O papo surgiu ontem na mesa da nossa reunião das terças feiras num restaurante no Lago Sul onde nos encontramos com um monte de apaixonados por automobilismo.
O Ricardinho Melo contou uma história (ou estória) a respeito da prova que foi realizada em comemoração à inauguração de Brasília em 1960. Aliás, prova não, provas estas realizadas no eixão sul constando de uma reta que os pilotos tinham que ir e vir, separada por cavaletes.
Foram realizadas três provas: a primeira uma corrida do Grupo III, em seguida uma do Grupo I (carros praticamente originais) e por fim as duas provas (Mecânica Nacional e Esporte).
Mas a minha dúvida era em relação ao vencedor da prova principal, que segundo algumas pessoas, o vencedor teria sido o Chico Landi, mas como houveram duas provas, mecânica Nacional e Esporte,na realidade, O Chico Landi teria vencido outra prova com um JK,segundo informações do Ricardo Penta que esteve presente nesta prova e confirmado pelo Tom Villas Boas, que também esteve presenta na prova e que afirmam que houve uma corrida com 15 JKs e eles foram sorteados para diversos pilotos e o vencedor foi o Chico Landi, carros estes que têm tudo a ver com a cidade, por isto, a imagem no filme abaixo com o Chico Landi sendo carregado por populares.
Além destas provas, houve uma outra num circuito oval que saía da rodoviária, fazia o retorno perto da Catedral e retornava, vencida por um Aero Willys.
Portanto, o vencedor da prova principal não foi o Chico Landi e sim o Jean-Louis Lacerda Soares (até que provem o contrário), o qual faz um relato interessante sobre esta prova e os conselhos que recebeu nos bastidores de um hotel do grande Juan Manuel Fangio de como teria que fazer para vencer a referida corrida.
Jean-Louis, em 1960 teve sua estréia nas pistas pilotando uma Ferrari Monza. Com a Testa Rossa, venceu a prova em um circuito de rua na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e o "Grande Prêmio Presidente Juscelino Kubitscheck", prova que integrou as comemorações oficiais da inauguração de Brasília “O circuito era sem graça, mas foi uma corrida muito especial pelo momento histórico e também porque recebi o troféu das mãos de Juan Manuel Fangio”, recorda.
Jean-Louis também disputou a Mil Milhas Brasileiras por duas vezes em parceria: uma com Chico Landi em uma carretera Chevrolet e outra com um Fiat com Emilio Zambello. Parou de correr em 1962.
Vejam o filme e o relato Jean-Louis Lacerda Soares ,que é grande, mas vale a pena.
A Ferrari Testa Rossa
O RELATO DO JEAN-LOUIS LACERDA SOARES:
"Nunca imaginei que a história da minha Ferrari 1958 pudesse interessar a mais do que dois ou três amigos durante um jantar. Mas, pensando bem, acho que de fato ela é, no mínimo, original e com um desfecho que supera qualquer fantasia.
Com ela participei da corrida que fez parte dos festejos da inauguração de Brasília, em abril de 1960. Ou melhor, embora disputado nas avenidas de um Plano Piloto ainda em obras, o Grande Prêmio Presidente Juscelino Kubitschek era seu principal evento. Houve desfiles, convidados e autoridades do mundo todo e intensa cobertura nacional e internacional.
Na véspera, de casaca, participei do jantar de abertura oferecido pelo presidente no Hotel Brasília Palace, do qual o argentino Juan Manuel Fangio era o convidado de honra. Correndo de Alfa Romeo, Maserati, Ferrari e Mercedes-Benz, Fangio tinha acumulado a essa altura cinco títulos de campeão mundial. E eu, com 29 anos, tinha uns dois anos de experiência em provas oficiais no Brasil. Com a Ferrari Testa Rossa que pilotaria no dia seguinte na nova capital, eu tinha no currículo algumas vitórias, como o primeiro lugar no circuito de Pirajuí, no interior de São Paulo, e na Barra da Tijuca, um bairro à época ainda em construção no Rio de Janeiro.
