quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Tiro pela culatra salva autódromo de Goiânia


Quem viu o governador de Goiás, Marconi Perillo, sorrir com a boca cheia de dentes ao lado de Felipe Massa na última quinta-feira, enquanto autorizava o início das obras de reforma do autódromo de Goiânia, sentiu-se aliviado. Afinal, é mais um sinal de vida para uma praça que esteve muito perto de ser riscada do mapa.
Aqueles com memória um pouco mais acurada, entretando, lembrar-se-ão que o mesmo chefe do Executivo goiano apresentava, exatamente um ano, dois meses e 22 dias antes, o mesmo riso colgate em seu rosto ao rubricar outro documento, no caso um projeto de demolição do atual circuito da capital e a construção de um novo, no município de Senador Canedo.
 
Vista aérea do autódromo de Goiânia (Divulgação/F-Truck)Vista aérea do autódromo de Goiânia (Divulgação/F-Truck)

O plano mostrado à época era tão simples quanto utópico: vender o terreno da pista existente e usar o dinheiro arrecadado para erguer uma novinha em folha, com uma estrutura bem mais ampla. Conforme o link colocado acima mostra sem deixar mentir, a cerimônia contou até com a presença de Hermann Tilke, aquele mesmo alemão conhecido por projetar suntuosos, modernos e (para muitos) enfadonhos autódromos que recebem a F1 por alguns anos, geram mais alguns zeros na conta bancária de Bernie Ecclestone e depois viram gigantescos elefantes brancos.
 
Se há tão pouco tempo era este o “sonho” de Perillo, o que fez o governador mudar de ideia tão repentinamente e resolver apostar numa praça que até então vinha sendo deixada à míngua (principalmente em tempos nos quais ele tem de se preocupar com uma cachoeira de questões acerca de suas relações de poder)?
 
A resposta é que o tiro do governador saiu pela culatra. A autoridade tinha tanta certeza de que haveria uma fila de compradores para o terreno do atual autódromo, que já saiu trazendo Tilkes da vida e prometendo prazos de “24 meses” para a conclusão das obras do novo circuito. Leia bem: conclusão, não início.
 
Conforme apurou o Tazio em dezembro do ano passado, o projeto da pista de Canedo vinha sendo amarrado por uma série de nós górdios. De um lado, estava a família do doador do lote do circuito original, que ameaçava reaver a posse da propriedade na justiça, já que o contrato de cessão, assinado nos anos 70, previa a obrigatoriedade do uso do local para fins públicos. Do outro, a própria sociedade goiana e a oposição PSDB, alegando que a única finalidade do projeto era estimular a especulação imobiliária na região.

Todo de preto, Hermann Tilke observa Marconi Perillo autorizar a elaboração de um novo autódromo em Senador Canedo
Todo de preto, Hermann Tilke observa Marconi Perillo autorizar a elaboração de um novo autódromo em Senador Canedo
 
Diante de tantas dúvidas, não houve quem quisesse investir em uma bomba relógio. Pelo menos não pelo valor pedido: de R$ 150 a R$ 180 milhões. Ao Tazio, o presidente da Agel (Agência Goiana de Esporte e Lazer), José Roberto de Athayde Filho, admitiu ter recebido ofertas pela compra do lote, porém nenhuma a um preço satisfatório.
 
O mais interessante é como o discurso se alterou ao longo dos meses. Em dezembro último, afirmava-se que, apesar das dificuldades, o plano seria levado adiante, desde Tilke apresentasse o seu projeto, que estava em atraso. Agora, a informação oficial é de que em nenhum momento o alemão foi contratado, tendo sido apenas “consultado” para a viabilidade da obra. “Ainda não há um projeto pronto e só poderemos fazer um quando o terreno da outra pista estiver negociado pelo valor que queremos. Também não houve nenhuma despesa com o Hermann, mas ele pode vir a ser contratado caso o novo autódromo saia”.
 
Desenho do autódromo de Senador Canedo, que teria o mesmo traçado do original em Goiânia
Desenho do autódromo de Senador Canedo, que teria o mesmo traçado do original em Goiânia
larou Athayde Filho.

Ou seja: os prazos e as certezas do plano divulgado há mais de um ano já não existem e o assunto “autódromo de Canedo” tende a cair um pouco mais no esquecimento a cada dia.
 
