quinta-feira, 9 de agosto de 2012

HISTÓRIA DO AUTOMOBILISMO BRASILEIRO - LUIZINHO PEREIRA BUENO

Um ótimo dia dos pais para todos os amigos que frequentam este espaço.

Muitos consideram Luizinho Pereira Bueno o maior piloto brasileiro de todos os tempos.
Eu mesmo tive o prazer de vê-lo correr aqui em Brasília AQUI na estréia e primeira vitória do Bino Mark II fazendo dupla com José Carlos Pace nos mil quilômetros de Brasília de 1968, e, posteriormente, no autódromo improvisado do circuito do pelezão aqui em Brasília com os Porsches 908 e  910 da equipe Hollywood.
Infelizmente, ele já nos deixou, mas o seu talento ficou marcado nas pistas brasileiras e estrangeiras.

A matéria abaixo foi publicada originalmente no site da FASP.

(O tempo não pára para aqueles que marcaram o seu tempo)

O Piloto Luiz Pereira Bueno - O Peróba

Por Carlos "Caneta 13" Coutinho - revisão Anisio Campos

- "Sabia que o vizinho da mamãe foi corredor de automóvel?"

Eu, claro, perguntei o nome do corredor. Minha mulher, claro, não sabia. O pior é que na época minha sogra morava em São Paulo e estava sem telefone, então fiquei sem saber o nome dele. O tempo passou. Esqueci a história. Muito tempo depois, em São Paulo, descíamos no elevador, eu, minha mulher, minha sogra e um senhor. Foi quando minha sogra disse pra mim: "Carlos, este aqui é o meu vizinho."


Luis Pereira Bueno no Rio de Janeiro, autódromo de Jacarepaguá em foto do Piloto Sidney Cardoso

Eu falei muito prazer, o vizinho também, e ficaria tudo por isso mesmo se minha sogra não tivesse insistido: "Carlos, este é o meu vizinho - aquele que eu falei que tinha sido corredor de automóvel, lembra?" Então caiu a ficha e eu lembrei da história do vizinho que era corredor de automóvel. Olhei para ele, meio sem graça; afinal, eu não o estava reconhecendo. Ele sorriu de volta pra mim com simpatia e compreensão, e minha sogra continuou: "Você deve lembrar dele, Carlos. O seu Luiz."


Luiz Pereira Bueno sobreesterçando sua Berlineta nos 500 Km da Barra da Tijuca - na Av. Sernambetiba - 1965

Meu Deus, eu pensei, claro que eu lembro! Eu era um moleque de 15 anos e aquele senhor simpático no elevador passou por mim a 280 por hora dirigindo um March (711?) de Formula 1 para bater o recorde do anel externo de Interlagos. Ele dirigia também o Porsche 908/2 da Equipe Hollywood, que eu desenhava de olhos fechados; o Bino Mark 2 amarelo que eu adorava; as Berlinetas da Equipe Willys, que vi correr no Rio; o lindo Maverick divisão 3 da Equipe Hollywood, sonho de consumo da adolescência; e o Hollywood Berta, a maravilhosa criação de Anisio Campos. E, até onde consigo me lembrar, vencia sempre.


Luiz Pereira Bueno começando carreira, com 21 anos, correndo com a Berlineta Interlagos da Equipe Willys

Tudo isso passou rápido pela minha cabeça, a 300 quilômetros por hora, enquanto o senhor sorria simpaticamente para mim. Luiz Pereira Bueno! Não consegui dizer nada para ele, exceto "puxa, que prazer: você é meu ídolo" - e o elevador chegou ao térreo. Minha sogra ainda sugeriu que eu poderia convidar o "seu Luiz" para almoçar, se ele pudesse, e ele disse por educação- "claro, seria um prazer" - mas o almoço nunca aconteceu, por vergonha minha de não querer ficar incomodando meu ídolo.


Luiz Pereira Bueno com Anisio Campos e Lian Duarte no Pódium - Equipe Hollywood

Algum tempo depois, visitando a gente no Rio, minha sogra trouxe uma foto promocional com toda a Equipe Hollywood da época, carros e pilotos, e uma dedicatória super simpática do Luiz Pereira Bueno dizendo, a respeito da Equipe Hollywood "puxa, já faz mais de 20 anos". Pois é, faz mais, muito mais de 20 anos e não importa o que digam os fãs de Emerson, Piquet e Senna: para mim, Luiz Pereira Bueno é o maior piloto brasileiro de todos os tempos...

- Nota da Obvio !: Carlos Coutinho é um carioca gente-boa, simpaticíssimo e que sabe-tudo de automobilismo...

