domingo, 24 de maio de 2015

FITTI PORSCHE, A LENDA QUE NOS ASSOMBRA

Joaquim Lopes Filho/Jovino Benevenuto/Luiz Salomão

Esta matéria foi publicada originalmente em 2009 no Blog do Saloma.
Dentre os inúmeros carros que compõem a história do nosso automobilismo, um dos mais carismáticos é, sem dúvida, o Fitti-Porsche, criação dos irmãos Fittipaldi em 1967 e que esteve nas pistas até 1975, embora com diferentes proprietários.

Ao longo dos anos muito se falou sobre este carro com as opiniões sempre confluindo para o fim comum do belo protótipo, um ferro velho de sucata de alumínio nas imediações de Brasília, última destinação do carro.
Até o próprio Wilsinho Fittipaldi acreditou nesta história e há alguns anos atrás andou na esteira do Fitti-Porsche, terminando no tal ferro velho, dando por encerrada sua busca.
Final lamentável da história, é o que todos pensavam….ledo engano
O nosso representante no Planalto Brasiliense, Jovino Benevenuto, um dos mais ativos blogueiros daqui do boteco, ao pesquisar um material sobre os Hot Dodge do DF, deparou com a informação que, ao contrário do que se acreditava, o Fitti-Porsche ainda sobrevivia em péssimo estado, numa chácara nos arredores de Sobradinho.
Com a informação a tiracolo, Jovino, no melhor espírito Indiana Jones, saiu à procura do Fitti. O resultado de sua pesquisa aqui está, mas vamos recordar a história do carro desde seu início.

A ORIGEM DO FITTI-PORSCHE
Não há dúvida que o chassi que equipava o carro era originário de um Porsche RSK 550 que pertencera ao famoso piloto alemão Von Stuck e que aqui fora vendido para Christian “Bino” Heins, em meados dos anos 50.
Bino no PorscheRSK, ganhando as 2 Horas de Velocidade, 1960
Há registro do carro correndo em SP e, segundo alguns, vencendo prova até no Uruguai. Daí o carro passou ás mãos de Fritz D´Orey que correu com ele pelo menos uma edição das “Duas Horas de Velocidade”, em Interlagos, 1956.

O fato é que o chassi, já destituído de mecânica, ficou por muito tempo na oficina de Chico Landi, até ser comprado pelo piloto Marivaldo Fernandes que pretendia construir um protótipo projetado por Anísio Campos.
Mas investir em construção e desenvolvimento nunca foi muito a praia do piloto do Guarujá e este negociou o chassi com Wilsinho Fittipaldi como parte de pagamento na compra de uma Mercedes-Benz.
Jan Balder testemunha em seu ótimo livro “Nos Bastidores do Automobilismo Brasileiro”, que ele próprio foi quem apanhou o chassi na oficina de Chico Landi, levando-o para a pequena fábrica de volantes dos irmãos Fittipaldi.
Ali, sob o comando do artesão Chico Picciuto, o chassi recebe as modificações necessárias para acomodar a mecânica Porsche oriunda do Karmann-Ghia Dacon no qual Wilsinho e Emerson haviam vencido as “Seis Horas de Interlagos” daquele ano, 1967.
A carroceria, feita toda em alumínio, obedecia a um desenho de Emerson Fittipaldi, que rabiscou na parede o que seria a recriação de um dos marcos dos grandes carros da época, notadamente o Porsche 906 Carrera.

Assim, o protótipo estréia nas Mil Milhas de 1967, ainda na sua versão spyder, com o jovem Emerson paralisando os cronômetros em incríveis (na época) 3m31s e 8/10 nos treinos e liderando na corrida com alguma facilidade até o carro parar com um princípio de incêndio.

O Fitti-Porsche iniciava ali sua sina de carro rápido, mas de pouquíssima confiabilidade.

No seu cartel somente uma vitória parcial, ou seja, venceu uma bateria na Prova Almirante Tamandaré em princípios de 1968, no Rio de Janeiro
Nos Mil Km de Brasília deste ano o Fitti Porsche apresenta-se na sua versão fechada – e pela qual tornaria-se famoso – com a dupla Emerson Fittipaldi e Lian Duarte. Mesmo enfrentando sérios problemas de câmbio, ainda chega em terceiro lugar na geral; curiosamente o único resultado do carro em provas longas.