No fim das contas, isso só proporciona ganhos ao automobilismo local. Após um período nebuloso e permeado pelo receio de que somente a primeira parte do tal projeto seria cumprida, Marconi Perillo foi vencido pelo cansaço e constatou que não adiantava viver de um “sonho” mirabolante, enquanto a realidade continuava ali, cada dia mais deteriorada.
 
Conforme anunciado, devem ser investidos R$ 4 milhões para arrumar a pista – incluindo a troca de todo o asfalto, o item que gera mais reclamações na pista -, mais R$ 1 milhão para reformar a área dos boxes. A promessa é que a obra esteja concluída em quatro meses. Para nós, fica a esperança de que, desta vez, o governador vá além dos sorrisos e cumpra aquilo que assinou, para que o autódromo de Goiânia volte a ser presença fixa na rota das principais categorias brasileiras.
 
Caminhões de evento promocional da F-Truck alinham no grid da reta principal em Goiânia
Caminhões de evento promocional da F-Truck alinham no grid da reta principal em Goiânia

     Reprodução do Blog do Tazio.

6 comentários:

  1. Grande notícia, Jovino. De parabéns o automobilismo brasileiro. Como vencedor, junto com Marivaldo Fernandes (Maverick Quadrijet) da primeira prova de Turismo do autódromo, a 12 Horas de Goiânia, em julho de 1974, regozijo-me com os goianos por esta solução, um autêntico milagre.
    Grande abraço!

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  2. Você tem razão Bob. Milagres não acontecem todo dia e o destino do autódromo de Goiânia estava para ter o mesmo fim do que teve o do Rio de Janeiro. Mas apareceu uma luz no fim do túnel. Jovino

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  3. Jovino, infelizmente aqui não estamos entendendo da mesma forma. Esta reforma está prometida há muitos anos. A pista já foi fechada, para reforma outras vezes e nada aconteceu. O temos dos pilotos goianos, é que a pista fique fechada, sem reforma, até a estrutura ficar tão sucateada, que não será mais possível recupera-la. Existe um calendário de provas de Turismo, Arrancada e Motovelocidade, que já está sendo cancelado sumariamente. As provas estão acontecendo devido a intervenção do MP, e mesmo assim com muitas restrições. O valor anunciado para reforma, levando-se em consideração o que será realizado, não fecha a conta. Vai ficar muito mal feito. A pista não necessita de troca de todo asfalto. Apenas refazer de forma correta as partes mais críticas das curvas. Rezo para que esta interdição do Autódromo de Goiânia, não seja o fim desta pista, onde cresci, corri e vivi alguns dos melhores momentos da minha vida. Não se precipite ao afirmar que esta reforma acontecerá. A especulação da área mesmo com todos entraves é muito grande. Abraço meu amigo e obrigado por publicar esta matéria.

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  4. Piero, sempre tenho contato com os pilotos aqui de Brasília e que estão correndo a copa do centro oeste de marcas e pilotos. Sei que a situação não é fácil, mas vocês que estão vivenciando diretamente o que está acontecendo com o autódromo goiano tem que denunciar para que todos possamos sabermos da realidade desta pista. Coloco o blog ao dispor de vocês quando quiserem fazer alguma coisa. Semana que vem estarei no autódromo aqui de brasília organizando o Track Day de carros antigos para tentarmos através destas provas, criarmos ano que vem a nossa Classic Cup. Abs. e obrigado por se manifestar aqui. Jovino

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  5. Bela matéria Jovino, mas é mesmo sempre bom ouvir os locais como o Piero Baiocchi, que já estão cansados das artimanhas desses políticos...

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  6. Eu já vi muito picareta nesse mundo mas igual a esse, tá pra nascer ! Jovino, faço das palavras do Piero, as minhas. Essa coisa do autódromo parece com a história do nosso finado Estádio Olímpico que foi demolido para a construção de um Centro de Excelencia. Sabe o que aconteceu? Existe um grande buraco no local que serve apenas como criadouro de mosquito da dengue, todo ano é a mesma coisa a mesma promessa. Não acredito na reforma do autódromo! Abraços e parabéns pelo blog.

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