quarta-feira, 21 de julho de 2010

REMINISCÊNCIAS BRASILIENSES - NOITE DE SENSAÇÃO

Quem que já passou dos 50 anos e se lembra de Alcides Caminha?
Ele ficou quase quarenta anos no mais absoluto anonimato, escondido atrás do pseudônimo de Carlos Zéfiro. Um nome que podia ser traduzido tranquilamente por sacanagem. Ele é o criador das cobiçadas histórias em quadrinhos de cunho erótico que ficaram conhecidas por "revistinhas" ou "catecismos", que tanto fizeram a cabeça e as fantasias sexuais dos adolescentes dos anos 50, 60 e 70.
Em 1970, durante a ditadura militar, foi realizada em Brasília uma investigação para descobrir o autor daquelas obras pornográficas que chegou a prender por três dias o editor Hélio Brandão, amigo do artista, mas que terminou inconclusa.
Ele foi o mestre dos quadrinhos pornôs brasileiros.
Carlos Zéfiro, soube como ninguém, retratar o sexo como ele o é na vida real, sem falsos pudores, sem hipocrisia, com tesão, com poesia, não respeitando nenhum tabu e desvendando-nos todas as fantasias.
Em 1992 recebeu o prêmio HQMix, pela importância de sua obra. Após sua morte teve um trabalho publicado como homenagem póstuma em 1997 na capa e no encarte do CD "Barulhinho Bom" da cantora Marisa Monte.



Abaixo, minha pequena história quando eu e um amigo tentamos produzir tais revistinhas lá pelos idos da década de 70.
Na minha adolescência, o que rolava em termos de revistas de sexo para inspiração dos moleques daquela época era a revista do Carlos Zéfiro, pois quando pintava uma era cobiçada por muitos e valia uma grana.

Até que um dia, eu e meu inseparável amigo Barbosinha tivemos a brilhante ideia de produzirmos as nossas revistinhas e faturarmos um troco.
Unimos a criatividade do Barbosinha, um carioca cheio de gírias e conversas e o meu talento em desenhar e montamos o nosso estúdio improvisado lá em casa e começamos a desenvolver as histórias e os desenhos. Passávamos longas noites criando as histórias e eu colocando todo o meu precoce talento par funcionar.

Depois de alguns meses, a revistinha ficou pronta, mas teríamos que produzi-la em grandes números para podermos botar a nossa editora de fundo de quintal para faturar.
Um amigo, que também fazia parte do nosso grupo, o famoso Braz, que pegava a chave escondida do fusquinha 72 mil e trinca verdinho do seu pai a noite para a gente dar os primeiros peguinhas na asa norte, eu, como piloto, nos propôs adentrar a sala do colégio da quadra onde ficavam os mimeógrafos e fazermos as cópias para o nosso produto poder ser colocado no mercado consumidor dos punheteiros da 312 norte e adjacência .


E a expectativa já era grande, pois o Braz, nosso estrategista mostrou uma prévia da revistinha para algumas pessoas e a receptividade já era muito boa pela quadra e eles já estavam curiosos para adquirirem tal produto e o nosso grande teste seria deixar, sem querer querendo, o único exemplar com o zé broinha, pois o cara dedicava boa parte do seu dia trancado no banheiro de sua casa.
Conversamos com o Braz e ele nos contou que já havia passado a revista para o teste final para o Zé broinha e ele subiu para o seu apartamento e estava demorando muito tempo. Aí, nós resolvemos também subir até o seu AP para falar com ele. Mas quando chegamos, sua mãe disse que ele estava trancado no banheiro e não saía de jeito algum, inclusive, sua irmã, estava precisando usar o banheiro, e nada, o cara continuava lá dentro e só saiu quando seu pai quase arrombou a porta do banheiro.


