Estamos em Nurburgring, o famoso e temível circuito de 22 quilômetros, construído trinta anos antes. Ainda não se chamava de Inferno Verde (quem o batizou foi o escocês Jackie Stewart, uma década depois), mas mesmo assim era temido por tudo e por todos. O argentino Juan Manuel Fangio tinha feito a “pole-position” nos treinos, superando as Ferrari 801 dos ingleses Mike Hawthorn (1929-1959) e Peter Collins (1931-1958). Contudo, Fangio debatia-se com um dilema: o seu Maserati 250F número 1 não tinha um tanque de combustível suficiente para fazer toda a corrida sem reabastecer.
Como os Vanwall não conseguiam acertar os carros para o circuito germânico e afundavam-se na classificação, o verdadeiro perigo vinha das Ferrari 801, que logo atrás de Fângio, tinham um tanque para correr os exatos 505 km da prova. Então o argentino decidiu recorrer à matemática! Partia com combustível para apenas 12 voltas. Como teria o carro mais leve, tentava desse modo construir uma vantagem, para que quando parasse no boxe, reabasteceria e arrancava de novo sem perder a liderança da prova.
Na largada, o inglês Mike Hawthorn foi mais rápido, mas como tinha o carro mais pesado, na 3ª volta Fangio passava-o em Tiergarten e começava a distanciar-se da Ferrari. Na volta 11, Fângio entra no box. Aparentemente, a tática estava dando certo e o Argentino tinha mais de 30 segundos de vantagem sobre Hawthorn. Pelo menos tinha tido tempo para bater o seu anterior record, ao volante do Lancia-Ferrari no ano anterior, de 9 minutos, 41.6 segundos, para 9 minutos, 29.5 segundos.
Mas, ao mudar uma das rodas, um dos mecânicos perde uma das porcas, perde-se imenso tempo à procura dela! Fângio, impotente, vê passar primeiro Hawthorn, e depois, Peter Collins. O Maserati número 1 sai com uma desvantagem de 45 segundos para ambas as Ferraris, e nas duas voltas seguintes, nada acontece.
Fangio parece estar conformado, mas de repente, as pessoas começam a ficar espantadas: os cronómetros param nos 9 minutos, 23.5 segundos! Duas voltas depois e a diferença tinha baixado para 33 seg, com um tempo de 9minutos 17.4 segundos, e à décima-oitava volta, a distancia passa para apenas 13 segundos! E ainda faltam 4 voltas.
Ultima volta: Hawthorn passa na frente, seguido por Collins na segunda posição e apenas dois segundos depois… FANGIO!!!
Ao chegar à “Sudkurve”, Peter Collins, que está para passar os dois Vanwall, tem o Maserati 250F mesmo na sua traseira. A multidão levanta-se e aplaude no momento em que Fângio sai à frente de Collins! Contudo, o piloto inglês reage e volta ao segundo posto. Nova travagem para a “Nordkurve”, e Fangio passa por dentro da Berma e ultrapassa Collins no meio do roncar de motores, com ovação da multidão.
Collins, além de perder o segundo lugar, leva uma pedrada numa lente dos óculos e é forçado a diminuir. O argentino, sem sinal de diminuir, voa no encalço de Hawthorn. Alcança-o em “Adenauerforst” e em “Breidscheid” passa-o! O público quase derruba o alambrado, numa manifestação de histeria coletiva.
A Ferrari de Hawthorn sente o ritmo forte, e ele baixa os braços, deixando Fangio seguir em direção ao seu último triunfo de sua carreira, mas esta tinha sido, aos 46 anos, a maior corrida de sua vida! O Maserati 250F chega ao final das 22 voltas e três horas e meia de corrida. É levado nos ombros do público até o pódio e reencontra Hawthorn e Collins que festejam efusivamente com o argentino.
O agora, penta-campeão do Mundo, depois de ter sido informado que havia batido o recorde da volta em 10 vezes, declarou: “Fiz coisas que nunca tinha feito. Nunca mais quero pilotar dessa maneira!” Após este triunfo, e até ao fim de sua carreira ainda consegue mais 2 segundos lugares, nos circuitos italianos de Pescara e Monza.
O Maserati 250 de Fãngio
Hoje, falando no carro que Fangio conduziu: o Maserati numero 1 ainda existe, em repouso merecido no museu dedicado ao campeão argentino em sua terra natal, Balcarce, onde se pode observar a magnifica arquitetura deste belo carro. O Maserati 250 que foi construído e desenvolvido entre 1954 e 1958, tendo sido construídos 34 exemplares com a numeração de quadro entre 2501 e 2535. Muitos deles foram conduzidos por privados, entre eles o Conde Alfonso de Portago (que morreu nas Mille Miglia desse ano) Paco Godia e o Nicha Cabral.
Vale a pena ver todo o video com narração emocionante