Apesar dos protestos verbais de algumas equipes, sua vitória foi confirmada, já que muitos não entendiam o porque do fusca preto nº 13 chegar na frente de carros com muito mais cilindradas e potência.
Na primeira bateria o fusca 1600 do Aray brigou toda a prova com o Opala 4100 de Evando Leuman (Leo Faleiros) e só conseguiu a ultrapassagem quando o opala deu uma escapada e caiu para a terceira posição. Daí para o final, Aray conduziu com facilidade o seus fuscão preto nº 13 para a vitória.
O resultado da primeira bateria ficou assim: Aray Xavier com o fusca nº 13 preto da Ideal, 2º chegou o Opala 4100 da Equipe Retifica Brasília, pilotado por Marco Emilio Pires, na 3ª posição o Opala 4100 de Leo Faleiros, em 4º o Fusca 1500 pilotado pelo Ricardo Teixeira Alves (o Nhen Nhen Nhen), que já começava a se destacar também e em 5º o Corcel Rino 1500 de Sidney Abrão Haje.
Na segunda bateria, o opala de Marco Emilio Pires pulou na frente sempre seguido de perto pelo Aray, que colou na sua traseira e depois de fazerem várias ultrapassagens em retardatários, Aray conseguiu recuperar a primeira posição ultrapassando o Marco Emilio e repetindo a vitória da primeira bateria.
A destacar ainda o velho protótipo Simca, que havia rodado em duas curvas, e o KG TC nº 5, que já havia batido no sábado, e logo no início da prova havia dado violenta rodada na reta oposta. Ambos não terminaram a prova. O Simca perdeu uma biela, e o KG TC envolveu-se no único acidente da prova capotando na curva de frente aos boxes, depois de bater em um dos pneus de proteção.
O resultado final ficou assim:
1º - VW 1600 nº 13 pilotado pelo Aray de Paula Xavier da Equipe Ideal
2º - Opala 4100 nº 25 pilotado pelo Marco Emilio Pires da Equipe Retifica Brasília
3º - Opala 4100 nº 11 pilotado pelo Leo Faleiros
4º - VW 1500 nº 15 pilotado pelo Ricardo Alves (Nhen Nhen Nhen) da Equipe Camber
5º - Corcel 1500 nº 7 de Sidney Abraão
Aray continuou a sua tragetória no automobilismo. Um dia, encontrou-se com o jovem kartista Nelson, e os dois começaram a correr juntos. Revezando-se, os dois foram obtendo vitórias. Piquet, mais feliz na trajetória, partiu para a Super V e deu o seu grande salto indo para a Europa. Aray, pelo contrário, sem tempo para conciliar automobilismo, familia e trabalho, (só corria por hobby), mas mesmo assim, participou da Formulas V, Stock-cars, Volks e a extinta Divisão 1.
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Aray Xavier, Waltinho, Pupo Moreno, Piquet, Sergio Viana da Brasal e filhos, Ricardo Nhen Nhen Nhen ao fundo |
Depois do fechamento do autódromo do Pelezão, as competições ficaram esquecidas na vida de Aray. Em 84 passou dois anos na Europa para concluir seu doutorado em Direito. Teve alguns contatos com o esporte, já que dois de seus melhores companheiros de pista no Brasil, Roberto Pupo Moreno e o próprio Piquet, faziam sucesso por lá. Assistiu algumas corridas e entusiasmou-se.
Na volta ao Brasil, começou a articular seu retorno também às pistas.
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Aray testando o protótipo, ou quase protótipo no pelezão. Sentado no carro o Ricardo Nhen Nhen Nhen |
Aray voltou a correr em 07 de setembro de 1986 pilotando um Voyage nº 13 da Equipe Rotor e começou a sondar patrocinadores. Conseguiu juntar algum dinheiro e passou a ter expectativas para resgatar seu lugar nos circuitos brasileiros.
