segunda-feira, 27 de maio de 2013

25º ENCONTRO DE VEÍCULOS ANTIGOS DO CENTRO OESTE E NIVER DE 30 ANOS DO VCC DE BRASÍLIA

O encontro será realizado na sede do VCC de Brasília na Via EPIA Sul, SPMS, Lote D, na Candangolândia, de 28 a 30 de junho de 2013.


As inscrições poderão serem feitas na sede do clube ou através do fone 61-33012920 com o Luiz.
 
 
O valor da inscrição será de R$ 100,00 para associados e R$ 120,00 para não associados, mas cada participante poderá levar a quantidade de carros que quiserem para serem expostos e pagará apenas uma inscrição que dará direito a um Kit composto por uma sacola com um troféu de participação, boné com o logo do evento do centro oeste e dos 30 anos do clube e uma camisa Polo Vicunha 100% algodão, também, com o logo do evento e dos 30 anos do aniversário do clube.
 
Haverá no dia 28, sábado, as comemorações no salão do clube e serão todas relativas ao evento do Encontro de Veículos Antigos do Centro Oeste, no entanto, referente ao Coquetel no mesmo dia, a noite, perante o salão de festas do Museu Vivo da Memória Candanga, cada sócio do VCC receberá dois (2) convites e aos demais convidados, não sócios, serão vendidos os convites a preço ainda a ser divulgado.
 
O evento tem o patrocínio da AMIL e do Hospital Brasília e dos parceiros Clube de Veículos Antigos de Goiás e da Federação Brasileira de Veículos antigos.



Veja como foi o evento realizado aqui em Brasília em 2011 no Pontão do Lago Sul.



sexta-feira, 24 de maio de 2013

DELLA BARBA RACING

Amigos automobilistas. Veja que coisa mais linda. Os puminhas da equipe Della Barba Racing que disputam a Classic Cup Paulistana estacionados na praça em São Paulo. Três belos puminhas tubarão, o modelo mais bonito fabricado até hoje. Um, com as cores da GULF, empresa de aviação Européia e que ficou famosa patrocinando os famosos Porsches 917 nas 24 horas de Le Mans e que foram estrelas no filme do mesmo nome feito por Steve Maqquem em 1970. O outro, o amarelinho, é o meu preferido e o pratinha, também, muito bonito. Belos felinos e que marcaram época no automobilismo brasileiro.
O grande barato desta categoria que estamos batalhando para criar aqui em Brasília, é a beleza dos modelos que fizeram muito sucesso nos anos 60/70 e 80, época de um automobilismo romântico e que nos dá saudades quando vimos o rumo que o nosso esporte a motor tomou com tantas bolhas que compõem o automobilismo atual.
Não que sejamos românticos demais, mas os designers da época, não se apegavam à túneis de ventos para fazerem as suas criações e a beleza era valorizada.
Por isto, a categoria faz tanto sucesso hoje em alguns Estados do Sul e sudeste onde são realizadas.
 
 

terça-feira, 21 de maio de 2013

A MELHOR CORRIDA - RICARDO ACHCAR

A super matéria abaixo me foi enviada por Ricardo Achcar. Imperdível.

ricardo@achcar.com

"A melhor corrida?
O tempo marcha nos alcançando e na medida em que vamos virando história muitas pessoas pergunta aos pilotos qual foi sua melhor corrida. Nesta altura penso no Rubens Barrichello com seu extraordinário recorde de presenças em GP e enorme experiência pouco aproveitada nos tempos em que vivemos uma categoria principal de vendas de assentos. Imagino que enorme contribuição ele poderia dar participando dos Grandes Prêmios da atualidade que seriam incorporadas nos carros de competição em benefício do universo automobilístico. Esse nível de experiência não se colocando a serviço é uma perda irreparável para o esporte motor.

Por isso, fico dando cambalhotas de alegria quando o Kimmi Raikonnen mandou via radio/voz o engenheiro com seus gráficos la no box ficar calado que ele sabia o que estava fazendo naquele grande premio de Abu Dhabi .

É "um" tal de meter a colher de pau em todo canto nos dias que vivemos de arrepiar os cabelos. Como se estes pudessem prever o imprevisível. Podem anunciar uma possibilidade de problema e ocorrência através dos sensores transmissores instalados o que já é bastante futurístico, pois é a finalidade da observação nas telas nos boxes, mas propor uma variante que depende da pilotagem se torna uma perigosa invasão.

Eu acredito que um piloto tenha nestas condições uma posição indiscutível de visão antecipada do que pode ocorrer, interpretando o aviso. O conceito de competição na Fórmula 1 está sem dúvida fora da realidade. Muita interferência vocal e especialmente desconcentração do piloto estão inseridas neste contexto. Eu posso afirmar que em condição de ataque ou defesa no transcurso da competição, um piloto articula com grande antecipação onde e como pode eventualmente segurar um adversário ou ultrapassa-lo cujos limites gerais, máquina e piloto se equivalem muito nos que estão no topo da linha. É literalmente um jogo semelhante ao Xadrez. A estratégia se encontra na antecipação.

Em 1970 no torneio que foi complicado para mim, denominado por BUA - British United Airways, durante a prova do Rio de Janeiro, na segunda bateria - eu fora obrigado a sair em último lugar na primeira bateria porque não pudera classificar com um motor onde se encontrou um parafuso cravado no pistão... e não pude classificar - portanto, saindo em 12º lugar alcancei o líder Emerson Fittipaldi na sétima volta e conseguira no vácuo finalmente ultrapassar no final da reta antes da Sul. Emerson tinha na sua equipe Lotus cinco motores Holbay disponíveis e eu tinha um motor Steel na minha Lola T210. Ficou logo evidenciado de que ele tinha aquele cabelo a mais de motor, mas eu tinha o controle absoluto da pista.

