Começarei a publicar exporadicamente aqui no blog as minhas reminescênicas da 312 Norte, quadra que moramos durante quase 20 anos e que marcou muito a minha vida e de muitos amigos de lá.
Meu pai veio para Brasília em 1959 para trabalhar na construção da cidade e passava uma boa temporada aqui e depois retornava à Goiânia para passar uns dias com a família.
Meu pai veio para Brasília em 1959 para trabalhar na construção da cidade e passava uma boa temporada aqui e depois retornava à Goiânia para passar uns dias com a família.
Esta foi
a sua rotina durante anos, até que em 1965 recebeu um apartamento popular,
colocou toda mudança em um caminhão estilo "Pau de Arara" e mudamos
para cá, eu com os meus 8 ou 9 anos de idade e mais 6 irmãos e minha mãe.
A turminha posou para o retrato antes de vir para Brasília lá em Goiânia: da esquerda para a direita embaixo, Eu, os irmãos: Marcia e o Tonho. atrás estão o Mirson, a Graça e o Marcio. Veja a cara de timidez de todos diante do retratista.
Quando
chegamos à cidade, levei um baque, pois ela era totalmente diferente daquilo
que conhecíamos e ainda um enorme canteiro de Obras.
O enorme canteiro de Obras. As máquinas trabalhando para a nova capital.
Passamos
pela cidade livre (Candangolândia) e o que me impressionou logo de cara foram
as casinhas dos primeiros candangos que vieram morar aqui, todas feitas de
madeiras praticamente iguais e rumamos em direção ao eixão sul apreciando toda
a sua modernidade com prédios com pilotis, novidade para a gente, os
monumentos, uma catedral ainda no esqueleto e com avenidas largas com postes de
iluminação sem nenhuma fiação exposta, pois elas eram aterradas e rumamos em direção
à W3 Norte que tinha apenas alguns prédios na quadra 306 (quadra de militares)
e a 312 norte, onde fomos morar.
A foto foi cedida pelo amigo Paulinho mostrando onde moravam na Avenida W 3 Norte no final dos anos 60.
Cidade Livre - Os futuros Candangos chegando para trabalharem na construção de Brasília
Não havia
asfalto na W3 Norte e a referida avenida era toda atravessada por uma pista de barro empoeirada
com sentidos opostos sem nenhuma divisão lógica, pois, a mão e contramão,
eram imaginárias e democraticamente demarcada pelo bom senso dos
motoristas e mais barracos de madeiras construídos hermeticamente com 1, 2 ou
até 3 andares atravessando toda a sua extensão.
A Catedral ainda no esqueleto e que ficou assim durante muitos anos.
Chegamos
a quadra onde iríamos morar, ainda sem asfalto e calçamento, o piso dos prédios
não eram cimentados, mas eles tinham elevadores, outra novidade para a gente,
pois morávamos em casa.
Logo de
cara, conhecemos os nossos primeiros amigos, uns cearenses com um vocabulário e
sotaques estranhos daquilo que a gente falava, pois mandioca era macacheira
para eles e foi assim descobrindo as diferenças de culturas e costumes que
fomos fazendo amizades, com cariocas (para eles mandioca era Aipim), mineiros,
paulistas, gaúchos, enfim, toda aquela missegenação de culturas deste pais
continental se aventurando no cerradão goiano.
E foi
justamente num destes barracos na W3 norte, que tempos depois, passamos a
freqüentar e descobrimos que alguns deles estavam abandonados e nós os
assumimos como a nossa segunda casa.
Numa
destas nossas passadas por lá, achamos um baú enorme abandonado cheio de
foguetes 3 tiros canhão, como eram conhecidos na época, e isto passou a ser a
nossa maior diversão.
Veja como eram os barracos que margeavam a avenida W 3 Norte no final dos anos 60 e início dos anos 70. Foi num destes que assumimos e pegamos um baú enorme cheio de bombas três tiros canhão
Pegamos
os foguetes e começamos a soltá-los estrondando toda a quadra que morávamos.
Alguns explodiam normalmente quando subiam no ar, mas outros começaram a dar
problemas quando acendíamos o pavio e explodiam ali na mão da gente e a
brincadeira passou a ser perigosa, pois passamos a
correr riscos.
Então, na
minha genialidade de moleque que tinha muita criatividade para fazer o que não
prestava, criei uma técnica inovadora de fazer explodir os foguetes sem
corrermos riscos de algum acidente sério.
Peguei saquinhos
de leite Gogó usado (muito consumidos na época), o abríamos e desmontávamos os
foguetes tirando as 3 bombinhas que tinham dentro deles, esgotávamos as
pólvoras e as colocávamos no centro do saco de leite e uma pedra
pontiaguda enorme era colocado no centro dele, o fechávamos e faziamos uma
espécie de trouxinha.
A pedra
ficava numa posição em cima da pólvora, que, quando, na minha teoria destrutiva,
batesse com força do chão, explodiria.
Mas
teríamos de fazer o teste para ver se a nossa invenção explosiva funcionava
mesmo.
Numa bela
noite, um bando de moleques malucos e sem ter o que fazer, escalamos o bloco
“J”, prédio de 6 andares subindo pela lateral dele pelo cabo de aço do
pára-raios (parecia Batman e Robim escalando prédios) até alcançarmos o 7º andar (terraço), isto lá pelas 23h.
