O mais
carismático protótipo construído em Brasília foi, sem dúvida, o Patinho Feio. Concebido por Alex Dias Ribeiro e sua turma da Camber numa época de sonhar,
onde a criatividade e a ousadia, prevalecia, mesmo nos fundos de um quintal na
asa norte.
Napoleão
Ribeiro, presidente da FADF e um dos mais entendedores e conhecedores do automobilismo tupuniquim antigo e
dono de um acervo infindável, faz uma esplanação da história deste carro que
revelou dois pilotos brasilienses para o mundo da Formula 1.
CAMBER
"Junte um chassi de Fusca 1200 capotado com quatro estudantes de Brasília
e invente um carro!.
Foi essa a receita que deu origem a um dos mais curiosos carros de
corrida nacionais. Este carro foi responsável pelo início de carreira de dois
pilotos que chegaram à Fórmula 1: Alex Dias Ribeiro e Nelson Piquet.
Tudo começou em meados de 1967, quando o pai de Alex Dias Ribeiro capotou seu
Fusca 1200 e então Alex, Helládio Toledo Monteiro Filho, João Luiz da Fonseca e
José Álvaro Vassallo (o Zeca), então estudantes, resolveram pegar o carro e
transformá-lo num carro dcorrida.
Depois de muita martelada e improvisações, ficou pronto o carro de corrida
construído em chapa de aço sobre uma plataforma do Fusca e equipado com um
possante motor VW de 1200 cc.estréia do carro, que logo ganhou o apelido de “Patinho Feio” aconteceu
nos“500 Km de Brasília” em 17 de setembro de 1967, num circuito armado nas ruas
da Asa Norte da Capital Federal com a participação de 33 carros, entre eles a
Alfa Romeo GTA de Ubaldo Lolli, o Karmann Ghia Porsche 2000 de Aylton Varanda,
o Renault R-8 de 1300 cc de Marivaldo Fernandes, a Alfa Romeo Giulia TIS de
Emílio Zambello, o VW Sedan com motor 1500 cc de Ênio Garcia, além de dois
Karmann Ghia VW 1500, diversos DKW Vemag, Renault 1093, FNM 2000 e VW 1300.
A turma da Camber. Estudantes que ousaram construir um protótipo para correr.
Pilotado pela dupla Alex Dias Ribeiro/João Luiz da Fonseca, o Patinho Feio nº17
largou numa das últimas posições do grid, com toda a chance de não se destacar,
exceto pelo quesito “feiúra”!Com o desenrolar da prova, os favoritos foram ficando pelo caminho. Primeiro
foi o Karmann Ghia Porsche de Aylton Varanda que apresentou problemas no motor.
Em seguida capotaram a Alfa Romeo de Zambello e o Fusca 1500 de Ênio, ambos na
curva “gêmeas”.
Patinho Feio em sua primeira configuração. O bichinho era atrevido.
Enquanto isso o Camber ia ganhando posições fazendo uma corrida muito regular e
sem apresentar nenhum problema mecânico até passar a ocupar a 3ª colocação
atrás da Alfa GTA de Lolli e do Renault R-8 de Marivaldo, que ocupavam as duas
primeiras posições.
Na parte final da corrida o R-8 queimou a junta do cabeçote e abandonou
permitindo que o Patinho Feio terminasse a prova na segunda posição, feito que
nem o mais otimista dos seres humanos pudesse imaginar.
Patinho Feio corrrendo nas 500 milhas da Guanabara em 1968
Um mês depois o Patinho Feio participou dos “300 Km de Goiânia”, prova
disputada num circuito que passava pela Avenida Anhanguera, na Capital Goiana.
A prova foi mais uma vez vencida por Ubaldo Lolli, dessa vez ao volante da Alfa
Romeo Zagato enquanto que o Camber, pilotado por Alex Dias Ribeiro e João Luiz
da Fonseca, terminou em 13º lugar.
Ainda equipado com motor VW 1200, o Patinho Feio voltou a correr em Brasília,
em dezembro de 1967, terminando em quinto lugar tendo desta feita Zeca Vassallo
como parceiro de Alex Dias Ribeiro ao volante do carro.
Nelson Piquet larga com o Patinho na segunda colocação.
Nessa mesma época os quatro amigos criavam a oficina Camber, oficina que se
tornou “point” dos amantes do automobilismo de Brasília e que mais tarde, seria
revendedora dos volantes Fórmula 1, dos equipamentos desenvolvidos pela Puma e
revenda das motos Yamaha.
Para a temporada de 1968, o “Patinho Feio” foi muito melhorado, passando a ser
equipado com um motor de 1600 cc, rodas com aro de 13 polegadas.
Nos “Mil Km de Brasília”, pilotado por Alex Dias Ribeiro e João Luiz da
Fonseca, terminou na 12ª posição entre os 43 carros participantes.
Patinho Feio nos Mil Quilômetros de Brasília, provavelmente o de 1969
Na segunda etapa do Campeonato Brasileiro, as “500 Milhas da
Guanabara”,realizada em 30 de junho de 1968, no antigo autódromo de
Jacarepaguá, o“Patinho Feio” iria mais uma vez chamar a atenção. Logo nas
primeiras voltas o carro se enroscou com o Bino dos Campeões: Luiz Pereira
Bueno e José Carlos Pace na Curva Norte do circuito carioca. Do incidente o
carro dos meninos de Brasília sofreu pequenos danos, mas o Bino perdeu bastante
tempo parado nos boxes para que os mecânicos “remendassem” a carroceria com
fita adesiva e desempenassem a suspensão dianteira.
