


(Fotos, reprodu~ção, video, You Tybe)
Largada possivelmente das 200 milhas de Brasilia
Depois, fiquei sabendo que a Camber havia se mudado para a Quadra 503 sul e eu sempre rumava para lá para ver os carros que eram preparados, mas, agora, numa oficina muito bem estruturada e com uma revenda Yamaha.
Alex e namorada em frente a Camber na 503 sul.
O chaveirinho que era desejado pela juventude brasiliense da época
Depois, quando o Alex foi correr em outras categorias, a carroceria do Patinho Feio ficou abandonada ao relento nos fundos de uma oficina na W3 Norte quada 713.
A familia reunida, Daniel, Barbara, Alex, Carol e Luna
Idealizado pelo Ênio Garcia e executado por Waldir Lomazzi, esta entrevista é um resgate da história deste carro que ainda não foi contada por aquele que enfiou a mão na massa e durante um ano, trabalhou na construção de duas unidades, inspirado numa Ferrari Dino em escala bem pequena (possivelmente 1/43) apresentada pelo Ênio Garcia e também, uma homenagem que fazemos para aquele que ficou um pouco esquecido nesta história. A maioria das fotos são inéditas guardadas por mais de 40 anos.
Lomazzi em sua residência quando nos recebeu
MOCAMBO BLOG – Waldir Lomazzi, como começou a ideia de se construir o Elgar GT 104?
WALDIR LOMAZZI – Começou quando o Ênio me procurou e me levou a seu apartamento em que ele morava na 305 sul e falou: “O carro é este”, e me mostrou uma miniatura da Ferrari Dino, (possivelmente escala 1/43 pelo tamanho que ele simulou) pois aquele carro nada mais era do que uma Ferrari Dino.
Depois, eu olhei a parte de baixo abrindo, ela abria de frente para trás e me mostrou o motor e me falou que teríamos um patrocínio do Osório Adriano da Brasal, mas já arrumado tudo para a gente fazer o carro lá na Stil, que era uma empresa de perfis de aço e eu falei-lhe, tudo bem.
Foi aquela engenharia meio primária, por exemplo, a distância entre-eixos original era de 2,80 metros, muito longa para um carro de competição pois como se sabe o entre-eixos em competição é fundamental. Quanto mais curta e até certo limite facilita a condução em curvas de raio curto; mais longa melhora o desempenho em retas e curvas de alta.
Então, o Ênio estabeleceu um meio termo em 2m28. Aí, pegamos a suspensão do fusca de corrida do Ênio (o famoso Cascão-Brasal) e colocamos no chão. Instalamos o câmbio com o motor entre-eixos e aí começamos a fazer os perfis de aço e começou todo o trabalho. A gente trabalhava toda noite, todo sábado, todo domingo, todo feriado, a mulher estava até querendo me largar (risos) e levou um ano para sair os dois carros, depois de muito trabalho, pois quando se fazia uma peça já a fazia duplicada, pois seria para os dois carros (um foi para a dupla Toninho Martins/Ênio Garcia e o outro para a dupla Waldir Lomazzi/Paulo Guaraciaba.
O carro começando a pegar forma
Detalhe do chassi feito de perfis de aço (bem rústico e que funcionava)
Aqui a estrutura toda de arame quase pronta
WALDIR LOMAZZI – É, as medidas foram sendo tomadas. Lá era perfil mesmo, na base do quadrado. Então, se media a longarina e pedia-se para fazer a dobra e fazia-se as duas peças. Depois do chassi pronto, fazia-se o acoplamento no quadrado da suspensão Volkswagen, a suspensão dianteira dele era de barra de torção, mas nós usáva-mos uma barra só, sem ação, só para segurar a suspensão e só tinha uma barra que funcionava, pois o carro era muito leve.
Visão da traseira já montado o câmbio
MOCAMBO BLOG – E o projeto, como foi estabelecido? Como começou a ideia do projeto?
WALDIR LOMAZZI – O Ênio apareceu com ele no papel, ele pegou uma miniatura bem pequena da Ferrari Dino, como dito anteriormente, e colocou ela em escala, ele fez o desenho e a media fazendo em escala e falou: “isto em escala vai dar tanto”, pegava-se a medida e a calculava, “isto aqui vai dar tanto, em centímetros” e assim foi-se construindo o carro.
Motor entre-eixos
MOCAMBO BLOG – E a suspensão traseira?
WALDIR LOMAZZI – A suspensão traseira foi em mola espiral mesmo, as articulações, os tambores de freios, tudo original Volkswagen, já que a mola traseira, eu peguei e fiz uns braços para pegar na capa do semi-eixo. O que deu muito trabalho também, foi a articulação de câmbio, pois o câmbio ficou virado para trás, então para fazer aquela peça, deu muito trabalho.