Emerson tentou durante duas voltas onde podia passar que era onde eu o havia passado, sem sucesso, no final do retão antes da curva Sul. Eu sabia que em algum 
momento ele iria me passar e eu teria todo o trabalho de novo para recuperar, sabendo que ele iria se defender melhor desta feita. No entanto eu me preparei por duas voltas numa trajetória regular tangenciada enquanto eu sabia fazer a Norte por cima na rampa e na terceira volta surpreendi o Emerson que achou que eu estava perdendo o controle do carro e sai uns vinte metros na frente dele no retão o que me permitiu com muito mais carro no chão abrir onze segundo de frente até...acabar a gasolina.

Mas isso é outra história...Mas é um exemplo claro do quanto o piloto precisa de concentração e estratégia por conta própria sem interferências...


posso mensurar apesar de alguns não terem feito nada diretamente para minha pessoa, mas para o bem do circo, estivesse o circo no nível que fosse, de Formula Ford a Formula 1. Para muito bem do circo que é o esporte motor quando esporte motor.

De alguma maneira o Chris Steel, fabricante certificado pela Ford para fazer os motores Steel já estava incomodado havia algum tempo. Havia feito mais de uma dúzia de motores para testes de motores e carros inclusive dos pneus F 100 Firestone destinados

Outro percalço mortal é o da administração do desgaste dos pneus. Este fator então simplesmente destruiu boa parte do conceito absoluto do heptacampeão Schumaker. Assistam a largada no Youtube do grande premio de Monza de 1973, por exemplo, entre outros mil e imaginem alguém pensando em administrar o desgaste dos pneus...Peroba Bueno...- o Luzinho Pereira Bueno - costumava "roncar cavernosamente" com seu vozeirão de baixo tenor, algumas irreproduzíveis palavras que explicavam bem o assunto que se resumia no seguinte: onde começa a pilotagem e onde começa a administração e sobretudo: porque ter que administrar uma corrida de Formula 1?

Vendo Peter Gethin na largada e primeira volta do GP de Monza você vê e duvida daquele carro na parabólica, na ponta e nas quatro em derrapagem controlada e ainda assiste a manada toda na mesma batida. Sim, era mais perigoso, havia menos proteção e matava mais. Era a Fórmula 1.

Mas a pergunta a ser respondida é outra. Estou de fato curvando por fora por causa da chuva. Já vou trilhar de novo...

Muitas horas de recapitulação transcorreram na minha mente agradecida por estas perguntas diretas e impossíveis de ser respondida sem um embaço no canto do olho. Daí... perdi a trilha e ia indo por fora...

Sim. A Melhor Corrida...

Vou me ater a uma dessas Etapas do Tempo porque envolve personagens a quem devo o
que não
a Formula Ford em substituição aos Avons Cross Ply. Ainda, lutou muito para conseguir convencer o mago John Webb da administração das pistas de competição privatizadas da Inglaterra, precursor absoluto do gênio que veio a ser o Eckelstone. Em todos os testes os tempos baixavam com os ajustes do piloto brasileiro. O cara precisava voltar para as pistas. 1970 "estava" a chegar há alguns meses e a Formula Ford, a mais poderosa do mundo em produção e numero de participações nacional e estrangeira crescia de forma exponencial. A America, via Carl Haas, já falava abertamente na importação de 250 monopostos e a briga ia ser fenomenal na área dos certificadores de motor porque o padrão Inglês iria ser seguido à risca em termos de regulamento apesar do motor "Cortina" ser desenho e produção da Ford Inglaterra. Mas esta tinha sido a exigência da FIA onde, pressionava com muito respeito que detinha o próprio John Webb. Webb sonhava com a possibilidade da integração americana e estrangeira intercontinental na Fórmula Ford na Inglaterra, porque barata, lógica e por todos reconhecidos como fomentadora do esporte motor, nos faz hoje enxergar, décadas após o fato, o quanto o Bernie seguiu o roteiro num plano mais elevado graças a TV....

A Fórmula Ford era a menina dos olhos do esporte motor vinte anos depois da guerra e representava o nicho mais importante da evolução da indústria do país que se revelava extraordinariamente parecido e em paralelo ao que Reginald Joseph Mitchell havia inoculado no orgulho da Inglaterra com o seu Spitfire Supermarine, aquele avião que havia sido projetado para vencer em corridas aeronáuticas e acabou vencendo a batalha da Inglaterra.

O país pulava de uma indústria automotiva caquética, conservadora, retrograda porem plena de clichês burgueses com suas deliciosas viaturas monolíticas onde o conceito de penetração aerodinâmica terminava na ponta do nostálgico cachimbo do cidadão. Quanto charme este carros tinham e como eram ineficientes ao ponto de ser deficientes e parcialmente paraplégicos e sem recursos...Mas o Spitfire...

Quem conhece o histórico caso da Pointe du Hoc da segunda guerra mundial horas antes do desembarque no dia 6 de junho de 1944, penetra devagar mas com segurança na formidável noção de comando histórico que se não se encontra acesa ou inflamada, rescalda infinitamente no bojo estomacal de qualquer Inglês. Aquilo é latente. 
Eles jamais largariam o cetro reinante do esporte motor sob todas e totais facetas a cada passo que o automobilismo dava se expandindo mundo afora. Eles haviam enxergado a chama do desafio, A APOSTA, veneno mortal da alma britânica. Quem conviveu com eles em todas as classes e níveis percebe o infinito desejo de desafio do impossível com fleuma, certo desdém, mas infinito orgulho e prestem bem atenção: compartilhado. Lá no Pub, todos os dias nos horários que a rainha permitia. Todos se reconhecem todos se respeitam, todos observam seu nível de ascensão, vitória, desafio e todos buscam um meio legítimo de compartilhar expondo igualmente até onde chegaram entre si para a glória total e completa da nação britânica. Por isso tem monarquia democrática com reclamação, desdém, crítica e um infinito amor.

