Assisti a dois GPs de Formula 1 aqui no Brasil. O primeiro, foi em 1974 na inauguração do autódromo Internacional Nelson Piquet aqui em Brasília. Já contei uma pequena história. Quem quiser conhecer é só acessar AQUI.
Quando ele passava na liderança em frente às arquibancadas, jogaram tantos papeis picados que eles entraram na entrada de ar dos radiadores laterais e os entupiram e ele teve que parar duas vezes para retirar toda aquela sujeira que deram superaquecimento.
O outro foi em 1987, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
Na época, eu e o meu irmão Luis, participamos de uma excursão que saiu às 7h da noite de sexta feira e chegamos lá pela manhã de sábado e retornamos no sábado as 7h da noite com chegada em Brasília no domingo pela manhã, sem direito a dormir nestes mais de dois dias de viagem.
Mas depois deste GP do Rio, confesso, que nunca mais tive corágem de assistir um GP de Formula 1 aqui no Brasil.
No sábado, quando chegamos lá na praia de Copacabana, já começou o terror de como seria a nossa empreitada narrada pelos companheiros que conhecemos no ônibus da excursão.
Tínhamos que chegar lá no autódromo ainda no sábado pela noite para pegarmos o melhor lugar lá na arquibancada que era na parte superior, porque, senão, arcaríamos com as consequências de quem chegasse depois.
Às 10h da noite chegamos ao autódromo e já fomos para a fila para esperarmos a hora de abertura dos portões.
Haviam várias filas, acredito que mais de 20 enormes filas para a entrada no autódromo e todos nós sentamos no chão esperando que o dia amanhecesse para, às 7h ou 8h da manhã, quando abrissem os portões, nos adentrarmos para ficarmos lá na parte de cima da arquibancada.
Quando deu meia noite surgiu a notícia de que os portões seriam abertos e todo mundo se levantou e se espremeram para a entrada para as arquibancadas, o que acabou não aconteceu. Mas aconteceu uma guerra de garrafas. Um verdadeiro terror!!! As garrafas voavam de um lugar para outro sem destino certo, e nós ficávamos com as mãos nas cabeças com medo de que alguma pudesse nos atingir.
Isto durou uns vinte minutos, mas parecia uma eternidade, pois quando a gente menos esperava, poderia acontecer tudo novamente.
Ficamos praticamente em pé até bem cedindo quando abriram os portões.
Saímos apressados para as arquibancadas e parecia um bando de gados correndo para adentrar um pasto verde e se alimentarem. Conseguimos ficar na tão desejada parte superior da arquibancada e aí vimos o porque de todo o sacrifício para ficarmos no melhor lugar.
Ali era a arquibancada da muvuca, o setor, acredito, com ingressos mais baratos.
Os muvuqueiros levavam um verdadeiro arsenal de tudo que é tipo de porcarias que pudessem juntar como: tomates podres, laranjas, bananas, etc, e sacos que eles enchiam de urinas que eram recolhidas ali mesmo ao vivo e a cores e depois as atiravam no pessoal que chegavam mais tarde, uma verdadeira artilharia saindo de tudo que é canto para cima dos que tentavam chegar na parte superior da arquibancada.
Lembro-me que teve um daqueles japoneses (japoneses mesmos) que chegou com o amigo todo equipado, com bonezinho da formula 1 e máquinas de fotografias modernas.
Havia um líder da artilharia e ele comandava os outros de quando deveriam dar início ao ataque.
Até que o líder gritou em voz microfônica bem alta para os japoneses: "aí bonitões, tem um lugarzinho bem aqui para vocês!!! subam até aqui! Aí os ingênuos japoneses fizeram sinal de positivo e quando eles chegaram no meio da arquibancada, o líder deu sinal do início do ataque e saiu tiros de tudo que é canto da arquibancada: tomates podres, laranjas podres, chuchu, melancia, e sacos de urinas, saíram da esquerda, da direita, de cima, de baixo, tudo em direção aos coitados dos japoneses. Os caras ficaram ensopados destas porcarias fedorentas e cheios de hematomas. (imagina o que eles não pensaram no que estava acontecendo! Já tínhamos fama de selvagens e subdesenvolvidos, e ali era a confirmação de tudo isto para eles).
