quinta-feira, 25 de outubro de 2012

TÚNEL DO TEMPO - MIL QUILÔMETROS DE BRASÍLIA DE 1970

Filme raríssimo dos Mil Quilômetros de Brasília de 1970, a última prova de rua realizada em Brasília debaixo de muita chuva com bandeirada de vitória dada à dupla Toninho da Matta e Clovis da Gama Ferreira pilotando o puma 35 de Minas Gerais, mas que após a organização da prova rever os mapas da corrida descobriu-se que os vencedores foram a dupla Marivaldo Fernandes/Zambello pilotando uma Alfa GTA da equipe Jolly.

"Um número recorde de carros compareceu (no total de 99, veja a lista mais abaixo), com estréias auspiciosas do Fúria/ FNM e Casari A-1, e um batalhão de protótipos VW, Pumas, o Lorena-Porsche, o BMW Esquife, as sempre competitivas Alfas GTA. Como sempre acontecia naquela época também um festival de fuscas 1600 ou 1800 cc e até um Corcel Spyder pilotado pelo Paulo Gomes.
Normalmente os treinos classificatórios se realizavam na tarde de sábado, logo após a prova de Estreantes e Novatos. Fazia-se uma espécie de warm-up lá pelas 21 horas e largava-se à meia-noite, com a corrida encerrando-se por volta das 10 da manhã seguinte no domingo.
Mas, dessa vez a bruxa andou solta...
Logo no inicio da noite uma chuvinha fina mas persistente abateu-se sobre a capital Federal. Poças d’agua formaram-se nas avenidas, atrapalhando a tomada de tempos. Para complicar mais um pouco, devido ao número de carros, a cronometragem manual se perdeu, não se sabia mais os tempos dos carros. Os tempos passaram a ser estimados ou "inventados".
Pouco antes da largada à meia noite, o Diretor de prova convocou os carros que ainda não estavam classificados, de acordo com a mambembe cronometragem, para uma repescagem, a ser feita pouco antes da largada oficial. Claro que com aquele tempo e com a pista naquele estado ninguém conseguiria se classificar.
Os pilotos paulistas, revoltados com tanta desorganização, iniciaram um movimento de boicote á prova. O diretor de prova fez valer a sua autoridade, convocou o Exército (lembrem-se, estava-se no auge do regime militar, governo Médici) e praticamente forçou os pilotos a treinar. Alguns se recusaram e diriam que iriam participar de qualquer maneira. Instaurou-se então o caos, a confusão.
Com um atraso de três horas e depois de mil deliberações com os pilotos finalmente deu-se a largada às 3:15 da madrugada. Completamente perdida, a cronometragem oficial passou a ser feita pelos dados fornecidos pelas Equipes Bino e Jolly-Gancia, as mais organizadas neste sentido.
No primeiro pit-stop, os pilotos rebeldes e os recalcitrantes que haviam largado sem autorização da direção da prova foram retirados de seus carros à força pelo Exército e dado ordem de prisão. Mais confusão na madrugada. Luis Antonio Greco, chefe da equipe Bino, iniciou um movimento pela liberação dos pilotos e o cancelamento da prova, que valia pela abertura do Campeonato Brasileiro, motivo mais que suficiente para mais bate-boca nos boxes.
Enquanto isto, na pista, os pilotos se debatiam com as poças d’agua acumuladas no asfalto e a chuva, já meio torrencial na madrugada, sem ter a menor idéia das suas classificações. E assim vararam a noite. Pela manhã, já com o sol aparecendo, os principais favoritos já haviam deixado a corrida: o Fúria/FNM de Jaime Silva e Ugo Galina abandonou no inicio da manhã com quebra do distribuidor; o Bino com falhas constantes se perdeu na classificação, o Casari-A1 de Bob Sharp/Milton Amaral, com problemas de suspensão, o BMW Esquife de Balder/Ciro Cayres, com água no tanque, o Lorena-Porsche de Sidney Cardoso/Heitor P. de Castro, com problemas elétricos.
Assim, somente as Alfas GTA, sempre muito competitivas em provas longas seguiam seu curso, seguidas pelo Puma-VW dos mineiros Toninho da Matta/Clóvis Ferreira, rodando sempre redondo. Mas o festival de erros não acabaria por aí.
Ao meio dia, com pouco mais de 800 km percorridos, a diretoria da prova dava a bandeirada da vitória para o Puma da dupla mineira , secundados pela Alfa GTA de Zambello/Marivaldo, sob o argumento que o seguro da prova se encerraria às 12 horas...

 O Puma da dupla mineira Toninho da Matta e Clovis da Gama Ferreira que receberam o troféu da vitória
Mais confusão instaurada: Emilio Zambello e Marivaldo Fernandes recusaram-se a subir no pódio, outro bate boca com a direção. Algumas semanas mais tarde, atendendo a uma série de protestos e reclamações dos pilotos, a cronometragem foi refeita, atribuindo-se a vitória à dupla Zambello/Marivaldo com Alfa GTA" da equipe Jolly.

Os vencedores que receberam os pontos para o campeonato Marivaldo/Zampelo da equipe Jolly

O filme foi feito pelo meu amigo Serginho Slaviero com uma câmara Super 8 a mais de 40 anos a quem agradeço desde já pelo importantíssimo resgate da história do automobilismo brasileiro e passado para DVD, e, posteriormente, foi feita a edição pelo André da Speed Brasília a quem agradeço também.