Aprendi na Inglaterra que o provável único meio de você desarmar completamente um Inglês e dizer - Help me!

É indefensável. Você irá encontrar a justa ajuda sempre que esta for justa no sentido de te colocar em pé de igualdade como indivíduo. Você também vai encontrar a dura cobrança pela sua invocação. Acredite: caminhar em direção de bem suceder para não chamar de sucesso é a forma mais plena de satisfazer sem mais comentários ou sequer lembrança de um dia ter ajudado um cidadão de respeito britânico.

E, o Chris Steel, anteriormente engenheiro de torpedos estava profundamente incomodado.

Chris entendia muito bem que os treinamentos e ajustes de carros de outros pilotos bem como os testes de equipamentos estava suprindo o piloto brasileiro com bons meios de sobrevivência, mas ele achava que o cara valia mais do que isso para ele mesmo tanto quanto para si, Chris Steele. Sua experiência com o Australiano Tim Shenken e um tri campeonato Inglês lhe davam uma envergadura e presença no meio do esporte motor bastante importante. Mas, aquilo era o esporte motor. O rei morreu, viva o rei. Shenken se fora a caminho da F III e em busca de continuidade na carreira. Chris pensava muito em se envolver em F III, F II e talvez mais adiante quem sabe...

O caminho mais curto estava decididamente no campo da Lola com seu envolvimento nos EUA e o presidente da Associação de Pilotos de Gran Prix, Joachim Bonnier que era especialmente simpático com a ideia do Brasil voltar a brilhar no esporte motor como fora nos anos pós-guerra. Já havia demonstrado enorme simpatia pela dupla apresentada por Stirling Moss e especialmente comentara sobre o jeito de ajustar carros que um dos pilotos demonstrava secundando o Chris nos testes de pista.

Queimando suas meninges, Chris finalmente resolveu telefonar para a Merlyn em Colchester e falar com o Selwyn Hayward, fundador e proprietário da pequena empresa joia do esporte motor britânico. Selwyn é um nome que merece respeito e lembrança de ter nos deixado em Março de 2012.

Com sua autoridade de campeão tri com os carros Merlyn, explicou com detalhe o acidente e perda total do monoposto em Oulton Park de um dos pilotos da Equipe do Stirling Moss. Isso o estava impedindo de prosseguir no campeonato e o Moss já havia 
gasto um bom dinheiro com o acidente do outro piloto logo na sua estreia. Havia alem do mais muitas dificuldades de receberem os dinheiros dos patrocinadores no Brasil mensalmente. Estava difícil conseguir repor o piloto nas pistas e queria saber se poderia contar com a ajuda da Merlyn.

Selwyn aparentemente não entendeu bem e retrucou ao Chris que estava com a produção totalmente vendida e com entregas de quatro meses a completar, portanto o que ele poderia esperar que pudesse fazer. Chris retrucou perguntando se não tinha um carro de teste que pudesse dar conta do recado. Aparentemente, Selwyn não querendo negar nada ao Chris a quem de alguma forma devia muito do sucesso, lhe disse então: "temos aqui um chassi e triângulos montados no monoposto que o Teddy Pillete pilotou em 63 pendurado na parede, é a única coisa que poderíamos pensar em usar". Nisso o Chris agradeceu, disse que iria pensar no assunto e retornaria se fosse o caso.

Cerca de três dias depois de sair fumaça da cabeça o Chris me chamou para testar o carro do piloto Geddes Yates filho de família abastada que estava vendo as nuvens passar com o carro e precisava de um piloto de teste que o auxiliasse a ajustar a máquina. Agradeci, já eram mais uns trocados que me entrava ao bolso e marcamos para a quarta feira de testes livres em Brands Hatch.

Yates era mais do que simpático e obviamente um decidido piloto amador. Mas como com os Ingleses não se pode achar nada com antecedência e de repente morde-lhe a mosca azul e o cara resolve ser piloto de competição ainda por cima com meios, eu me empenhei a rever a máquina dele e dei um bom trabalho aos mecânicos. O carro estava necessitando realmente de um ajuste competente. Sentamos alternadamente no carro para andar no circuito clube em séries de quatro voltas com cronometro ativo. Consegui colocar o carro a oito décimos do recorde da pista e Yates melhorou cerca e dois segundos na melhor volta o que era um máximo num circuito clube. Estava exultante e aproveitou para me apresentar o Vern Schuppan. Vern fez de
tudo para me levar para a Austrália onde ao longo dos anos se tornou uma figura importante no esporte motor na Nova Zelândia, Austrália e principalmente no Japão onde fez fortuna ao longo de uma carreira muito interessante.

Enquanto Yates ficara feliz com os resultados, o Vern que conhecia a rota pregressa do Yates ficou absolutamente atônito com o resultado. Ele me encostava à parede do box e me perguntava como é que podia fazer aquilo que eu conseguira em quinze a vinte voltas. Então me contou a trajetória de Yates em alguns meses correndo com oficinas especializadas, equipes de teste e bastante dinheiro sem nunca conseguir chegar a resultado sequer satisfatório. O que o Vern não sabia era que o Yates sabia ouvir e interpretava muito bem e me alcançou rapidamente se valendo de algumas informações de cocheira necessárias, mas que são em 95% dos casos inúteis para a maioria dos pilotos que tive contato em pista. Ele entendeu de imediato que a função do estabilizador naquela pista e em duas curvas exercia função negativa se o traçado fosse ortodoxo, tipo instrução de quadro negro. Isso lhe valeu destarte uma resposta no acelerador que inicialmente o assustou conforme comentou comigo. Mas teve coragem de se valer da informação e em meia dúzia de voltas pegou o jeito. Yates teria tido sua oportunidade se fosse levar o caso a sério e eu tive esperança de que talvez viéssemos a fazer uma equipe. Acho que se manteve muito bem no esporte até cerca de dois anos que o conheci. O Chris também navegou nessa ilusão, mas...acredito que a família cortou-lhe as azas.