O próprio Waldir Lomazzi testando a posição do banco e pedais
MOCAMBO BLOG – Como ficou a posição da alavanca de câmbio, a primeira, ficou na posição da primeira mesmo, ou não?
WALDIR LOMAZZI – Não. Ela ficou invertida, o diferencial virado ao contrário né, porque você tinha que fazer o seguinte: você tinha que pegar a coroa e virar pro outro lado dentro do câmbio, pois senão, ficava a ré andando para a frente e aí ficaria tudo errado. Este problema de câmbio invertido aconteceu com o Chapéu de Freira lá em Fortaleza (fusca feito pelo Von Negri).
Tivemos que tirar a caixa 3 e no treino, o carro ficou sem a segunda, o carro foi para a oficina à noite e no montar da caixa, eles colocaram a coroa do lado direito, como se tivesse o motor entre-eixos e quando fechou-se a caixa, já era 3 horas da madrugada e eu falei para o Von Negri: vamos dar uma volta no carro, e ele respondeu: “não, vamos embora para casa”.
No dia seguinte, fomos para o autódromo de taxi e o Von Negri foi para a oficina pegar o carro. Foram o Raimundo, o Carlão e o Japonês. Aí o Alemão funcionou o carro e quando foi sair e engatou a ré, o carro foi para a frente, na 1ª, segunda e terceira, o carro ía para trás, e aí, como é que se faz, tiramos o câmbio e eu fui tentar retardar a largada o mais que pudesse e quando chamaram para alinhar, o carro tinha chegado no grid.
Com a estrutura de arames com o gesso já moldado
MOCAMBO BLOG – Lomazzi, e os patrocinadores foi só a Brasal, ou teve outro?
WALDIR LOMAZZI – Teve a Brasal e para terminar o carro, o Castaldelli, que era uma fábrica de geladeiras e a Stil, que fazia perfis de aço. Eu levei o carro para o Gama todo já montado no arame (como mostram as fotos) andando e abria-se o capô, portas, o que dava acesso ao motor, tudo abrindo em arame.
O Castaldelli tinha um senhor, o Manoel, que era um verdadeiro artista, então ele colocou em cima de toda a estrutura do carro em arame sacos de gesso e assim foi fazendo, esculpindo o molde com gesso e daí, as peças, os para-lamas, o capô, enfim, toda as partes do carro. O para-brisa dele foi da Berlineta Interlagos, e aí eu cheguei nos lanterneiros da Brasal e falei para eles fazerem o modelo de arame para ficar igualzinho ao para-brisa da Berlineta, mas eles não deram conta e acabou que eu mesmo fiz o modelo. Outra peça que eu fiz foi o berço do farol, apesar de eu não ser lanterneiro.
Aqui, a carroceria já praticamente pronta
MOCAMBO BLOG – Este projeto de vocês, com motor central, foi um projeto inovador para a época?
WALDIR LOMAZZI – Na época fazia-se muito protótipos na plataforma Volkswagen e este foi um chassi próprio, com chapas perfiladas, com motor entre-eixos , o próprio Patinho Feio, era plataforma, com motor pendurado. A carroceria do Elgar foi feita em arame e os pneus, câmbio, tudo Volkswagen.
Sr Manoel, um verdadeiro artesão
MOCAMBO BLOG – Quais eram as polegadas que vocês usavam nas rodas do Elgar?
WALDIRLOMAZZI - O aro era 13 e era feito de chapa mesmo, as talas de 7 polegadas e as rodas "bolo de noivo" foram usadas depois com outros pilotos.
MOCAMBO BLOG – E os pilotos que andaram com ele?
WALDIR LOMAZZI – O Ênio, eu, o Toninho Martins, o Penta, o Zeca Zupa, Luis Claudio Nasser, o Barata e o Carlito Santo Mônica. No Pelezão, correram também o Gladstone e o Haroldo Meira, isto, quando o carro já era do Penta.
Ricardo Penta testando a posição do banco
MOCAMBO BLOG – E a estreia do Elgar, quando foi?
WALDIR LOMAZZI – Os carros estrearam nos Mil quilômetros de Brasilia de 1969 e eu estava conduzindo um deles, apesar de estar andando muito bem e já estar chegando nas primeiras posições, ele teve entupimento do tanque de gasolina por causa dos respingos de soldas que caíram dentro dele quando ele foi construído e não houve tempo para solucionar estes pequenos detalhes até a prova, isto tudo, na primeira volta, e o carro pifou e não terminou a corrida.
O Elgar antes da largada
MOCAMBO BLOG – Lomazzi, para terminar, e as vitórias do Elgar?
WALDIR LOMAZZI – Que eu me lembre, só os 500 km de Brasilia de 69 com o Toninho Martins e o Luis Claudio Nasser.
Recebendo a bandeirada 500 km Brasilia de 1969
Luis CLaudio Nasser e Toninho Martins após a vitória nos 500 km de Brasilia de 1969
Fotos arquivo pessoal do Waldir Lomazzi