quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

REMINISCÊNCIAS BRASILIENSES - HOT DODGE

Com o terrível acidente sofrido pelo Robert Kubica numa prova de Rally no início do mês, me veio na memória um momento muito delicado na época da categoria Hot Dodge aqui em Brasilia, quando houve um grave acidente sofrido pelo Oswaldo Toller Junior, que descrevo abaixo:

Estávamos reunidos numa bela manhã de sol no autódromo Internacional Nelson Piquet, em Brasília, no verão de 82 e batendo um bom papo, quando apareceu o nosso amigo Viana e nos pediu ajuda para que pudesse comprar um carro.

Aí o Cesarino disse que tinha um amigo dono de uma agência de carros que ele poderia indicar, mas o Viana retrucou que ele estava interessado era em comprar um Dodge de corrida.

Todos ficamos com uma indagação na mente se ele realmente poderia participar da categoria, pois o Viana tinha um problema de visão e imaginávamos que ele não poderia pilotar um carro em alta velocidade.

Enfim, o Viana comprou o tal Dodge e o pintou nas cores do seu clube do coração, que é o fluminense.

Participou de algumas corridas e andou até bem e o ano se findou. Em abril do ano seguinte, os pilotos estavam com uma fome danada para acelerar e eu peguei o meu Dodge e fui para o autódromo.

Viana e o Dodge que sofreu acidente sendo todo destruído pilotado pelo Toller Junior

Dei uma volta de reconhecimento e fiquei um pouco assustado com o que vi. A administração do autódromo havia retirado algumas lâminas do Guard-Rail para serem trocadas exatamente na curva 1, ou curva da vitória, e ficou aquele espaço enorme que dava para entrar uns 4 Dodges e uma lâmina superior ficou apontada para a gente.

Confesso que fiquei apreensivo e imaginando que se alguém desse uma escorregada ali e batesse na lâmina, as consequências poderiam serem terríveis.

Voltei para os boxes, parei o carro e falei para o pessoal, mas ninguém deu a mínima.

O Viana estava todo radiante, pois teria comprado um carburador “canhão” do OswaldoToller Junior, que era o bicho papão da categoria Hot Dodge e o estava esperando chegar. Passou alguns minutos e o Junior apareceu com o carburador e 2 mecânicos e o instalaram no Dodge do Viana.

Como estava todo mundo fissurado para andar, o próprio Junior pediu para testar o carro e saiu para a primeira volta e logo retornou ao boxe.

Pediu para fazer mais alguns ajustes e saiu a toda acelerando forte e vinha descendo o mergulho em direção a bruxa, saiu com força e motor cheio na reta oposta reduziu e contornou o cotovelo em direção a curva do placar, jogou uma terceira e saiu com a traseira dando uma leve escorregada controlada, subiu o giro e mandou uma quarta e foi em direção a curva da vitória, jogou novamente uma 3 e deu uma quebrada de leve, acelerou forte e ouviu-se um estrondo muito forte de onde nós estávamos.

A curva 1, ou curva da vitória onde o Toller Junior bateu o Dodge do Viana depois de um pneu estourado.

Um pneu acabara de estourar ali naquela curva, onde eu temia por algum acidente e ele entrou exatamente onde estava a lâmina do guard-rail exposta. Deu uma porrada muito forte que chegou a tremer o guard rail em frente a arquibancada coberta e uma poeira enorme encobriu o carro. Todos nós saímos correndo em direção àquela curva para socorrer o Junior que ficava a uns 200 metros dos boxes. Chegamos lá exauridos de cansaço, quando nos deparamos com uma cena horrível: o carro estava com a frente toda destruída e a tal da lâmina estava toda dentro do carro encostada no pescoço do Junior.

Como estávamos tendo dificuldades para abrir a porta, entramos pela janela mesmo. O Junior estava desmaiado e eu temi pela vida dele. Conseguimos soltar os cintos, o retiramos e o colocamos deitado na grama.

Não havia médico, nem bombeiro, nem socorro algum e o desespero começou a tomar conta de todos, mas ele começou a recuperar a consciência e aparentemente estava bem até se levantar ainda meio zonzo e nós vimos que ele estava realmente bem.

A sua sorte foi que o Viana, como a maioria dos pilotos da categoria daquela época, usavam os próprios bancos dos carros e ele cedeu para trás e quebrou inclinando com a pancada, tornando-se uma espécie de cama e a lâmina não o pegou no meio do peito por um milagre.

Depois que o socorremos, fomos ver os estragos do carro. A frente, principalmente, o lado do piloto, estava toda destruída e descobrimos a causa do acidente. Pasmem, o pneu que o Viana usava no carro era recauchutado e estava bem ressecado e frisado, comprado em um borracheiro de um posto qualquer da asa norte.

Graças a Deus, o Junior só teve escoriações e luxações pelo corpo e depois deu de presente para o Viana uma carcaça de um Dodge 4 portas como forma de ressarcir os prejuízos causados no seu carro, pois ele já tinha comprado um opala tinindo de novo para correr na Turismo Força Livre, naquele ano, e desgraçadamente, no treino de sua primeira corrida da TFL, ele escapou na mesma curva, bateu, capotou e destruiu todo o carro.

Abaixo, a reconstrução do acidente de Roberto Kubica

(Fotos, Carlos Marques e Viana, Video, You Tube)

3 comentários:

  1. Caraca Jovino, fiquei arrepiado só de ler.
    Imagino a agonia de vocês...
    Abraço

    ResponderExcluir
  2. Comentário do Bob Sharp encaminhado para o meu email:

    Boa reconstrução. Lamentável que tenha acontecido.

    Abraço
    Bob

    ResponderExcluir
  3. Jovino, eu estava lá no dia e também ajudei a tirar o Júnior (Osvaldo Toller) de dentro do carro, todos ficamos muito preocupados, ele deu muita sorte.
    Lembranças que não saem da memória.

    Um abraço

    Guilherme Rezende

    ResponderExcluir