Estávamos reunidos numa bela manhã de sol no autódromo Internacional Nelson Piquet, em Brasília, no verão de 82 e batendo um bom papo, quando apareceu o nosso amigo Viana e nos pediu ajuda para que pudesse comprar um carro.
Aí o Cesarino disse que tinha um amigo dono de uma agência de carros que ele poderia indicar, mas o Viana retrucou que ele estava interessado era em comprar um Dodge de corrida.
Todos ficamos com uma indagação na mente se ele realmente poderia participar da categoria, pois o Viana tinha um problema de visão e imaginávamos que ele não poderia pilotar um carro em alta velocidade.
Enfim, o Viana comprou o tal Dodge e o pintou nas cores do seu clube do coração, que é o fluminense.
Participou de algumas corridas e andou até bem e o ano se findou. Em abril do ano seguinte, os pilotos estavam com uma fome danada para acelerar e eu peguei o meu Dodge e fui para o autódromo.
Viana e o Dodge que sofreu acidente sendo todo destruído pilotado pelo Toller Junior
Dei uma volta de reconhecimento e fiquei um pouco assustado com o que vi. A administração do autódromo havia retirado algumas lâminas do Guard-Rail para serem trocadas exatamente na curva 1, ou curva da vitória, e ficou aquele espaço enorme que dava para entrar uns 4 Dodges e uma lâmina superior ficou apontada para a gente.
Confesso que fiquei apreensivo e imaginando que se alguém desse uma escorregada ali e batesse na lâmina, as consequências poderiam serem terríveis.
Voltei para os boxes, parei o carro e falei para o pessoal, mas ninguém deu a mínima.
O Viana estava todo radiante, pois teria comprado um carburador “canhão” do OswaldoToller Junior, que era o bicho papão da categoria Hot Dodge e o estava esperando chegar. Passou alguns minutos e o Junior apareceu com o carburador e 2 mecânicos e o instalaram no Dodge do Viana.
Como estava todo mundo fissurado para andar, o próprio Junior pediu para testar o carro e saiu para a primeira volta e logo retornou ao boxe.
Pediu para fazer mais alguns ajustes e saiu a toda acelerando forte e vinha descendo o mergulho em direção a bruxa, saiu com força e motor cheio na reta oposta reduziu e contornou o cotovelo em direção a curva do placar, jogou uma terceira e saiu com a traseira dando uma leve escorregada controlada, subiu o giro e mandou uma quarta e foi em direção a curva da vitória, jogou novamente uma 3 e deu uma quebrada de leve, acelerou forte e ouviu-se um estrondo muito forte de onde nós estávamos.
A curva 1, ou curva da vitória onde o Toller Junior bateu o Dodge do Viana depois de um pneu estourado.
Um pneu acabara de estourar ali naquela curva, onde eu temia por algum acidente e ele entrou exatamente onde estava a lâmina do guard-rail exposta. Deu uma porrada muito forte que chegou a tremer o guard rail em frente a arquibancada coberta e uma poeira enorme encobriu o carro. Todos nós saímos correndo em direção àquela curva para socorrer o Junior que ficava a uns 200 metros dos boxes. Chegamos lá exauridos de cansaço, quando nos deparamos com uma cena horrível: o carro estava com a frente toda destruída e a tal da lâmina estava toda dentro do carro encostada no pescoço do Junior.
Como estávamos tendo dificuldades para abrir a porta, entramos pela janela mesmo. O Junior estava desmaiado e eu temi pela vida dele. Conseguimos soltar os cintos, o retiramos e o colocamos deitado na grama.
Não havia médico, nem bombeiro, nem socorro algum e o desespero começou a tomar conta de todos, mas ele começou a recuperar a consciência e aparentemente estava bem até se levantar ainda meio zonzo e nós vimos que ele estava realmente bem.
A sua sorte foi que o Viana, como a maioria dos pilotos da categoria daquela época, usavam os próprios bancos dos carros e ele cedeu para trás e quebrou inclinando com a pancada, tornando-se uma espécie de cama e a lâmina não o pegou no meio do peito por um milagre.
Depois que o socorremos, fomos ver os estragos do carro. A frente, principalmente, o lado do piloto, estava toda destruída e descobrimos a causa do acidente. Pasmem, o pneu que o Viana usava no carro era recauchutado e estava bem ressecado e frisado, comprado em um borracheiro de um posto qualquer da asa norte.
Graças a Deus, o Junior só teve escoriações e luxações pelo corpo e depois deu de presente para o Viana uma carcaça de um Dodge 4 portas como forma de ressarcir os prejuízos causados no seu carro, pois ele já tinha comprado um opala tinindo de novo para correr na Turismo Força Livre, naquele ano, e desgraçadamente, no treino de sua primeira corrida da TFL, ele escapou na mesma curva, bateu, capotou e destruiu todo o carro.
Abaixo, a reconstrução do acidente de Roberto Kubica
(Fotos, Carlos Marques e Viana, Video, You Tube)
Caraca Jovino, fiquei arrepiado só de ler.
ResponderExcluirImagino a agonia de vocês...
Abraço
Comentário do Bob Sharp encaminhado para o meu email:
ResponderExcluirBoa reconstrução. Lamentável que tenha acontecido.
Abraço
Bob
Jovino, eu estava lá no dia e também ajudei a tirar o Júnior (Osvaldo Toller) de dentro do carro, todos ficamos muito preocupados, ele deu muita sorte.
ResponderExcluirLembranças que não saem da memória.
Um abraço
Guilherme Rezende