Do tempo que Massa nem havia nascido

Por Luis Guedes Jr. - Jornal da Tarde

Luiz Pereira Bueno foi um dos grandes pilotos da década de 60 e início de 70, de Interlagos - de Willys e Porsches -, a aventuras na Europa. O ex-piloto, de 65 anos. defende Rubinho Barrichello e acredita que gerações - como a de Felipe Massa - não saibam de suas histórias no automobilismo brasileiro.

Na década de 60 e início da de 70, o paulista Luiz Pereira Bueno brilhou foi um dos grandes pilotos do automobilismo nacional. Hoje, aos 65 anos, acredita não passar de um desconhecido para os mais jovens. Afinal, quando alinhou um March para o GP do Brasil de F-1, prova extra para homologação do autódromo de Interlagos em 1972, Felipe Massa, da Sauber, nem havia nascido.


Entrega de premio a Luiz Pereira Bueno - 500 Km. de Interlagos - 10 setembro 1966

Do tempo em que levantava as arquibancadas de Interlagos, preservou a maneira calma e pausada de falar. Profundo conhecedor de mecânica, teve seus primeiros contatos com um carro de competição por volta dos 14 anos de idade, influenciado pelo irmão mais velho, que enxergava nas corridas apenas um hobby.

Da geração atual, Luiz Pereira Bueno se diz fã de Rubens Barrichello e condena os que falam mal do piloto. De Ayrton Senna, se lembra de um único e tempestuoso encontro: "Fui cumprimentá-lo pela forma como estava começando a carreira e ele me tratou com certo desdém. Acho que não me reconheceu", afirma, dizendo não ter guardado mágoa.

Luizinho, como era chamado, correu boa parte da sua carreira como piloto contratado da equipe Willys, referência entre os corredores. E já em sua época conquistou um diferencial raro até mesmo entre os pilotos atuais: viver apenas do que ganhava nas corridas.


Luizinho Pereira Bueno subindo com o Bino Mark - II a Rua Alberto Torres,

depois da Rua Floriano Peixoto - a reta da Rodoviária - para descer a Avenida

Ipiranga, passando pela Curva da Matriz, pelo Museu e chegando na grande reta

da Avenida 15 de Novembro - hoje Rua do Imperador - fechando o
"Circuito de Petrópolis".

A seu lado, dividindo o boxe, competiam destaques como Bird Clemente e José Carlos Pace. Em meados dos anos 60, a coqueluche era a rivalidade entre os carros "amarelinhos" da Willys e os Karmann-Ghia / Porsche da equipe Dacon, pilotados pelos irmãos Emerson e Wilsinho Fittipaldi. Nos anos seguintes, com muitos talentos despontando no automobilismo nacional, o desafio passou a ser competir no Exterior. Há quem garanta que Bueno, se tivesse contado com o mínimo de apoio, teria alcançado uma carreira internacional de destaque. Tentar, bem que tentou, antes mesmo de Emerson Fittipaldi abrir caminho para a F-1.

Faltou dinheiro para permanecer na Europa

Na temporada de 69, Luizinho e o carioca Ricardo Achcar integraram a equipe do ex-piloto de F-1 Stirling Moss na Fórmula Ford inglesa. "O Moss veio para o Brasil a convite de uma revista e o Ricardo o levou para o Rio de Janeiro onde, após passarem por algumas festas, conseguiu convencê-lo a nos receber para um treino na categoria", conta o ex-piloto.

O teste ocorreu pouco antes do carnaval, no circuito de Brands Hatch, e contou com outros dois pilotos cariocas. Ao fim do dia, Luiz Pereira Bueno foi o mais rápido do grupo. "O Stirling concordou então em pagar para eu competir aquele campeonato. Além disso, pediu para que eu escolhesse qual dos outros brasileiros ficaria como meu companheiro de equipe. Aquilo foi penoso, mas acabei optando pelo Ricardo Achcar, que apesar de não ter sido nem mesmo o segundo mais rápido tinha o mérito de ter nos levado até lá", confessa Luizinho.

Patrocínio no meio do campeonato

A dificuldade em encontrar um patrocínio que cobrisse os custos quase pôs fim aos planos de correr no Exterior. "O negócio apareceu somente em maio e quando voltamos à Europa o campeonato já havia começado. O Stirling avisou que não tinha mais como nos oferecer sua equipe, pois precisaríamos ter chegado lá em março. Só com muita conversa ele mudou de idéia", lembra Bueno, que na primeira prova acabou sofrendo o pior acidente de sua carreira. "O carro ficou acabado, apenas no chassi. E eu, com o corpo todo machucado."