Tive a sorte de me sentarem ao lado de Fangio. Ele, muito simpático, me contou sobre corridas, riscos que enfrentou, lealdade e deslealdade de adversários. Eu, embevecido, só ouvia. Terminado o jantar, ele sugeriu prosseguirmos a conversa no bar do hotel. E foi ali que ele me disse, com a maior naturalidade: “Se você quiser ganhar amanhã, eu te digo como.”
Ouvindo-o com a atenção que um aluno prestaria a uma aula particular de física dada por Einstein, só consegui dizer que sim, claro. Fangio continuou: “Tenha calma, deixe os outros passarem você com a afobação da largada e da briga pela ponta. Após dez ou doze voltas, ninguém terá mais freio, com aquelas retas enormes.”
Aqui, cabe uma explicação. Naquele tempo não havia freios a disco. Os freios eram a tambor e, quando esquentavam, perdiam eficácia. Tinham de ser poupados ao máximo. Fiz o que ele mandou. Apavorado, mas fiz. Fui deixando todo mundo passar e ficando para trás. E vendo meu pessoal no boxe fazer sinais de que não estava entendendo nada.
Até que, como Fangio previra, os outros começaram a frear cada vez mais longe das curvas. Alguns, quando tentavam frear mais perto, saíam da pista. E eu fui passando, passando, descendo uma reta, freando, passando para outra faixa, sem o menor esforço ou risco e... ganhei! Ou melhor, o Fangio ganhou.
A prova em comemoração a inauguração de Brasilia em 1960
Fui chamado ao palanque pelo presidente Kubitschek, que me agradeceu (Por quê?!) e me premiou com um relógio. Fui fotografado, entrevistado, abraçado, uma loucura. Os jornais e a tevê deram enorme destaque à notícia.
Para coroar, houve uma cerimônia nos estúdios da Rádio Nacional em que Fangio me entregou a taça! Ele me abraçou e disse: “Você tem mãos de profissional.” Me senti como um soldado raso a quem Napoleão, depois de uma batalha, tivesse dito: “Você é um bravo!”
Na hora não me dei conta de que, além de pentacampeão de automobilismo, ele era também um pentacampeão de gentileza. Assim foi a corrida, vencida por quem não participou dela, num circuito sem qualquer característica que o torne remotamente merecedor do nome.
Atualizando: depois de rever o video várias vezes e fazer a comparação entre os carros, acredito que a Ferrari pilotada pelo Jean Louis é a que eu extraí do próprio video e nº 80 e não 81, comparando com a amarelinha restaurada e vendida por mais de dez milhões de dólares.
Jean-Louis Lacerda Soares (carro 80), liderando o "Grande Prêmio Presidente Juscelino Kubitschek" em 1960. Arquivo: Jean-Louis Lacerda Soares
Agora vamos ao desfecho, que é o destino daquela Ferrari 250 Testa Rossa Pontoon Fender, uma história que nem mesmo o maior dos mentirosos teria coragem de inventar.
Tive, na minha escuderia, duas Testa Rossa. Quando parei de correr em 1962, vendi a que me restava por 2 mil dólares – equivalentes, em dinheiro de hoje, a pouco mais de 14 mil dólares. Logo depois, um rapaz a partiu em duas contra um eucalipto em Interlagos. O motor foi parar num barco. O chassi e o resto da carroceria, num canto de garagem.
Normalmente a história terminaria aqui. Mas não com a Ferrari. Alguns anos depois, recebi o telefonema de um senhor, que disse estar à minha procura fazia tempo. Ele havia comprado o motor, o chassi, o que havia sobrado da carroceria e recuperado o carro. E me perguntou se eu tinha alguma prova ou documentação que identificasse a Ferrari como sendo uma Testa Rossa, pois sua suspensão traseira era diferente. Sim, respondi, era uma suspensão De Dion, instalada a meu pedido, por ser mais adequada aos circuitos brasileiros.
Eu lhe disse que tinha fotos e textos de jornais confirmando o pedigree. Como eu iria a Paris dali a pouco, levaria comigo a papelada. O interessado era gerente do Berkeley, um centenário hotel de cinco estrelas em Knightsbridge, Londres, e me agradeceu efusivamente (logo veremos que tinha razões para isso). Convidou-me para ir a Londres, para conversarmos.