Entretanto Chris comentou comigo o caso da "mula"do Selwyn la em Colchester e eu fui em busca das fotos do carro e finalmente pedi para o Chris se ele conseguiria estabilizadores do MK11A e um jogo de amortecedores Spax novos com a Spax fábrica. Os estabilizadores tipo invertidos do MK 7F II seriam impróprios para os modernos F 100 radiais, essa era a minha previsão devido a uma experiência muito segura que tive com os Cinturatos VR e HS o que pouca gente sequer tinha ideia do que se tratava nos anos que fui campeão Carioca e Brasileiro como piloto contratado da equipe Fittipaldi em Formula Vê.

Ter uma noção sensitiva do que pode fazer um estabilizador em monoposto que entra em ciclagem com a mola helicoidal é muito importante especialmente usando pneus de pressão media alta o que é o oposto da presente realidade. Experiência nesse campo transcende o tempo e tem um valor inestimável e que demonstra a importância do exercício do piloto aspirante na pilotagem em pneus radiais de alta deformação, baixo coeficiente de aderência, resvalo ao solo (fator visceralmente importante porque é a origem radical do "stitching" mortal nos pneus de competição da atualidade). O maldito 
pneu "slick" mascara por completo todos estes efeitos a ponto da engenharia da atualidade que sabe pouquíssimo sobre pneus - todo engenheiro conhece apenas um "pedaço"- se vale descaradamente a "acertar" o carro - estamos falando de monopostos na Fórmula 1 - baixando ou elevando, leiam bem ; meia libra de pressão a mais ou menos nos pneus porque o piloto não tem a sensibilidade da suspensão sob o efeito Down Force que se altera de acordo com a velocidade de tráfego, para se balizar. Daí a importância da experiência indispensável do uso do pneu radial de rua em competição de monopostos escola. Atualmente na F-1 o piloto é balizado via rádio do box para ajustar pela tela do engenheiro.

Por isso a Formula Ford Kent em 2013 conseguiu se manter viva na Inglaterra quase cinquenta anos depois de nascer. O piloto necessita de um ano sério de kart/slick para dominar telemetria e labirinto. Um kart pode simular a velocidade de 300 quilômetros por hora porque rola ao rés do chão. No mínimo um ano de Fórmula Ford Kent radial ou nunca mais teremos um piloto brasileiro na F 1. É no que acredito.

Quando Chris retornou uma ligação telefônica para o Selwyn, confirmando o interesse em rever o caso do chassi pendurado, disse-me ele posteriormente que o Selwyn ficou meio que mudo. Finalmente retrucou: Chris, eu não tive tempo de te dar detalhes. O chassi tem um empeno diagonal. Eu não tenho a menor condição de coloca-lo no gabarito porque a estrutura é similar, mas não é igual ao chassi da serie atual. Chris perguntou de quanto era o empeno e o Selwyn disse que não sabia, mas era de pancada de subida em calçada em Mônaco...


Ele estimava em torno de uma polegada diagonal. Chris pediu um tempo e que ligaria de volta. Pegou o telefone e me chamou no hotel no dia seguinte cedo. Foi narrando o assunto com detalhes mais me consultando do que outra coisa, sem muito entusiasmo. Definitivamente me expondo uma situação onde ele demonstrava o seu empenho me beneficiar com o que fosse possível para que voltasse para as pistas.

Quando eu lhe disse que fossemos pegar essa "Mula" que eu achava que dava para dar um jeito, ele é que ficou mudo. Passado um tempo de silêncio, Chris me disse algo que me tem em inestimável valor: "If you say so I am not here to say no. Lets go". Se você assim diz eu não tenho como dizer não. Vamos lá. Falou o Britânico. 
Vinha essa confiança de "masmorrentas" brigas ocorridas nas pistas onde resta uma testemunha chamada Antônio Ferreirinha. Chris nunca soube as vezes que correu o risco de levar uma tamancada do Português no meio da cara. Mas tivemos alguns pegas sobre o assunto acerto de carro e performance de motor dignas de um livro. Num destes memoráveis, o Chris me botou no carro pelas mãos do Antônio e do Peter Hull - saudades desse Neo Zelândes piloto, jornalista e mecânico - o que ele denominou como sendo o melhor motor que saiu do dinamômetro e pediu para irmos para a pista testar.

Ao cabo de uma dúzia de voltas, já não me ocorre com precisão eu notei um queda de duzentos giros no final da reta de Brands Hatch Club Circuit que era um ponto de referencia de piloto, portanto coisa de piloto. Como o conta giros era do tipo espia da Smith, ao parar no box e o Chris me perguntar se estava com problemas no carro - ele já queria o recorde da pista, nada mais do que isso - eu lhe retruquei que não. Informei que o motor havia perdido duzentos giros na final. Chris ficou pálido e roxo ao mesmo tempo e de repente explodiu de voz mansa com os olhos injetados e para os ouvidos de todos à volta me disse em pleno inglês: "como você seu macaco marron do brasil tem coragem de me dizer que este motor perdeu duzentos giros?" No que eu lhe disse britanicamente: "Perdeu duzentos giros e é uma válvula de descarga do terceiro cilindro que está vazando".