Luizinho P. Bueno com o Porsche Hollywood na junção - 500 km de Interlagos de 1971

O impacto foi tão forte que danificou a estrutura do chassi, prejudicando a pilotagem nas provas seguintes. Luizinho conseguia apenas resultados discretos e já estava desanimado com a categoria. "Um dia, um mecânico da fábrica dos F-Ford apareceu no box da equipe e percebeu que o carro estava completamente desalinhado", conta, esboçando um sorriso. "Quando voltei a treinar, não consegui conter o riso debaixo do capacete."

Após o conserto do carro, Luiz Pereira Bueno conquistou nove vitórias consecutivas e fechou o ano como vice-campeão da Fórmula Ford inglesa. Mas a permanência na Europa foi impossibilitada pela falta de dinheiro. "De toda forma, a convivência com o Stirling Moss, que sempre tive como ídolo, foi algo marcante. Por uma ironia do destino ele jamais conseguiu alcançar o título mundial e essa frustração definitivamente o incomodava", diz.

Meu amigo LUIZ PEREIRA BUENO

Por Francisco "Chiquinho" Lameirão

Antes de se comentar, ou fazer qualquer comentário, sobre este extraordinário piloto que é Luiz Pereira Bueno, é imperioso que se escreva algumas palavras sobre Claudio Daniel Rodrigues, pois foi ele quem ensinou grande parte da maestria que Luiz possuía, naturalmente, e que a bem da verdade, ainda possui.
Claudio Daniel Rodrigues era proveniente da aviação e, entendidos do automobilismo tais como Jorge Lettry dizem categoricamente, que houve no esporte a motor brasileiro a “era” antes e depois de Claudio, tamanho conhecimento técnico de que era possuidor.


Em 1960, a estréia da Vemag nas Mil Milhas Brasileiras animou a Simca do Brasil e o FNM-JK ainda que todo importado a entrar no rol das corridas. No início, eram os carros nacionais contra as híbridas carreteiras, mais tarde foram criadas categorias obedecendo a regulamentos da FIA Grupo 1, 2 e 3 e foi mantido a Força Livre Brasileira onde valia quase tudo.

As fábricas abriram as portas da nova geração - um novo ciclo no automobilismo Brasileiro - e paralelamente os Go-Karts, introduzidos pelo Cláudio Daniel Rodrigues, também um excelente piloto dos anos 50. Seu modelo batizado de "Róis Kart" tinha motor estacionário do tipo cortador de grama e, pouco mais tarde, ele desenvolveu um motor com melhor performance.

Claudio Daniel Rodrigues preparava os MG´s T.C que, acreditem ou não, andavam junto com as Ferraris e Maseratis da época. Carroceria de alumínio, compressor, muitos testes e experiências com pneus de várias medidas, para verificar qual o que melhor se adaptava ao tempo seco e ao molhado também. Verifiquem que estamos nos referindo aos anos 50, e aqui no Brasil.

Pois foi este mestre que “pegou” Luiz Pereira Bueno para amaciar estes MGs no Autódromo de Interlagos, isto quando o Luiz tinha 13/14 anos, lhe ensinando desde o ABC até o Z. Combinava que determinado dia o amaciamento era até 3500 RPM e então o Luiz ia pilotando o mais rápido que podia, sem passar desse regime. Com o aprendizado desta técnica, sempre foi além de muito rápido, um piloto que tratava muito bem de seus carros, no sentido de pilotagem é o que me refiro.


Ainda sobre Claudio Daniel Rodrigues, é obrigatório que se mencione que foi ele quem lançou o Kart no Brasil, sendo o primeiro construtor e incentivador desta pequenas viaturas, que tão bons nomes produziram no cenário nacional e internacional tais como Maneco Combacau, Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace e Wilson Fittipaldi, para citar alguns nomes, e sem comentar de Ayrton Senna, evidentemente.

A primeira corrida se deu no Jardim Marajoara, em São Paulo, com a presença e participação do saudoso Chico Landi.

Luiz Pereira Bueno foi um grande piloto. Nunca o vi rodando. Quando o carro lhe era desconhecido, começava a uma velocidade de moderada para boa. Conforme “sentia” o carro, ia imprimindo-lhe cada vez mais potência. Em ocasiões em que o motor começava a esquentar mais do que o devido conseguia, sem aumentar o tempo em demasia, que a temperatura abaixasse a termos razoáveis.


Luizinho correndo de Porsche 908/2 da Equipe Hollywood nos 300 Km. de Tarumã, Rio Grande do Sul -1971

Em corridas longa sabia dosar o freio como ninguém. Na neblina era um mestre, a bem da verdade junto com Cyro Cayres e Bird Clemente. Se o carro durante a corrida mudava de comportamento, ou devido a uma barra estabilizadora quebrada ou por causa de uma leve batida, mudava imediatamente o trajeto que estava usando até aquele momento, mas continuava a virar no mesmo tempo em que anteriormente estava virando. Histórica e mundialmente falando, somente o grande Jim Clark conseguia tal feito.