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Aray de opalão |
Mas a estrutura da CBA, o decepcionou. Porém, como havia despendido tempo e dinheiro, resolveu aplicar mais longe em sua potencialidade.
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Aray Xavier e Waltinho Ferrari da Ideal |
Mantendo contatos na Inglaterra - com Pupo Moreno - principalmente, resolveu comprar dois carros Van Diemen e partir para a Formula Ford 1600, seguindo os passos de Piquet.
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Aray com o opala nº 13, sua marca |
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Aray Xavier, Waltinho Ferrari e Walter Machado |
Continuou na busca por patrocínios. Treinou forte e mergulhou de cabeça no empreendimento. Investiu dinheiro do seu próprio bolso, e obteve apenas o patrocínio do Jornal Correio Brasiliense para divulgação de suas provas.
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Sandro Ferrari, Aray Xavier, Waltinho Ferrari e Anderson Manteiga. |
O campeonato Inglês de Formula Ford 1600, segundo Aray, exigiria de qualquer piloto que quisesse participar das 28 provas, pelo menos 100 mil dólares. Mas ele pretendia ajudar jovens pilotos que tivessem interessem em correr em sua equipe: com dois carros e somente ele para pilotar, com 6 mil dólares, qualquer brasileiro poderia compartilhar com ele a emoção das corridas na Europa.
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Aray e o mecânico Giovani Coqueiro na garagem apertada onde funcionava a oficina e o Formula Ford 1600 em partes |
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O mecânico Giovani Coqueiro e Jesuan, filho do Aray com 15 anos |
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Aray, na Inglaterra com o seu Formula Ford 1600 |
E assim, em 1987, ele partiu para o sonho de correr na Europa, como faz qualquer piloto que começa no kart e tentar chegar à Formula 1, sonho maior de todos os pilotos.
Como disse o Jesuan, filho do Aray Xavier:
"Meu pai tinha recém se separado e, com a mágoa de um casamento que não deu certo, resolveu jogar tudo pro alto (trabalho etc). Lembro-me dele dizendo: agora vou voltar a fazer aquilo que sempre gostei, correr de carros!!!!! Batalhou por patrocínio em Brasília, mas não teve muito sucesso. Conseguiu apoio do Correio Brasiliense, acho que apenas para divulgação de suas corridas, e foi pra Inglaterra, na cara e na coragem, tentar a fórmula Ford. Comprou um carro usado lá em partes separadas (carenagem, motor etc) e o montou para o campeonato inglês - fazia os ajustes na própria garagem da casa que alugamos (fotos em anexo, onde aparece eu, o mecânico Geovani Coqueiro, e meu pai). Na primeira corrida, ficou em oitavo lugar. Na segunda, conseguiu a pole, mas, infelizmente, logo na largada, sofreu uma batida do cara que vinha em segundo, e capotou várias vezes. Eu o acompanhava dos boxes. Neste momento estava com o cronometro na mão e tinha a função de sinalizar na pista, volta a volta, o tempo que ele fazia...
Foi um golpe difícil, mas tenho certeza de que ele morreu feliz, fazendo o que mais gostava na vida!!!! "
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Aray, depois de marcar a pole em Snetterton/Inglaterra. Ao seu lado o carro que provocou a batida fatal após ambos baterem na primeira curva após a largada |
Jesuan, lembro-me de seu pai quando ele partiu para o sonho de correr na Inglaterra com toda a gana e talento que tinha.
Fiquei sabendo, na época, que ele havia vendido um apartamento para montar a equipe lá, e, infelizmente, com pouco tempo depois e com 36 anos de idade recebemos aqui a triste notícia do acidente e de seu falecimento.
Como você mesmo disse: "morreu fazendo aquilo que mais gostava na vida" e isto, de uma certa forma, nos confortou um pouco.
Esta é apenas mais um pequena homenagem que faço para estes nossos heróis que ousaram ir em busca dos seus sonhos.
(Fotos, arquivo Jesuan Xavier, Fonte, jornais da época)