No restante da temporada, mesmo com forte aporte financeiro de Marivaldo Fernandes que passara a investir fortemente no desenvolvimento do carro…

Wilson Fittipaldi, em Jacarepaguá, Rio
…Fitti-Porsche continua a se debater com problemas mecânicos aponto de, a partir do meio do ano, Wilsinho passar a pilotar para a Jolly-Gancia e Emerson Fittipaldi a correr algumas provas com o Fusca-Fittipaldi.
O carro retorna às pistas em 1969 nos Mil Km de Brasília, equipado com motor VW 1600 cc e pilotado por Wilsinho e Luis Fernando Terra Smith, mas abandona com problemas de motor. Daí em diante o renomeado Fitti-Volks vai ficar á disposição da Escola de Pilotagem Bardhal, onde servirá como carro de instrução aos seus alunos.
Sérgio Magalhães, nos boxes de Interlagos…
É aí que é descoberto e comprado pelo advogado Sérgio Magalhães, muda sua cor predominante para branco e participa em algumas provas da temporada de 1970, às vezes em companhia deMauricio Paes de Barros ou de Eduardo Souza Ramos. Daí o carro é vendido, segundo Sérgio Magalhães, a um piloto de Ribeirão Preto que o revende ao piloto Antonio (Toninho) Martins, de Brasília.
No Planalto Central, Toninho procede a uma reforma da frente do carro, tendo o utilizado na temporada de 1974
Em 75, o Fitti-Volks – nova denominação do carro – é comprado por outro piloto brasiliense,Paulo Guaraciaba, que o disponibiliza para que sua esposa, Tereza, participe com ele de algumas provas femininas, chamadas de Corridas do Batom.
Tereza Guaraciaba, no grid das “Corridas do Batom”, em Brasília
A partir de 1976 no automobilismo brasileiro deixam de existir provas para protótipos da Divisão Quatro, sendo o carro então encostado, perdendo-se a pista do mesmo.
Acreditava-se que o Fitti-Porsche (ou Volks, como queiram…) havia levado o fim da maioria dos carros de corrida nacionais, ou seja, o cemitério do ferro velho…mas que aí aparece uma luz, depois de muita bateção de cabeça e pernada de lá para cá. Juntaram força no blog, a dupla Saloma e Joaquim e resolveram começar de onde estava, por hora, tudo terminado, Brasília…


O TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO DE JOVINO EM BRASÍLIA.

Saloma e Joaquim,
Alguns meses atrás, estava em busca de material para o blog sobre a categoria Hot Dodge, muito em voga aqui em Brasília, no início dos anos 80. Nesta pesquisa soube, através de um amigo, da possível existência do Fitti-Porsche em uma chácara de um antigo piloto, nos arredores de Sobradinho.
Durante semanas tentei o contato com o tal piloto, amigo do pretenso proprietário, sem maiores resultados, pois o homem é muito ocupado. Depois de idas e vindas, acabei localizando o Sr. Adilson, até então, o último proprietário do Fitti-Porsche.

Última e única foto do Fitti, estacionado na chácara…
O Fitti-Porsche participou de provas femininas do Festival do Batom em 1975. Segundo a Senhora Tereza Guaraciaba, depois de participar do Festival do Batom o carro ficou guardado no autódromo e ela não teve mais notícias do mesmo, mas que participou de três corridas com ele em Brasília e uma em Anápolis.
Sr. Vicente, que foi piloto na época das provas de rua em Brasília, disse que o Alex Dias Ribeirotelefonou para ele quando estava na Europa e pediu-lhe para que tentasse encontrar o Fitti-Porsche, pois o Wilsinho queria encontrar o carro e restaurá-lo. A informação que tinha era que o carro teria ido para Araxá em Minas e ele rumou para lá na época do encontro de carros antigos e contatou muita gente e na redondeza daquela região, mas ninguém soube informar nada a respeito do carro.
Segundo ele, após a utilização do Fitti-Porsche pela Tereza no Festival do Batom o carro ficou guardado na oficina do George Pappas (piloto de DKW e Lorena) por muito tempo.
O Pappas estava querendo tirar o carro de lá para desocupar espaço e, segundo o Vicente, chegou a oferecer o Fitti-Porsche para ele mais a carcaça do DKW que ele corria (aquela com a traseira cortada), mas ele não se interessou. Depois foi colocado lá no salão (antigo box da BMW doPiquet ou carpintaria do DEFER) e foi sendo encoberto aos poucos por carteiras e mesas que servia de depósito da Fundação educacional do DF, ficando por lá de 3 a 4 anos.
Sr. Ney Jackson ou Arruela (assíduo freqüentador do autódromo), confirmou esta versão e o Fitti-Porsche foi sendo depenado aos poucos, quando “retiraram” o motor Volkswagem, a carburação e os amortecedores Koni, sobrando apenas a carenagem, sem vidros e o chassi com a suspensão dianteira, mas sem as rodas.
Segundo o Ney Jackson e o Adilson, eles procuraram a Tereza Guaraciaba e relataram que haviam encontrado o Fitti-Porsche e o estado em que ele se encontrava e ela não teve interesse em ver o carro do jeito que estava (pois o carro era de muita estima do falecido marido) e ele (Adilson) então propôs a compra do Fitti.
Na época, haviam provas da extinta TFL (Turismo Força Livre) e o Adilson queria arrumar o carro e participar da categoria, mas acabou não dando certo, apesar de ter colocado motor do opala 4 cilindros e até ter andado com ele nas ruas da cidade satélite de Sobradinho, ficando com ele por um ano, e posteriormente, o vendeu para um mecânico de Taguatinga.

