Durante
muitos anos da minha vida freqüentei o bar Beirute. Lá era o bar Underground,
da contracultura brasiliense, onde se podia saborear as delícias árabes e tomar
umas cervejinhas e encontrar com a galera, botar os papos em dia, e que ficava
lotado, principalmente, nas sextas feiras, com suas mesas e calçadas cheias de
gente freqüentado pelo mais eclético público e ideologias sociais, culturais e
econômicas, tanto daqueles simpatizantes de esquerda, como os da chamada
direita.
CARROCEIROS
NO BEIRUTE
Lá
foi quando juntamente com uns amigos malucos nos saudosos anos 70 pegamos
emprestado uma carroça de uns carroceiros que ficavam ali próximo ao parque da
água mineral. Os carroceiros bebiam muito e nós, espertamentes, levamos umas
garrafas de pingas para eles e conseguimos depois de muitas doses da branquinha
convencê-los a nos emprestar uma das carroças para darmos uma pequena volta ali
pelas redondezas.
Acontece
que fomos nos animando e a voltinha começou a ficar grande demais. Passamos da
residência do Tonico Maluco e ele pegou um enorme rádio a pilha todo cromado,
daqueles de não sei quantas faixas, todas AM. Sintonizamos numa rádio bem brega
e fomos para o Beirute lá pelas 10h da noite.
Chegamos
lá ao som de Jane e Herundy, ícones
bregas românticos da época com o hit muito tocado naquele momento "Não se vá". Num bar bem eclético, mas predominantemente de rockeiros, ficamos um pouco
apreensivos com a receptividade deles para conosco, mas quando viram a carroça
puxada pelo "Rogério", apelido dado ali no momento para o sofrido eqüino,
todos adoraram a bela surpresa e ficamos por lá por algum tempo batendo papo
com a galera e tomando umas (não havia bafômetro para condutores de carroças na
época) e pudemos nos divertir bastante até tomarmos rumo de volta para casa.
A VISITA AO GENERAL DA CENSURA.
O cartunista Jaguar foi convocado pelo chefe da censura
para vir a Brasília. Aliás, convocado não, intimado pelo general e ele veio com
as piores informações possíveis, de que Brasília era uma cidade horrorosa, que
não tinha bares, nem esquinas, e ele foi falar com o general que lhe disse que
só podia atendê-lo em 4 horas. Aí, Jaguar se perguntou: o que eu vou fazer em 4
horas em Brasília!! Resolveu pegar um taxi e ficou rodando pela cidade e falou
com o motorista: não é possível, que eu, como biriteiro, não encontre nenhum
bar legal nesta cidade!!! E o motorista o levou para o Beirute. Ele adorou o
bar e quando foi visitar o general ele estava completamente de porre de chope e
steinhagen. O general só queria dar um esporro nele dizendo que ele Jaguar só mandava
matérias censuráveis e que ele sabia que seriam cortadas e o porque que ele não
fazia a auto censura!! Aí o Jaguar lhe respondeu: este problema é do senhor
general e não meu! E o general retrucou dizendo que além de tudo o senhor está
completamente bêbado!!! Então Jaguar lhe respondeu: claro!! O senhor me mandou
esperar 4 horas e o que iria fazer nesta cidade!!! Tomei um porre no Beirute
mesmo. Maior foi a surpresa de Jaguar quando o general lhe disse que ele também
freqüentava o Beirute.
Enfim, estas são algumas das muitas
histórias deste bar que é um dos mais tradicionais de Brasília e que está no documentário
abaixo sobre uma das entre quadras mais tradicionais de Brasília, a 108/109
sul, com depoimentos de artistas, músicos e frequentadores.
Veja o vídeo abaixo que vale a pena.
O Beirute, o Arabesk eram uma bagunça só. É o que tínhamos a época. Muita bicha e pouca mulher. Sinto saudade, do local e da minha juventude. O Marcão Adrenalina se foi, morreu. Estávamos brigados, motivo: eu sempre bêbado nas noites.
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