto , nosso amigo e já tinha corrido com patrocínio nosso .
ExcluirFoi muito triste saber da sua morte . Sua chegada a Brasília foi triste demais !!! Um sonho que acabava sem ao menos haver começado .
Aldaraci Silva Ferrari - Na época , eu era casada com Waltinho Ferrari e participava bastante do Automobilismo em Brasília .
É isto mesmo Mauricio. Ele era um piloto muito querido aqui em Brasilia. Interrompeu a sua carreira e voltou em 87, com 36 anos, após separar-se de sua esposa e rumou para a Inglaterra. Em sua segunda corrida, como mostra a foto, ele fez a pole e o carro que largou em segundo, o nº 34, um menino de 17 anos, bateu em seu carro e ele capotou várias vezes e vindo a falecer. Aqui em Brasília foi muito comentado, pois o Correio Brasiliense é quem dava cobertura jornalística para ele.
ResponderExcluirTriste fim de um grande piloto.
Jovino
Kika,
ResponderExcluirComentário do Kika encaminhado para o meu email:
"Engraçado, nunca tinha ouvido falar no Aray, ao contrário do resto do elenco de sua história. Sua vida daria tranquilamente um best seller! Paixão, dedicação, abnegação e tragédia. Valeu mais uma vez".
Kika
Kika,
ResponderExcluirÉ que a carreira dele foi assim, digamos, meio meteorica.
Começou arrasando e por causa da escolha pelo seu casamento e família, abandonou a carreira e voltou a correr muitos anos depois, após a separação.
Foi um grande piloto.
Abs.
Jovino
Autodromo de Brasília.Sandro Ferrari,Aray Xavier,Waltinho Ferrari e por último á direita Anderson Manteiga. talvez foto:Moreno.
ResponderExcluirObrigado Moreno.
ResponderExcluirVou complementar as informações dos nomes lá na referida foto.
Quando é que vamos nos encontrar para pegar umas fotos suas?
Abs.
Jovino
Belíssimas fotos!
ResponderExcluirAproveitando a oportunidade: PARABÉNS PRA VOCÊ, NESTA DATA QUERIDA...
FELICIDADES, JOVINO!
Abraços empoeirados
Conheço o Jesuan Xavier e organizo o campeonato de kart que ele participa aqui no Rio de Janeiro, a F46. Nunca soube da belíssima história do pai dele no automobilismo e fico muito feliz por podermos contar com o filho de um dos nossos verdadeiros heróis. Jesuan é uma pessoa excelente! Aray com certeza lá de cima tem muito orgulho do filho que tem.
ResponderExcluirParabéns ao blogueiro por este resgate. Nossa memória deve ser sempre preservada! Inclusive, acabei de tuitar este texto. Saudações, Marcio Arruda (Jornal do Brasil Online)
ResponderExcluirEsse Moreno é o Roberto Pupo Moreno, pra quem eu torci a vida toda, seja na F1 ou na Indy? Se for, quero expressar minha admiração pelo seu trabalho.
ResponderExcluirJovino o Moreno merece um post e daqueles grandes cara. Abs.
Mauricio, não é o Pupo Moreno.
ResponderExcluirALiás, num sábado destes estivemos reunidos com o Piquet e o Moreno lá no VCC pela manhã só ouvindo histórias deles.
Este moreno é um fotógrafo bem conhecido no meio automobilístico, principalmente, aqui em Brasilia.
Jovino
Sou piloto de Kart aqui no Rio e tive o prazer de disputar a categoria com o Jesuan Xavier, filho do Aray, tb não conhecia a história de seu pai e nem sabia que era piloto, ta explicado de onde vem a qualidade de Jesuam como piloto e seu caráter dentro e fora das pistas. Parabéns pela matéria.
ResponderExcluirAos amigos do Jesuan.
ResponderExcluirA intenção do blog é o de resgatar o automobilismo brasiliense e brasileiro e o Aray fez parte de uma geração de brasilienses que fizeram o automobilismo da nossa cidade. Alguns conseguiram projeção como o Pupo Moreno e o Nelson Piquet, mas todos ousaram ir em busca dos seus sonhos.
Jovino
Jesuan,
ResponderExcluirSei que não era o desejo dele naquele momento mágico (ele na pole e você na pista com o coração pulando de felicidade e expectativa), mas se pudesse escolher entre ir naquele momento ladeira acima, ou sofrer numa cama ladeira abaixo... escolheria a primeira, mais digna.
Flamary Coutinho
Comentário de Kristopher, encaminhado para o meu email:
ResponderExcluir"Jovino,
vi a matéria sobre meu tio e não consegui conter a emoção. Aproveito a oportunidade para ressaltar que o mesmo além de excelente piloto, era um pai e tio maravilhoso.
Sempre íamos, toda a família, ao autódromo de Brasília, para prestigiá-lo e principalmente para depois curtir bons momentos ao seu lado.
Apesar do tempo ...a saudade sempre bate à porta. Tive o privilégio de crescer tendo um tio exemplar ao meu lado, sabendo que vários valores (perseverança, obstinação e amizade) postulados pelo mesmo, "correm" pelas pistas desta vida imprevisível!
Parabéns pelo site e beijo tio, onde quer que esteja!
Kristopher (conhecido pelo tio Aray como Krico)".
nas vesperas do aray ir p/ Inglaterra ele me pediu p/ comprar os pneus de chuva dele p/ ajuda na partida e assim eu fiz eu fiquei com os pneus e ele com meu preparador Jiovene Coqueiro.
ResponderExcluirGrande Jovino,
ResponderExcluirEu sou o filho do Sérgio Vianna que está na foto junto como o Piquet, meu irmão e meu pai! Só agora vi a foto, histórica, de nossa família prestigiando a vinda do Piquet na comemoração do seu primeiro título mundial de Fórmula Um ! A ler a história do Aray fiquei mais emocionado ainda pois naquela época eu via que todos ali eram apaixonados pelas corridas de automóvel. O que me incentivou a correr também mas de ciclomotor na minha adolescência e logrando êxito vencendo dois campeonatos candangos !
Um abraço,
Sergio Vianna
Na foto com Aray dentro do carro 55, o rapaz com a camiseta da Ideal à esquerda é Ailton Celestino Mesquita, e não Sandro Ferrari.
ResponderExcluirMuito bom saber sobre o Aray, nao o conhecia, alias tinha visto seu nome numa lista do Wiki sobre pilotos que faleceram em corrida e fui em busca de mais informações. Uma pena que parece que sua pagina é a unica que lhe deu o devido destaque, nao encontrando mais em nenhum lugar. Valeu a homenagem e aos comentários que acrescentaram boas referência do homem e do piloto Aray. Saudações!
ResponderExcluirOlá Jovino , muito bom rever fotos antigas dos nossos pilotos . Tenho algumas fotos daquele tempo , inclusive a foto original do Correio Brasiliense com o Fusca Preto n°13 , 5 marchas , projetado pelo meu marido Waltinho Ferrari .
ResponderExcluirParabéns pelos excelentes comentários, inclusive na grande lembrança do nosso querido Aray de Paula Xavier .
Grande abraço!