Fonte, Joaquim Lopes Filho, o mestre Joca e colaboração de Napoleão Ribeiro que me forneceu a relação de inscritos da prova abaixo.

Atualizando: agora coloquei som nos vídeos, mas não são as músicas que eu queria colocar por causa dos direitos autorais que o You Tube exige. Coloquei o que eles disponibilizam.
 

O próximo vídeo será de corridas realizadas em 1972 do autódromo no Pelezão, um de uma prova do campeonato regional e a outra com a participação dos Porsches 908 e 910 da equipe Hollywood.

RELAÇÃO DOS PARTICIPANTES DOS MIL KM DE BRASÍLIA DE 1970
 
 
 
 

15 comentários:

  1. Comentário de Luiz Evandro Águia encaminhado para o meu email: "Caro Jovino
    Muito boa a materia dos 1000 Kms de Brasilia 1970

    Eu participei dos 1000 Kms Brasilia de 1969-- ( em dupla com Stanley Ostrower ) com Puma VW , Vermelho,,No 72 da Equipe Kinko.- 12o colocado na Geral - após quebra do Parabriza, na descida do Retão...Sera que vc teria como cnseguir alguma foto deste Puma e tbm a relaçao dos inscritos,,
    Forte abraço
    Luiz Evandro "Águia" Campos"

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  2. Gran carrera con bellísimos autos, como se puede ver en el video.
    Y de regalo, ¡con lluvia!
    Muchas gracias Jovino por compartirlo.
    Abrazos!

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  3. Maravilha!! Serginho Slaviero "arrebentou" nessas imagens. Grande Resgate Jovino.
    Sobre a lista dos inscritos, é uma grande alegria encontrar vários daqueles pilotos no nosso almoço das sextas feiras...

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  4. Obrigado Juan. Serginho, vamos fazer um track day de antigos e colocar este pessoal para andar lá no autódromo no dia 25 de novembro. Vamos colocar os Esprons BMW para andar!!! Jovino

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  5. Mensagem do George encaminhado para o meu email:
    "Prezado Jovino,

    Repassando a lista dos pilotos, relembrei com certa saudade dos pilotos mineiros que correram naquela prova.

    Automobilismo em Minas. Só com muita paixão.

    Patrocínio quase nulo para quem não tinha a própria empresa para bancar.

    Toninho Da Matta todo mundo se lembra. Mas, seu parceiro Clovis Gama, menos conhecido eram um batalhador incansável.

    Lembro dele dando pau num Citroen Leger. Depois comprou um Dauphine, começou a correr com ele. Nem sei qual era a expectativa dele. Mas queria estar nas pistas. Depois comprou um Interlagos Coupé.

    Outra figuraça nessa prova era o Candinho Yê Yê, Sebastião Venâncio Filho, que gastou uma fortuna, literalmente, com as pistas. Bonito, não tinha pra ninguém. Maior conquistador.

    São muitas histórias de uma época que não volta mais.

    Abraço"


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  6. Jovino,

    sensacional... mais um belo resgate de nossa história das pistas...

    parabéns...

    BLOG POR DENTRO DOS BOXES
    http://pordentrodosboxes.blogspot.com.br/

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  7. Na relação dos inscritos tem um "Corcel Spyder"? O que seria isso? E com o Paulo Gomes ao volante...

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  8. Rpastor, assisti a esta corrida na época, mas não me lembro direito. É um corcel spyder como a Alfa do Jan Balder. Mas ele não andou muito tempo. Jovino

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  9. Rui, Jovino, lembro deste carro que o Paulão correu, quando chegar em casa mando uma foto dele.

    Rui Amaral Jr

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  10. Jovino, na relação dos participantes dos MIL KM DE BRASÍLIA DE 1970 consta o Elgar 5 onde participo junto com Carlito e Julião, conforme minha lembrança em nossa discussão de ontem. O Ênio Garcia também participou com o Elgar 12 na companhia do Luiz Cláudio Nasser.

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  11. Eu estava lá. Meu nome está grafado errado Sergio Withers A prova mais bagunçada que participei. A classificação parecia uma prova em si voltas e mais voltas! E quando parei,a pedido de um amigo, peguei o carro dele e voltei! Ninguém sabia o tempo de ninguém! E aí pelas 8 da manhã, eu estava em sexto na classificação geral, e jogaram uma garrafa no meu parabrisa, de cima de um dos viadutos. Até colocar o parabrisa, perdi muitas posições. Não sei em que lugar terminei. Mas lembro de na madrugada chuvosa, empurrar uma das alfas naquelas curvas de alça de acesso.

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  12. Muito bacana esta filmagem, parabéns pelo arquivo e edição,para podermos ver este espetáculo, a narrativa dos fatos também muito bem explicada, que baita confusão, história de conteúdo rico em detalhes, muito bom de ler , parabéns aos envolvidos, em especial ao Jovino.

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  13. Parabéns Jovino, histórias são boas assim retratando a realidade, ao amigo que questiona do corcel sem teto, era o Paulão mesmo com um Corcel mortinho e ele de sacanagem ainda pilotava usando uma echarpe esvoaçante

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