Em sua primeira corrida de Formula 1 foi o 6º colocado, correndo com um Surtees. Nesta corrida, houve um fato surpreendente: os campeonatos mundiais naquele tempo começavam na África do Sul; Após a corrida, os carros eram desmontados e mandados para o Brasil em Interlagos. Quando os treinos começaram, após dua voltas, Luiz parou no boxe e comentou com John Surtees que o carro estava “inguiável”. Surtees lhe disse que talvez ele não tivesse o “dom” necessário para pilotar um Formula 1.


300km de Tarumã 71 - Anisio Campos de 910 no. 12 e Luiz Pereira Bueno de 908/2 no.11

Após mais duas voltas, Luizinho foi categórico para com Surtees, dizendo que havia alguma coisa muito errada no carro e lhe pedindo para que José Carlos Pace, o “Moco” experimentasse dar algumas voltas, pois como era o piloto oficial da Surtees, daria uma opinião mais abalizada do que estaria ocorrendo. Pace então saiu com o carro de Luiz e nem completou a volta, retornando aos boxes imediatamente para dizer ao John Surtees que o carro estava “inguiável” .

Constatou-se então que na montagem apressada os mecânicos tinham invertido um dos triângulos dianteiros e com isso o carro tinha uma medida diferente para cada lado do entre-eixos. De imediato, Surtees pediu mil desculpas.

Luiz Pereira Bueno foi protagonista de corridas memoráveis, como os 500 Km de Interlagos pelo anel externo, onde com um Porsche 908/2, e manteve um duelo impressionante com o suiço Herbert Müller, este com um Porsche 908/3; ou na Áustria, com o mesmo Porsche 908, quando largou no meio das Ferraris de fábrica, junto com pilotos do nível de Ronie Peterson, Jack Ickx, José Carlos Pace, Arturo Merzário e Tim Shenkins.


A mídia argentina falando sobre a atuação de Luiz Pereira Bueno da Equipe Hollywood que mediu forças com os locais..

Piloto exemplar, com um grande senso de profissionalismo, sempre vestiu a camisa das equipes por onde passou. Com ele, segredo nunca vazou. Um grande amigo. Meu professor, com muita paciência, pois o aluno não era dos melhores.

8 comentários:

  1. Quem vê esse Super Campeão de longe não pode imaginar a pessoa maravilhosa que ele foi!

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  2. Rui, não tive o prazer de conhecê-lo, mas o meu irmão que mora em São Paulo o conhecer e me disse que era um cara muito legal.
    Jovino

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  3. sou suspeito pra falar do Peroba, especialmente por estar próximo nos seus últimos anos de vida. Chama-lo de um doce de pessoa, é muito pouco. O vi correr qdo eu era moleque, o tinha como ídolo e virei amigo. Tenho uma foto , eu no meio de braços abertos, ladeado por ele e pelo Bird. Vcs não imaginam a emoção que senti. Voiu postar no Face book. Posso afirmar, sem medo de errar que nem os filhos sabiam da dimensão que Luizinho representa para o automobilismo. E ouvi dele que, dos 5 que arriscaram ir pra Europa, Deus bafejou Emerson. Qualquer dos outros tinha tanto talento quanto. Modestamente dizia que "talvez" ele também pudesse fazer alguma coisa. Senti demias sua morte, muito dolorida pelo cancer ósseo. Coisas da vida. De qualquer forma, o seu renascimento nos últimos anos, serviu para lhe dar alegrias que ele julgava esquecidas. E vou parar por aqui senão vou molhar o teclado. Abração Jovino.

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  4. Regi, Jovino, Luiz foi "O CARA"...
    Tb não vou me emocionar, coisa normal quando escrevo e lembro as pessoas que gosto!

    aBRAÇÃO

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  5. Lo recuerdo con el Porsche 908 peleando contra los SP argentinos. Un gran piloto.
    Abrazos!

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  6. Regi, Rui e Juanh, lembro-me do Luisinho com os fantásticos porsches aqui no autódromo do Pelezão. Ele encostado no porsche 908 e eu o admirando como se fosse um Deus. Depois entrou na máquina e deu algumas voltas super rápidas para o deleite de todos que estavam lá presentes. Esta é a imagem que ficou dele para mim.
    Jovino

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  7. Fabiani C Gargioni #2712 de agosto de 2012 às 13:56

    Jovino, meu pai fala com muito orgulho de ter conhecido estes bravos pilotos como o Luiz P Bueno, Bird Clemente o Pace o Emerson e o Wilsinho aqui nas provas de longa duração da nossa cidade como as 12Hrs de Lages, pois meu tio era piloto e meu pai o acompanhava nas oficinas onde os carros ficavam e sempre contou estas histórias!!!

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