Após a corrida, esperamos a muvuca acabar e os baderneiros saíram, mas mesmo assim, quando estava pisando o último degrau da arquibancada levei uma porrada na nuca de alguns destes arsenais que me atingiu.
Comprei cinco garrafas de água mineral e me lavei para poder entrar no ônibus para voltarmos para casa.
MAS VAMOS À CORRIDA.
A grande estrela era o nosso ídolo Nelson Piquet e seu Williams Honda Turbo (se não me falha a memória, era o último ano dos motores turbos e já haviam alguns carros com motores aspirados que participaram desta prova).
O Nelson no Warmup parou o seu Williams em frente à nossa arquibancada e acelerou tudo e saiu rasgando os pneus deixando um marca enorme na pista. A galera foi ao delírio.
Esta mesma galera, durante a corrida, foi, indiretamente, a responsável por ele não ter conseguido vencer esta prova.
Piquet no GP Brasil de 1987
Quando ele passava na liderança em frente às arquibancadas, jogaram tantos papeis picados que eles entraram na entrada de ar dos radiadores laterais e os entupiram e ele teve que parar duas vezes para retirar toda aquela sujeira que deram superaquecimento.
Nisto, perdeu uma corrida certa e o narigudo Prost venceu mais uma vez com ele em segundo e Stefan Johansson na terceira colocação.
O Senna correu com o Lotus amarelo, mas não conseguiu concluir a prova, parando exatamente em frente à nossa arquibancada, ao lado dos boxes.
Mas antes da prova, tive o prazer de ver, ao vivo, um dos meus maiores ídolos, o argentino Juan Manuel Fângio dar algumas voltas com a Mercedes W196 S8 de 1955 e acelerando forte no autódromo de Jacarepaguá.
O vídeo, abaixo, mostra a formação do gride de largada, a volta de apresentação; a largada do GP; o momento em que Piquet entra nos boxes para retirar os papéis picados que estavam grudados na entrada de ar dos radiadores; o pit-stop de Nigel Mansell; a bandeirada de chegada para Alain Prost, vencedor da prova e o podium da prova, além do Fângio acelerando a Mercedes W196.
Veja todo este raríssimo vídeo que vale a pena.
Jovino,
ResponderExcluirsobre a corrida foi legal, pena que Piquet não venceu...
mas sobre o que vc passou eu vivi isso no ano anterior e nunca mais volta a Jacarepaguá... atitude lastimável desses vãndalos...
sempre vou em Interlagos e fico no Setor A e dificilmente eu vejo algo parecido e se ver pode ter certeza que quem o praticar irá preso...
valeu pelo relato...
abs...
Jovino, ri aqui sozinho de sua odisseia, que dureza!
ResponderExcluirSinceramente nunca imaginei que tudo isso acontecesse, muito feio.
Mas muito bom o seu relato!
Um abraço
André, pensava que isto só havia acontecido comigo num evento separado, mas, pelo o que você falou, já existia desde um ano antes.
ResponderExcluirRui, foi uma situação trágicocômica, pois enquanto a gente estava lá em cima, só viamos os caras que ficavam na parte de baixo levar as porradas e não adiantava tentar tirar satiscações, a turma lá era grande.
Agora imagina a situação: você bebe umas cervejas e depois não pode descer a arquibancada e ir ao banheiro, pois poderia acontecer duas coisas: a primeira era você receber toda aquele arsenal de porcarias em cima de você e a outra era a de conseguir ficar no mesmo lugar que estava. Então ninguém tirava os pés de onde estava.
Jovino
Belo vídeo Jovino, e a história é engraçada, mas não para quem estava lá com certeza!!!
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