Nova explosão espumante do Chris: "como você pode afirmar isso olhando para essa porra de carro"? Posso Chris porque na minha terra de macacos eu não tenho dinamômetro. Eu só posso enfiar o dedo na descarga, enxergar a cor que me vem ao dedo, colocar a mão sobre cada cabo de vela junto à porcelana da vela e sentir a temperatura, a que estiver mais fria é a sua alma. Chris ficou mudo um tempo depois disse vamos levar agora este carro para a oficina dos motores e o Antônio vai se ferrar para tirar o motor sozinho. Assim a foto ao lado mostra o dia em que o Chris viu o querosene vazar do terceiro cilindro do cabeçote de cabeça para baixo que ele colocou na bancada. Depois, parou e pediu para o Pete Hull fechar as janelas e portas. Apagou a luz e nos
 
convidou para jantar. Aí ninguém acreditou. Ele teve que insistir. Como o Pete Hull era um gozador nato, Neo Zelandês é uma "figuraço" por natureza, estranhou o Chris Steel que foi logo lhe dando uns coices a moda inglesa no que o Pete "emburacou a viola". Um jantar pago pelo Chris era motivo de uma publicação na revista de esporte motor da Nova Zelândia onde o Pete rabiscava. Bicho, o inglês era pão duro!

Daí, um chassi torto apenas uma polegada na diagonal não era motivo de ele Chris a esta altura se preocupar. Tinha que arrumar os amortecedores. Isso sim ia lhe custar às lágrimas...


Dois dias depois o Pete Hull me telefonou da oficina Steel de motores e me informou que havia rebocado na carreta da empresa desde Colchester a até a oficina e que o "assunto" estava a minha disposição. Perguntou quando eu poderia dar presença em Swanley. Disse-me ainda que o Chris quisesse que eu fosse inscrito para Mallory Park no Domingo - campeonato Inglês Les Leston - seguinte à semana que estávamos. Tinha que me inscrever como independente. Era uma quinta-feira e Pete ainda me sugeriu que desse um pulo na oficina do Stirling Moss onde o meu monoposto destruído se encontrava e avaliasse as peças que poderiam servir na montagem do conjunto que ele trouxera de Colchester. Eu entendi a mensagem do Pete, mas também fiz cara dura e não perguntei mais nada. Tinha chegado no limite do bolso dele.

Fui com Antonio e fizemos um levantamento do podia servir na remontagem do monoposto que a Merlyn emprestara. Dentre as boas coisas, eles haviam claramente entendido que eu nunca teria um radiador de água/óleo combinado salvo do acidente em Outon Park onde doze carros foram pelos ares e eu capotei acredito umas três vezes ponta cabeça. Tudo por um erro de cronometragem razoavelmente típico nos idos dos tempos. Minha cronometragem do box me colocava com o segundo tempo. Outros competidores haviam sofrido o mesmo engano de maneira que a mixagem da largada estava verdadeiramente perigosa. Mas não havia nada que se pudesse fazer e muito menos atrasar o expediente do programa de competições. Afinal era a prática normal classificar pela manhã em vinte minutos e alinhar para competir na parte da tarde em horário cronômetro. Luiz achava que tinha sido cronometrado com o primeiro tempo no nosso box e acabou ficando por sorte com o segundo tempo. O grupo de carros em que se encontrava na largada passou para o que logo a seguir virou um amontoado de carros logo antes da Old Hall Corner após os boxes. Foi infernal. Acabei perdendo temporariamente a visão do olho esquerdo e abri uma brecha enorme em ambas as mãos diante do reflexo condicionado de levantar os braços para não ser ejetado apesar do cinto de seis pontos. Virado ao solo na final da capotagem, o asfalto lixou minhas mão em regra. A gasolina saia do pescador no pico do Sto. Antônio e se derramava na 
minha cara, macacão, capacete enquanto eu me refazia do susto de ver as fagulhas enormes do Sto. Antônio raspando o chão. Há dois metros do meu cockpit de cabeça para baixo a Lianne Engemann gemia com o braço quebrado presa nos destroços. Nunca vou me esquecer de que quando consegui me desvencilhar do carro corri para a mureta de madeira e barranco e me sentei em cima. Então me dei conta do silêncio que reinava nas pistas onde ao redor milhares de espectadores se encontravam totalmente mudos. Ao longo de um tempo breve começamos a ouvir o zunido de abelhas que se transformou gradualmente no ronco dos motores dos que haviam passado pelo acidente e o diretor de prova correndo ao centro do asfalto com a bandeira vermelha, desesperado que alguém passasse do ponto crítico.

Uma imagem que ficou para sempre.

Depois que a adrenalina se diluiu e que vem o impacto que pode gerar uma eclampse, fiquei junto com outros por duas horas até que me liberaram. Chris e minha namorada a Paula na época me levaram no carro dele para o hotel pensão Trevose em Londres. Uma viagem de seis horas na época de Chester para Londres. Fui dormindo no banco de trás e acordei dois dias depois do evento no quarto do hotel recuperado da vista e com as mãos ardendo.

Um fim de semana de setenta horas transcorreu em intenso trabalho com Ferreirinha, Hull e eu montando o que veio a se transformar num monoposto. Ao cabo do trabalho, quando eu pedi para o Pete sentar no carro para calibrar a torção do chassi com combustível e carga de rolagem, o Hull me olhou de cima abaixo e me disse: "você vai mesmo sentar de vez nesse troço e acabar com sua reputação e carreira"? No que eu lhe respondi: - a carreira provavelmente já terminou. O sucesso do Emerson ascendendo a F III com a ajuda do Jim Russell e mais algumas outras vai direcionar os olhos do Brasil e patrocinadores exclusivamente para ele. O Brasil só sabe jogar na exclusividade. Não compartilha e não vai para lado algum. É o complexo de ser "one show man". "Quando terminar esta temporada, venha passar um tempo comigo no Brasil". E o Pete Hull veio e conheceu a terrinha e pôde enxergar como jornalista como funciona isso aqui. 
A essa altura eu me distanciava do Luizinho por força igualmente de sua decisão em disputar o campeonato Inglês onde já se colocava com brilho. A cada um sua colher de pau. O campeonato Inglês de Formula Ford Les Leston, não significava nada para mim. Eu sabia no meu íntimo que eu precisava ser adotado por uma fábrica como piloto de teste, porque isso era o que valia na época. Depois tudo viria de forma muito mais efetiva e independente da forma total da dependência de patrocínio absoluto e direto. Também, não podia em momento algum esquecer que eu era Carioca. Onde se vira um Carioca andar de carro? Afinal, automobilismo era em São Paulo onde tudo acontecia na tradicional fantástica pista de Interlagos.