Com o Patinho Feio andando entre os dez primeiros, a prova chegou à sua parte
final apresentando uma luta ferrenha pela liderança entre o BMW 2002 de Jan
Balder/Pedro Victor Delamare e o Willys Mk I de Bird Clemente/Luiz Terra Smith.
Acredito ser no circuito improvisado do Pelezão aqui em Brasília!!! Um Avalone do lado
Depois de efetuar o último reabastecimento antes do final da prova, Bird
Clemente saiu dos boxes disposto a alcançar o BMW. Ao chegar no “S” que
antecedia a Curva Norte de Jacarepaguá, Bird encontrou o Camber pela frente.
Sem notar a aproximação do Mk I, Alex Dias Ribeiro não deu passagem e, com
isso, Bird saiu da pista arrancando as placas de sinalização de 200, 150 e 100
metros, destruindo completamente a parte frontal e a suspensão dianteira do
Willys Mk I.
Uma das viagens para correr fora de Brasília, provavelmente, os Quinhentos Quilômetros de Fortaleza de 1969. o Esquadrão brasiliense embarcado. Da esquerda para a direita, Chapéu de Freira de Von Negri, Fusca 43 do Carlão Braz e o Patinho Feio de Alex Dias Ribeiro e João Luiz da Fonseca. Abaixo, Elgar GT 104 do Ênio Garcia/Toninho Feijão e a Berlineta de Paulo Cesar Lopes.
A dupla Balder/Delamare venceu a prova, à frente de uma verdadeira legião de
carros de Brasília: 2º Ênio Garcia/Toninho Martins (VW 1600), 3º Karl Von
Negri/Dirceu Bernardon (VW 1600), 4º Alex Dias Ribeiro/João Luiz da Fonseca (PT
Camber VW) e 6º Paulo César Lopes/Ricardo Penta (Willys Interlagos).
Ainda em 1968 o “Patinho Feio” ficou em segundo lugar com Zeca Vassallo no
Circuito de Anápolis e com Alex Dias Ribeiro/João Luiz da Fonseca nos “500 Km
de Brasília”.
Em 1969 o Camber recebeu motores mais fortes, passando para 1800 cc e depois
2000. Além do novo motor foi instalado no carro um aerofólio inspirado
no“Chaparral”, modelo americano que disputava a série Can-Am. O aerofólio era
acionado através de alavanca colocada ao lado do banco do piloto, e deveria
funcionar como freio aerodinâmico. Isso acabou provocando algumas confusões
quando a “engenhoca” era acionada no momento errado, passando a frear o carro nas
retas.
Folder em comemoração aos 40 anos da Camber realizado em 2007
Enquanto isso, à medida que a potência do motor ia sendo aumentada, crescia a
tendência do carro em sair de frente, fenômeno causado pela combinação de
entre- eixos longo com carroceria baixa. As saídas de frente foram fatais nas
corridas disputadas nos circuito de rua de Brasília: nos “Mil Km de Brasília” e
nas “Cem Milhas de Brasília”. Na segunda, pilotado por João Luiz da Fonseca,
acabou abandonando quando liderava com certa vantagem até destruir a suspensão
depois de um impacto contra o meio-fio.
Ainda assim, o carro colheu bons resultados com o quarto lugar nas “Cem Milhas
de Belo Horizonte”, prova disputada no circuito improvisado do Estádio Mineirão
e o terceiro lugar no “GP do Nordeste”, prova válida pelo campeonato brasileiro
disputada no Autódromo de Fortaleza.
Em 1970 abandonou nos “500 Km de Belo Horizonte” e nos “Mil Km de
Brasília”terminando em 7º lugar nos “100 Km de Goiânia”.
Antes e depois e a aposentadoria do Patinho Feio.
O carro não era mais competitivo e isso fez com que Alex Dias Ribeiro
abandonasse o projeto e passasse a competir no Campeonato Brasileiro de Fórmula
Ford e nas provas de carros Protótipos/Esporte/Turismo, com o protótipo AMOK
juntamente com Luiz Estevão.
Esse carro, também equipado com mecânica VW, era bem mais desenvolvido do que o
Camber e dispunha de chassi tubular e motor central. Muitos o confundem com o
Camber devido as suas cores e por ser pilotado por Alex Dias Ribeiro, mas não
tinha nada a ver com o “Patinho Feio”.
Em 1972, foi construído um circuito alternativo em Brasília, chamado de
circuito do Pelezão, por ser traçado no estacionamento do estádio do mesmo
nome.
Para competir nessas provas, Nelson Piquet pegou o Camber, que estava
abandonado no fundo da oficina, encurtou o entre – eixos e, juntamente com
Ruyter Pacheco, passou a e, no dia 11 de junho de 1972, acabou obtendo a única
vitória do carro na classificação geral.
Depois o carro foi totalmente remodelado e encontra-se em perfeito estado de
perfeição sob os cuidados do seu proprietário: Alex Dias Ribeiro".
Abaixo, as provas do Patinho Feio.
Fotos, Napoleão Ribeiro, Pedro Baleiro e captadas na Internet.