Aceitei. Lá chegando fui instalado numa suíte do tamanho de um aeroporto, e fomos jantar. Ele contou que iria tentar certificar a Ferrari como Testa Rossa – quer dizer, “Cabeça Vermelha”, porque vermelha era a cor com que a Ferrari passara a pintar a tampa do motor – e explicou que, uma semana antes, uma delas fora vendida pela Christie’s, em Monte Carlo, por 800 mil dólares! Se conseguisse...
Passados quase cinquenta anos do Grande Prêmio de Brasília, os jornais de 2009 noticiaram a venda de uma Testa Rossa igual à minha no leilão “Leggenda e Passione”, em Maranello, o berço da Ferrari no norte da Itália. Fora arrematada por 11 milhões e 400 mil dólares, batendo todos os recordes mundiais em leilões de automóveis. E isso, sublinhou na época o leiloeiro, “em meio a uma das piores recessões econômicas desta era”.
Tratava-se de uma Ferrari Pontoon Fender, mesmo modelo que passei adiante com deságio de 81 400% nos anos 60, e do qual apenas 21 exemplares foram produzidos pela fábrica italiana na época em que os pilotos amadores começavam a ceder lugar nas pistas aos corredores profissionais, contratados por grandes marcas e apoiados por patrocínios estratosféricos. Era “um carro de Fórmula 1 com para-lamas”, segundo seu designer Sergio Scaglietti, autor de várias outras carrocerias clássicas da Ferrari.
O nome Pontoon Fender vinha dos para-lamas dianteiros criados por Scaglietti, salientes como flutuadores de hidroavião. Pelos critérios da RM Auctions, o leiloeiro de automóveis para colecionadores que vendeu a Testa Rossa recordista, trata-se de “um dos mais belos desenhos automotivos de todos os tempos”.
Desde o ano passado, contudo, vejo que no catálogo da mesma RM a frase acima descreve a Testa Rossa número 0738/TR – a “minha” Ferrari.
Ela voltou a ser amarela. Não traz mais no capô o emblema da Escuderia Lagartixa (pronuncia-se “largatisha”, segundo o catálogo). Lagartixa foi meu apelido de corredor, antes que eu passasse a me inscrever nas provas com o nome de batismo.
Aqui a Ferrari Testa Rossa que pertenceu ao Jean num festival de A 250 TR (0738TR)no Goodwood Revival em 2007.
Parece nova em folha, depois de rodar várias décadas como Ferrari GTO cupê.
Recuperou a carroceria de Scaglietti, refeita à mão nas oficinas do restaurador David Cottingham, da Inglaterra. “Não dá para superestimar o quão original e intata esta Ferrari se encontrava antes da restauração”, ressalta o catálogo da RM.
A 0738/TR foi a leilão no ano passado em Monterey, na Califórnia. Recebeu uma oferta de 10 milhões e 700 mil dólares. Mas a RM se recusou a bater o martelo por menos de 12 milhões de dólares.
Realismo mágico é isso aí".
Obs: Blog é um somatório de informações. Como foi uma prova realizada a mais de 50 anos, quem tiver informações para somarem a este post, agradeceria.
(o texto me foi encaminhado pelo Ricardo Melo e extraído da Revista Piauí(fotos, reprodução, Vídeo You Tube)
Que bela história!
ResponderExcluirBelíssima história, Jovino! Certamente daria um filme daqueles "campeões de bilheteria".
ResponderExcluirE cada vez mais me impressiona o valor que as coisas antigas tem nos dias de hoje.
Seria isso uma prova de que realmente o mundo era melhor e está cada vez pior?!?!
Abraços
Concordo Francis. Cada vez mais que descubro estas raridades, mais admiro o automobilismo antigo.
ResponderExcluirAgora, ainda persiste a dúvida: qual dos carros seria o pilotado pelo Jean Louis, pois a extraída do vídeo é a mesma amarelinha restaurada e diferente da nº 81 que eu achei no blog do saloma.