Naquele tempo saber acertar um carro não era o procedimento principal de engenharia. Cabia ao piloto corrigir a engenharia nos detalhes que resultavam em desempenho efetivo. Na atualidade fica a cargo da interpretação telemétrica salvo quando um piloto do calibre do Alonso muda o traçado e destrói a hipotética telemetria. Pneus slick que nada representam para a indústria automotiva e primordialmente azas e barbatanas que produzem efeitos que
não fazem curva
e todo o mundo se esquece disso, definem aquilo que já de há muito não é um carro de competição de pista. O monoposto da atualidade é um veículo de competição híbrido no que tange o conceito de um carro de competição. Se ficassem apenas os pneus slicks, haveria ampla justificativa porque a composição deste produto altamente sofisticado e amplamente desconhecido poderia descontar o efeito "down force"/ dito efeito solo ou aza invertida. Neste caso a engenharia subtrairia um enorme dado inconstante da equação desempenho e segurança, bem como aumentaria de forma exponencial o valor específico do piloto na concepção fundamental da sua capacidade pessoal e habilidade esportiva. O maior exemplo na atualidade do efeito negativo dos dados expostos neste contexto está diretamente relacionado com o desempenho diferente para não se expressar outra coisa do hepta campeão Michael Schumaker. Dizem que ficou velho. Schumaker está na idade exata de ser um candidato a se tornar astronauta. Onde um Barrichello ficou velho? Que conceito de avaliação nos trás este tipo de julgamento? O INEXPLICÁVEL e algumas interpretações globais.... que infelizmente pesam.

De fato um piloto envelhece para esta atividade muito mais cedo do que para outras atividades. Mas este envelhecimento tem que se correlacionar com algo um pouco mais tangível do que a afirmação de ficou "velho". Este esporte está queimando etapas em todos os sentidos e nós estamos dando força para o inexplicável e idiota. 
O grande Ayrton Senna ficou ultra vulnerável na troca que fez entre a Mc Laren e a Williams no seu tempo final de atuação. Por quê? Porque as alterações feitas pela FIA para o ano em que o Ayrton iria pilotar a Williams tida como o carro vencedor indiscutível, aleijava o monoposto especialmente na questão da retirada da suspensão ativa. E não foi somente por este principal aspecto mecânico. Houve outros, mas este foi o principal somado ao que se segue. A responsabilidade pública que Ayrton assumiu muito bem impulsionado pela imprensa nacional exponencialmente convergente no tema do sucesso ou nada. Ninguém é de ferro. Ayrton morreu seis meses antes, esta é minha opinião de uma forma de morte anunciada para quem soubesse ler nas entrelinhas dos eventos que se precipitaram de forma unidirecional e repito: convergente.
Por exemplo, nos treinos em Interlagos da F-1 no fatídico ano e que aconteceu justamente antes de Ímola, fui assistir os treinos com o Chico Lameirão. Caminhamos pela pista portando nossas credenciais e fomos onde cabia mais assistir, ou seja, para a curva da junção. A curva da junção em Interlagos apresenta um conjunto de situações exclusivas particularmente para quem testa para ajustar um monoposto. O motivo técnico dessa realidade de um trecho que graças a Deus ninguém de fato mexeu se define em vários pontos. Salvo um amplo alargamento como área de erro ou escape de pista que de fato abriu as comportas para se engajar em barbeiragens anteriormente imperdoáveis, o trecho é tecnicamente espetacular, senão vejamos:

a- o trecho em descida saindo do cotovelo e fazendo tomada cautelosa para se poder abrir o mais cedo possível o acelerador ao máximo para encher o motor ao ponto de permitir uma troca de marcha, implica em conhecer muito bem o ponto de frenagem.

b - este ponto de frenagem é profundo e de pico. Nesse ponto você carrega a massa de transferência do carro toda para frente e no instante que relaxa o freio já exerce rápida rotação do volante para a esquerda.

c - Neste movimento a cabeça do piloto já conta com um ligeiro sobre esterçar advindo do início de subida que pode gerar um "bottoming" - bater o fundo do chassi ao solo - muito propício nesse trecho, ou seja, fim de curso de suspensão traseira ao se comprimir por retorno anterior da massa da frenagem e compressão do eixo traseiro devido a novo rumo inverso em ascensão produzido pela aceleração. O monoposto ataca a subida de um instante para o outro. Todos os elementos conhecidos nos termos ingleses de movimento do chassi ocorrem naquele trecho curto, Yawing, Diving e Squating , rotação axial no centro do carro, mergulho por compressão devido a subida, compressão devido a mudança de pressão no eixo traseiro. Em monoposto estes
movimentos são drásticos. Em F- 1 não se fala. São brutais e a previsibilidade do piloto está no pico máximo do possível. Sem a suspensão ativa Ayrton deu uma rodada naquele ponto, nitidamente sobre o eixo traseiro que deixou o Chico e eu de cabelo em pé. O Chico ainda se virou para mim e disse na minha cara a queima roupa: ele vai se matar. Eu retruquei, porque você acha assim? No qual o Chico me olhou fixamente e percebendo que eu sabia exatamente o que se dera naquele ponto, sem hesitação, sacudiu a cabeça e me mandou a merda.

A suspensão ativa agora ausente somada a outros fatores secundários não iriam perdoar Ayrton em Ímola ou mais adiante. A pressão do jovem Shumacker em plena ascensão sob o comando do Briattore era outro problema considerável, agora com um uma Williams muito inferior ao que fora na temporada passada....