Descemos todos do apartamento e o Zé Broinha já estava exaurido e meio pendente para o lado direito de tanto usar aquela mão e o nosso teste final havia dado certo.
Algumas formas de se conseguir recursos para grana para as festinhas e outras aprontações, pois não tínhamos pais que dessem mesadas (a não ser as próprias nos lombos da gente) era a de matar aulas ou irmos a pé para o CAN (colégio da asa norte) na L2 norte e guardar o dinheiro da passagem e depois comprar pinga e misturar com coca cola e irmos para as festas das redondezas.
Já estávamos antecipadamente fazendo os cálculos dos rendimentos da nossa empreitada e numa noite depois que o colégio da quadra já havia encerrado as aulas noturnas, o adentramos, e o Braz, que era o mais abusado e o menor da turma foi o escolhido por livre e espontânea pressão para pular a janela. Forçamos a vidraça e ele entrou na sala onde estavam os mimeógrafos e o Braz constatou que o serviço ali seria fácil de ser executado.
Marcamos para a noite seguinte para fazermos as cópias mimeográficas lá dentro da sala do colégio, mas pela manhã, a triste notícia: Dona Etelvina, mãe do Barbosinha (uma religiosa convicta) havia descoberto o único exemplar da nossa revistinha “Noite de sensação” debaixo do colchão do Barbosinha e o transformou em mil pedacinhos, sobrando apenas alguns restícios de papel que o Barbosinha nos levou tristemente para comprovar a tragédia não anunciada e aí o nosso destino de futuros empresários do setor literário masturbatício, havia se encerrado prematuramente e o Carlos Zéfiro pode reinar absoluto.


(Fotos dos desenhos, reprodução)

10 comentários:

  1. Olá Jovino,

    Quer dizer que você também tinha esse dom de colecionador??? Ficavam escondidas debaixo do tampo da mesa da sala???rsrsrs
    Eta juventude transviada!!!!!
    Abraços

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  2. ANônimo, saia do anonimato.
    Isto era uma febre que se alastrava em todas as quadras de brasilia naquela época. Muitos, estudantes, bem lembrado por você, escondia a tal revistinha debaixo da mesa ou dentro dos cadernos e ficavam totalmente fora do ar. Aí o professor dava aquela bronca e o cara voltava a realidade.
    Momentos bons.
    Jovino

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  3. Estas revistinhas de sacanagem na epoca eram o maior sucesso, e não eram só os adolecentes que gostavam não a rapaziada mais velha tambem via direto, eram muuito boas mesmo e as istoria nem se fala.....

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  4. Luby,grande pumeiro.
    No ano passado, descobri um site que você baixava algumas destas revistinhas. Copiei e fiz uma e dei de presente para um amigo que fazia aniversário.
    Fiz um belo presente e o cara foi abrindo e criando-se uma expectativa, pois ninguém imaginava que o presente seria este. Quando abriu finalmente, a bela surpresa e risos de todos e não é que ele disse que foi o melhor presente da festa. É só usar a criatividade, conhecer um pouco do agraciado, que era um tremendo de um aprontador na época, que a gente agrada.
    Jovino

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  5. Gostava muito de ve-las principalmente no banheiro rsrsrsr
    grande abraço

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  6. Qualquer um que passou dos 50 sabe bem como era dificil convencer o jornaleiro a vender uma dessas. Cobravam caro e a molecada se ralava pra juntar a grana.
    Quer dizer então que vc também tentou produzir material "educativo " é?
    Só não fiz por absoluta falta de talento pro desenho.
    hahahahahahah.
    putz! que época!

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  7. Regi, mas esta época é muito bacana. Semana passada, este meu amigo que mora hoje no Paraná veio a Brasilia e imagina as recordações das aprontações da gente naquela época. muitos risos.
    Jovino

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  8. Caraca arranjar um desses catecismos era a coisa mais negociada/misteriosa da época ... velhos e bons tempos ... engraçado que os enredos fazem efeitos até os dias de hoje .. não abro mão !! hehehhe

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  9. Uma vez um ex-chefe me deu um livrinho encadernado, com a coleção do Carlos Zéfiro!!!!

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