Esse é o depoimento que estava faltando, do Sr. BRANCO, o último proprietário do Fitti-Porsche…
“O Sr. Branco foi o último proprietário do Fitti-Porsche e o adquiriu através de uma troca por um SP2 “novinho”.
Segundo o Sr. Branco, um senhor cinqüentão, sujeito simples e de boa prosa, recebeu o Fitti sem o motor, com câmbio Volkswagem e as 4 rodas, e posteriormente, instalou o motor de uma Brasília e fez algumas modificações na carenagem (é especialista em fibra de vidro) mudando a traseira que estava reta e aberta (tipo o Porsche 917) e a fez fechada mais ou menos igual a do Ford GT 40 e instalou lanterna do Galaxie 500 67. Na dianteira, fez pequena modificação e instalou o farol da Variante I “e o carro ficou uma Belesura” e o pintou de branco, pois pretendia emplacá-lo, mas ele não tinha o nº do Chassi e logo desistiu da empreitada.
O carro ficava exposto na rua de sua oficina em Taguatinga, na avenida Sandu Norte, chamando muito a atenção de quem passava por lá e foi assim que apareceu um “playboy” e tentou comprar o Fitti, mas ele não aceitou até que apareceu novamente e ele fez a troca por um Dodge Dart cupê e o comprador o colocou em um caminhão boiadeiro e tomou rumo de Betim/MG, dizendo que faria o carro para participar de arrancadas, sendo que, o Sr. Branco não lembra o nome do comprador, apenas informou o rumo que ele teria tomado”.

Enfim, esta é a história da passagem do Fitti-porsche/Volks por Brasília, relatada pela Tereza Guaraciaba, quem o pilotou, o Sr. Adilson quem o “adquiriu” dela e os testemunhos dos Srs. Vicente, piloto e amigo da Tereza e grande conhecedor do automobilismo candango, o Sr. Ney Jackson, assíduo freqüentador do autódromo que participou e testemunhou de parte da sua história aqui em Brasília.
Nota do blog – Comparsas, essa foi uma empreitada danada. A anciedade de logo ter resultados da barata nos envolveu em um stress nunca imaginado. A importância da colaboração do Jovino, foi da mais alta importância. Alias, se não fosse dele a insistência pelo assunto, nada andaria. Material do Joaquim, tambem esclareceu dúvidas sobre sua cara, depois de algumas transformações. Pelo jeito, a saga do Fitti-Porsche ainda não terminou. Ainda nos assombra, no bom sentido, a idéia de encontrá-lo e dar vida a originalidade que marcou sua passagem pelas pistas brasileiras. Quem sabe, ele ainda se encontra disfarçado por aí de carro esporte, pelas ruas e estradas do Triângulo Mineiro?
(reprodução/Site Obvio!/Arquivo Pessoais)

ENCONTRO DO CLUBE NAVAL 2015

Mas uma edição do Encontro de Carros Antigos do Clube Naval de Brasília, que vem se constituindo, como o melhor encontro de carros antigos de Brasília, pelo seu charme, organização e pelo belo clube onde é realizado.

Abaixo, muitas fotos.