A esperança era que o triangulo de suspensão não tivesse "rotacionado",quebrado e entrado por dentro do capacete do incrível campeão. Só do impacto havia muita esperança. Afinal ele ainda havia trocado três marchas quando ficou sem...a coluna de direção. Mas isso é outra história.
Quando o Chris apareceu na segunda à tarde na fábrica, era um sorriso só. Havia vendido duas dúzias de motores. O Yaetes botara a boca no mundo e o Schuppen assinava em baixo. Os motores eram o diabo e o teste comprovara isso. E o que a gente podia esperar mais? Ele queria o carro do Yaetes voando e voando o carro estava. E o Chris estava feliz.
Sem menos avisar o Chris se virou para dentro do galpão e se deparou com aquilo - the thing - como apelidou.

Quando se voltou para nós era outra pessoa. O Antonio logo pressentiu que vinha porcaria e saiu do salão para acender um cigarro do lado de fora no pátio. Logo o Inglês perguntou se eu estava doido e como é que eu teria cara de me apresentar com aquele carro. Ele entendia que a carroceria do Merlyn original do MK11A que era integralmente escamoteável pudesse simplesmente vestir o MK 7 F II. Nem tão pouco imaginara que a carroceria do meu carro ficara em frangalhos. Finalmente entendemos porque o desespero do Chris. A pista de Brands Hatch naquela quarta-feira de treinos livres havia sido alugada pela Cosworth em associação com a Ford Inglaterra para uns ensaios de motores da F-1. No final das contas essa alocação foi cancelada e o fato é que não havia dinheiro para se alugar espaço em outra pista mais ou menos próxima assim como o Chris queria ajudar, mas não despender... Finalmente ele acabou se estourando e dizendo que não poderia participar de fiasco, mas que me dava força e que eu podia usar o motor na corrida. Ele não compareceria. Não podia correr este risco pessoal. Desejava-me boa sorte. Proibiu o Pete Hull de ir a Mallory portando o macacão Steel. O
Pete era mais duro do que pau Brasil e o Antonio finalmente segurou a barra toda sozinho com alguma ajuda minha.
Naquela manhã de Sábado estávamos meio que esfomeados. O raio do dinheiro do patrocinador Shell-Rhodia-Tergal, a parte que me cabia não havia chegado. Estávamos bem apertados e a ausência do Steel não ajudava em nada. Antônio e eu, éramos dois independentes alinhando uma possibilidade. Um sentimento de solidão reinava com o Antônio resmungando cavernoso que aquilo era o final. Carioca de merda metido a besta vai aprender agora a varrer oficina com o Peter Hull, resmungava. Os pneus estão uma merda fora do regulamento. Não vai passar no "scruteneering" resmungava. Mas vai dar para fazer o treino e ver às quantas andam essa "xabironga", dizia eu para o Português muito mal encarado naquela manhã e com fome. Tínhamos praticamente dormido ao relento. Antonio não cabia no meu Mini 850cc que eu puxava a carreta. Foi encostar-se ao trailer de algum piloto. Não o vira mais aquela noite. Eu pensava nas duzentas e poucas libras que gastara do meu bolso para botar aquele espantalho de pé e assim mesmo visivelmente "naufragante" a estibordo. Eu havia compensado o máximo possível nas molas o aspecto visual, mas o que me interessava era equalizar o peso diagonal do chassi torto para poder fazer o máximo uso dos estabilizadores regulados na proporção do empeno do chassi. Antônio sabia que isso além de difícil só pode ser feito com pelo menos duas pessoas que conheçam muito bem o assunto num piso nivelado à zero. Antônio era alto para as proporções de trabalho num monoposto e estava com as costas em frangalhos da noite mal dormida. De repente deu um chilique e me interpelou a ir num bar comer alguma coisa e pensar. Pensar e resmungava. Fiquei olhando para os "olhões" verdes avermelhados e achei que o Antônio estava com setenta anos. Finalmente entendi que ele queria que o "Turco" fdp coçasse os bolsos e se entregasse a Edesia num banquete de "fish & ships"...Fomos a um boteco in Inglês depois que nos asseguramos que nossa série de treino seria a partir das 14:00 por trinta minutos. Para mim era o suficiente para definir o comportamento do carro. Antônio havia escalonado a caixa de câmbio de acordo com o que havíamos usado na vitória anterior naquela pista e o motor que o Steel nos havia cedido tinha duas corridas e fora revisado. Na Formula Ford aquilo era considerado bom. O problema era do nosso lado, calibrar o chassi, acertar a geometria da suspensão, regular a equivalência das pressões das molas, ajustar corretamente a melhor altura de chassi ao solo e corrigir milimetricamente a posição da caixa de direção para ter um Ackermann com mais ou menos 3% de variação de roda a roda interna para 15

externa a cada 5 graus de convergência. Isso me dava condição de determinar a convergência ideal que eu determinaria para aquela pista, temperatura e a crucial oleosidade do asfalto. Esse treino se dava no Sábado em horário idêntico ao da corrida no Domingo. Em princípio as condições deveriam se repetir. Antônio me martelava essa informação a cada meia hora. Ele sabia que eu usava pressão de pneus completamente diferente da maioria dos pilotos e isso era visível nas fotos frontais em saída de curva.

