Tenho um amigo que comia, bebia e se vestia de rock and roll. Lá pelos idos dos anos 70, trabalhava a semana toda fantasiado de funcionário público e vestia calça de tergal, camisa social com sapato todo brilhando e cabelos bem penteados e tinha um comportamento típico de funcionário dedicado que cumpria o horário, era eficiente na execução de suas tarefas diárias e chegava cedo em casa para, no dia seguinte, dar continuidade à sua jornada semanal de trabalho.
Concerto "Cabeças" na 307 sul nos idos dos anos 80. Brasília tinha uma atividade cultural muito forte onde haviam shows musicais e teatrais. O Tonico é o sem camisa ao meu lado |
Mas quando chegava sexta feira, o cara se transformava e ele se vestia de "Hipponga de AP" soltava os cabelos que ficavam amarrados a semana toda, vestia a sua surrada calça Lee comprada na Zona Franca de Manaus, camiseta remendada e saía em busca das festas pelas redondezas da Asa Norte e do Lago Norte levando a tira colo um montão de vinis de puro rock and roll, com predileção pelas bandas de rock pesado, como eram chamados naquela época.
O seu nome, Tonico, o "Tonico Maluco", super gente boa, uma criança no tratar com as pessoas e torrava grande parte do seu salário na compra de discos vinis e os escolhia pelas capas deles, nunca pela qualidade, pois quanto mais louco e psicodélica fosse a capa, mais lhe agradava e a cada 10 discos comprados por ele, apenas uns dois se salvavam.
Passou mechas loiras em seu cabelo antecipando à onda Punk mesmo sem saber e antes dela chegar ao Brasil e assustavam as pessoas com o seu visual incomum.
Mas uma vez fomos a Discodil, discoteca que ficava no Conjunto Nacional de Brasília e que foi o primeiro shopping construído em Brasília onde os jovens da época circulavam a procura das cocotinhas soltas.
Pela primeira vez o Tonico resolveu comprar um disco de artista brasileiro, o que era inconcebível para ele naquela época.
O meu Simca Tufão 65 que, depois de selecionarmos os discos preferidos, os gravávamos em fita K7 e as ouvíamos no TKR auto reverse com cara cromada |
Mexeu, fuçou todas as gôndolas de discos, passeou pelas seções de rock, e, surpreendentemente, foi até a seção de MPB e escolheu um disco com capa bem envelhecida retratando um jovem, fugindo das características que ele gostava.
Concretizada a compra, fomos ouvir a novidade e eu imaginava que se tratava de mais algum disco sem nenhuma expressão, pois nunca havia ouvido falar em tal artista.
Colocamos-o para rodar no Garrard Gradiente máscara negra e aos poucos fomos ouvindo as faixas e começando a gostar daquela novidade para nós.
O Rack com o Gradiente Máscara Negra com os potentes 180 wats para a época que guardo até hoje juntamente com uns vinis daquela época e que funciona perfeitamente. |
O artista, Beto Guedes, o mineirinho com voz de menino chorão encantou a todos nós rockeiros e logo fomos participar a novidade para a turma, embora alguns rockeiros e rockeiras mais radicais não aprovassem a ideia imediatamente, mas aos poucos foram cedendo e pedindo o vinil para ser gravado.
O vinil é esta aí: "A página do Relâmpago Elétrico" |
Depois, com o sucesso do disco, o Beto Guedes lançou outros e entre as músicas que fez muito sucesso, destaco "Sol de primavera", paixão maior das menininhas na flor da idade e que ouviam a música até "furar o disco".
Infelizmente, as drogas entraram em sua vida e quase acaba com ela. Perdeu o convívio com os filhos, a mulher separou-se dele e ele veio afundando cada vez mais, envolvendo-se com pessoas erradas e foi internado algumas vezes. Embora tente se livrar de tudo isto, existem pessoas que param no tempo e continuam sonhando como se estivessem ainda no passado, passado este quando ousamos sonhar em sermos um pouco parecidos com os nossos ídolos e quando tínhamos amigos verdadeiros.
Como estamos em plena primavera, Sol de primavera, a bela canção que encantou muita gente naquela época.
Tonico e sua Intruder 1400 a uns 7 anos atrás e sua filha e minha afilhada Jackeline |
Jovino e Tonico, tive o prazer de ver e viver esses tempos, embora não tivesse a idade. Mas posso afirma com certeza, que vocês ajudaram a fizer a minha cabeça. Uma vez, teve uma festa nas 700, mais ou menos na 714, era uma casa atrás do comércio da w3, eu fui com meu tio Nil e me lembro de uma performace maravilhosa do Tonico. Muito louco, o que era normal, ele dançava alucinadamente. É pena que não tinhamos tecnologia portátil na época para registrar, mas nos HDs da minha memória, esta imagem ficará eternamente. "Vida longa e louca para o Tonico".
ResponderExcluirPois é Cacá. Você falou no Nil e o que eu e ele aprontamos nestas festinhas dá para escrever um livro. O Nil descolava as festas e e me chamava, com um certo interesse, pois ele sabia que eu tinha carro e a gente unia o útil ao agradável. Ms o Tonico continua do mesmo jeito, mas vivemos épocas maravilhosas em nossa juventude.
ResponderExcluirAliás, recebeu o meu email?
Jovino