A quadra
estava num silêncio ensurdecedor. Fizemos uma rápida e pequena vistoria aérea
do local para ver se alguém estava nos vendo e atiramos o nosso projétil ecsosex
ladeira abaixo.
A
experiência havia dado certo e todos os prédios naquela circunferência foram
acordados e nós com medo da merda que acabávamos de fazer, começamos a correr
em cima dos telhados de zinco até alcançarmos os cabos dos pára-raios e os descemos
alucinadamente de medo.
Chegamos
lá embaixo com a cara mais cínica do mundo como se não soubéssemos o que havia
acontecido e vimos a consequência daquilo tudo.
Dois
carros com vidros quebrados e estilhaços de vidros espalhados por todo canto, um monte de gente que começavam a descer dos seus
apartamentos muito putos da vida e tentando descobrir que ataque repentino
era aquele em pleno início de madrugada. Seria algum
subversivo revoltado, já que estávamos em plena ditadura militar ou os
próprios explodindo bancas de jornais!
Na nossa mente malandramente
ingênua não havíamos lembrado que já
tínhamos soltado foguetes na própria quadra antes e alguns moradores começaram
a desconficar da gente, mas nos disfarçamos como quem estivessem acordado com a
explosão e fomos saindo de mansinho e fomos dormir.
Noutro
dia, os comentários a respeito da explosão misteriosa formou pequenos
grupinhos, cada um com sua teoria a respeito de quem teria feito tal atentado e
o nosso nome ainda estava forte e ficamos quietinhos, cada um em seu
apartamento esperando a coisa esfriar.
A turminha dos mais velhos. A gatíssima Gilka, paixão de muita gente na época, o Ardo, a minha irmã Graça depois de chegar do Projeto Rondon, e Joaquim e namorada Telma.
Até que o
Luisinho, menino sério e que não matava aula como nós, que havia recebido a sua porção de foguetes e não sabia de
nada do acontecido, começou a soltar os seus rojões em lugar seguro e aí a
turma caiu em cima dele e só não foi trucidado porque o porteiro do bloco "A" interveio
a seu favor afirmando que ele não havia descido naquela noite.
As explosões
continuaram a acontecer e o pobre do Luisinho ficou com a fama de Luisinho bombinha, só que agora, haviamos
desenvolvido uma tecnologia bem mais apurada, pois passamos a usar o estilingue
como base de lançamento das nossas bombinhas.
Pegávamos
bolinhas de gude e fazíamos pequenas trouxinhas e as atirávamos nas residências
das quadras inimigas, nas quadras 700 (que não gostavam de receberem a nossa turma em
suas festinhas com os nossos discos de vinis de rock and roll a tira colo),
isto, também, durante a noite, pois assim víamos o reflexo e o extrondo que ela
produzia e alucinava a gente.
Olha aí a turminha de santinhos: Tio Ive, Ítalo, meu irmão Tonho, Pedrinho* e o Doda.
Na referida
quadra 312 norte, considerada, na época, como a quadra mais populosa de
Brasília tem um famoso Açougue Cultural, um cara que mora lá e que montou e
colocou uma biblioteca lá dentro, onde seus clientes ou não pegam livros
emprestados e os devolve posteriormente, mas sem exigência de nada.
Aqui a referida quadra nos anos 70. O meu irmão Marcio, Luisinho das Candangas (Cesarino ou Hulk), as minhas irmãs Marcia, Graça e o Luisinho, sentados nos para-lamas do fusquinha brabo preparado pela Camber.
É um cara
que colocou mini bibliotecas por alguns pontos de ônibus da asa norte e o
sistema é muito simples. Você pega os livros e os devolve quando bem entender e
o processo funciona naturalmente e ninguém os rouba.
A turminha de Amigos no meio dos anos 70 no Bar Shop Chop na 312 Norte. Falcon, Nego, o meu irmão Tonho, o irmão Luisinho Ligação Direta Blues Band (será ele o menino terrível das bombinhas!!!) e o saudoso e grande amigo Pedrinho que está no andar de cima rindo das nossas aprontações juvenis.
Lá nesta entrequadra são realizadas Noites Culturais quando fecha-se
o comercio da 312/313 norte e eles trazem artistas de renome nacional e local e recebem um público de mais de 5.000 pessoas, quando é realizado 2
vezes por ano.
E é lá que
encontramos toda esta minha geração de amigos, que hoje estão aí pelos seus 50/60 anos e
histórias e muitas recordações voltam à tona.
Ah!!! O Luisinho
Bombinha hoje é um respeitado funcionário do Judiciário Brasileiro, toca Rock and Roll e Blues nas horas vagas e é pai de
três belas meninas e nada lembra daquele “moleque endiabrado dos dourados e saudosos anos 70”.
Este Post foi inspirado numa história que o tricampeão Nelson Piquet nos contou sobre uma bombinha cabeça de negro em um certo colégio da asa sul.
Este Post foi inspirado numa história que o tricampeão Nelson Piquet nos contou sobre uma bombinha cabeça de negro em um certo colégio da asa sul.
* Dedico este post ao amigo querido Pedrinho e a todos os amigos desta quadra que marcaram bastante as nossas vidas quando moramos lá.
Fotos: algumas são de minha autoria e do Paulinho do Bloco "I" que morava no apt. 609, e outras captadas da Internet e só não identiquei os autores porque os desconheço.
Fotos: algumas são de minha autoria e do Paulinho do Bloco "I" que morava no apt. 609, e outras captadas da Internet e só não identiquei os autores porque os desconheço.