Jovino
Ufa! que história.
ResponderExcluirmas tem coisa interessante para acontecer proximamente e ainda não é hora pra comentar. No momento próprio; no momento próprio...
A diferença entre o preço de venda e o do leilão é abissal. como é que pode?
abs Jovino...
Diga Regi. Agora você me deixou curioso!!! O que será! Alguma Ferrari que estava escondida e que apareceu?
ResponderExcluirJovino
tal como seu post acima, também não posso comentar. Ainda....
ResponderExcluirEstas máquinas são muito legais, são coisas que hoje não são mais tão necessário e preservar suas fotos, estilingues geralmente usados em muitas borracheiro fotos dessas obras de arte para exibição.
ResponderExcluirO vencedor da prova de Mecanica Nacional foi o Ciro Cayres.
ResponderExcluirA historia está bastante completa, mas a meu ver falta um momento desta Ferrari que passou meio "batido". Por volta dos anos 70 esta Ferrari foi totalmente modificada e transformada numa GT 250 com carroceria fechada e pintada de vermelho. Ela pertenceu a um rapaz milionário filho da icônica socialite carioca Bekh Klabin. Como ele não corria com ela (só a tinha por prazer), emprestava para alguns jovens pilotos que a usaram no então Autódromo do Rio de Janeiro, mais tarde Autódromo Nelson Piquet e hoje não mais existente.Eu era conhecido dele (esqueci seu 1o. nome) e a vi algumas vezes em sua garagem num prédio da Av. Atlantica no Rio. A traseira era curva, mas ele mandou reforma-la mais uma vez, transformando a traseira na forma "truncada" como era mais comum. Esta Ferrari está hoje modificada novamente para seu formato original aberta como nos tempos da Equipe Galgos Brancos da qual fez parte também Chico Landi e cores da época. Bom lembrar que antigamente os carros de competição antes dos patrocínios de marcas corriam com as cores do seu país e no caso do Brasil as cores oficiais eram amarelo com apliques em verde (faixas, ou a tampa do motor e da mala) Ela pertence ao brasileiro Sergio Monteverde , com a qual disputa algumas provas vintage na Europa (como nas fotos acima) apenas para dar mais "qualificação" ao carro, que por algum processo de "antiques" que eu não conheço muito bem a valoriza mais ainda. Monteverde é herdeiro das lojas do Ponto Frio, filho de Lili Safra atual maior acionista do banco que tem seu nome. Segundo matérias já publicadas ele não vende o carro por menos de 20 milhões de dólares.
ResponderExcluirOi, quem fez as modificaçoes na carroceria foi o Paulo Cesar Newlands que a comprou de mim. A traseira ja era truncada, pois a carroceria Drogo era igual a da GTO 1963. Enquanto me pertenceu, nunca emprestei a ninguem, quem participou de corridas com ela foi o antigo proprietário Camilo Cristofaro, e mais tarde o Newlands.
ExcluirUm fato curioso com esta Ferrari ocorreu em 1963, de acordo com o blog "Nobres no Grid". Informa a matéria : Em 1963 ocorreu uma disputa familiar que foi das pistas para bastidores. Camillo Christofaro correu naquele ano, e vencido, a prova “IV Centenário do Rio de Janeiro” pilotando uma Ferrari 250 GTO reformada pela Drago. Toda a polemica foi causada pelo chefe de equipe Simca, ninguém menos do que o tio – Chico Landi. Chico entrou com recurso alegando que a Ferrari vencedora originalmente era um GT e que havia sido enviada para a Itália e transformada, então seria agora um protótipo, após muita discussão o ACB acabou considerando o carro como GTO e manteve o resultado."
ResponderExcluirOi, quem fez as modificaçoes na carroceria foi o Paulo Cesar Newlands que a comprou de mim. A traseira ja era truncada, pois a carroceria Drogo era igual a da GTO 1963. Enquanto me pertenceu, nunca emprestei a ninguem, quem participou de corridas com ela foi o antigo proprietário Camilo Cristofaro, e mais tarde o Newlands.
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