A Fórmula Vê com seu eixo rígido dianteiro e seu sistema crítico do sistema direção baseado na caixa de setor e sem fim tinha sido uma escola de acerto de carro imbatível. Nos idos dos anos 66 a 68 eu havia captado um pouco do gênio de Dr. Porsche no desenho daquele sistema de direção no VW Fusca onde ele genialmente compensara a recomendação Ackermann de sua época com uma variação nos pontos de fixação defasada dos terminais de direção no braço Pittman. Até 22 graus e sem offset positivo a eficiência do sistema era indiscutível. Passando desse ponto o carro não faz curva e tende a fincar a frente ao solo e capotar especialmente se o "envenenador" de suspensão resolver botar camber negativo nas rodas dianteiras. Mas 22 graus de esterço já é pedir saudades de casa antecipadas. Alguma besteira terá sido feita para exigir uma correção dessa grandeza.
A curva Sul do final da reta do Autódromo do Rio na época da Formula Vê era um divisor absoluto entre pilotos e vitórias. A Um e a Dois, embutidas na velocidade em Interlagos era mais crítica, mas permitia alguma correção. A curva Sul do Rio era pé a pleno no final do curso do acelerador cravando 146 quilômetros por hora sem mexer o calçado na pressão do acelerador. Era uma tangência, escorregamento de traseira a mais ou menos 6 a 8 graus e controle até o cascalho onde começava a meia reta. Andando atrás do Emerson ou do Moco a um metro de distância, especialmente o Emerson, era impressionante. Era impressionante ver aquela traseira navegando tal qual um barco a deriva e retornado ao ponto de prumo. Bem ao final da Sul logo adiante podia se fazer uma suave correção para não perder giro. Isso tudo em cima de pneus radiais Cinturato de 4 1/2 polegadas de tala centrado. Era uma escola. Adiante se revelou um passaporte em muitas pistas especialmente em Spa-Francorchamps a de apavorantes 14,300 metros. Aliviando o mínimo o acelerador era ver três carros voarem a sua frente. A Formula Vê foi um exercício de controle completo imbatível porque era totalmente deficiente. Tudo era errado naquele monoposto, tudo tinha que ser improvisado desde a alma do motor até a criação de ajustes próprios ao modelo de condução do piloto. Dificilmente você conseguia dirigir bem o monoposto de outro piloto. Você podia andar bem, mas nunca de ponta como no seu carro. Era dificílimo testar um Formula Vê para melhorá-lo à condição de outro piloto encontrar satisfação.
Já nos monopostos Formula Ford e demais da series que conhecemos isso era possível com muito êxito. No F-Vê, o tipo de suspensão nas curvas, simplesmente...varia em comprimento o entre eixos externo para o interno devido ao sistema da suspensão dianteira...
À distância e de barriga quase cheia, os olhos do Antônio voltaram a brilhar mais e ele até se permitiu comentar que o "carrito era um pouco bonitinho" olhando de longe. Um comentário luso onde incluiu "olhando de longe"... Olhando de longe é que destruiu o elogio, mas isso estava alguns furos acima da cabeça paramétrica do Português. Cinza não era nem preto nem branco e isso gerava enorme discussão o tempo todo entre nós dois. Trocávamos nomes interessantes um ao outro, mas no final nenhum colou. Ficou a imagem de um tempo quase heroico que lembra um pouco o estado de guerra. Você comenta mais sobre o tiro que não te acertou. No final das contas, Antônio era literalmente um segundo piloto dentro do carro tal a vivência e empenho que dedicou sempre, em todos os detalhes. Antônio Ferreirinha compartilhava integralmente dores e risos. Era uma segurança ao seu lado. Especialmente depois daquela pancada em Oulton Park. Mas nunca deixamos de brigar e muito. E só não o fazemos hoje porque estamos por enquanto...distante apenas 400 quilômetros, caso contrário...

Quando liberaram o acesso ao curral de entrada para a pista Antonio estava de pé ao lado do carro. Foram dez minutos de espera em que não trocamos uma palavra. Antonio sabia que eu ia entrar na pista e em três ou quatro voltas iria parar e lhe passar instruções de acerto do carro.

Na quarta volta eu entrei nos boxes e parei na altura do boxe do nosso carro. Pedi para o Antonio um ajuste de estabilizadores e pedi que me colocasse no quadro somente a diferença do meu tempo para o primeiro colocado de duas em duas voltas para dar tempo a Paula cronometrar e passar a diferença para o Antonio publicar.

Ao longo de aproximadamente vinte voltas eu sabia que podia rodar mais outras vinte dentro do tempo de treino oficial, mas eu sabia também que estava chegando ao limite da escultura mínima dos pneus dianteiros. Eu não tinha nenhuma roda de reseva. Meu tempo estava entre os cinco melhores e o Antonio dava cambalhotas do box. Eu senti o cheiro de uma luta merecida. Resolvi parar no box terminar o meu treino. Precisava
apenas sentir imediatamente a temperatura dos pneus e rolar os dedos sem luvas sobre a borracha. Coisas que um piloto brasileiro tinha que saber fazer e entender o que se passava. Não tínhamos pirômetro. Eles já existiam, mas nas equipes e universos acima do meu. Tudo dependia agora da minha leitura da borracha dos pneus. Antônio sabia disso e sabia que dessa leitura nos teríamos algumas hora de trabalho pelo resto do dia.

Pela manhã de domingo, enquanto nos ajustávamos no box, tem sempre, mas sempre algo mais a fazer, havíamos recebido o número designado do carro e tinha que trocar o numero cinco que estava afixado na carroceria emprestada, por outro. Nisto chegaram o Carlos Alberto Scorzzelli e o Marcos Sacoman. O primeiro era o piloto de Brasília que havia trazido para o Rio de Janeiro o primeiro Formula Ford da Inglaterra para se divertir uma vez que não havia a categoria no Brasil. Naquela oportunidade ele convidara muitos pilotos para compartilhar o prazer de dirigir um monoposto FIA. Foi uma festa geral no Autódromo do Rio e todos ficaram impressionados com a potência do motor 1600 Cortina. O monoposto era pelo menos trinta por cento mais veloz e eficiente em todos os aspectos do que o Formula Vê. No final dos treinos ele me chamou de lado e me disse: "cara, eu não ví ninguém sentar e andar de primeira nesse carro do jeito que você fez. Você precisa arrumar uma forma de ir para a Inglaterra porque você vai se dar bem por la". Foi uma mensagem de força. Hoje estava ele lá enrolado no seu casacão me perguntando: - perdeu mesmo o carro novo la em Oulton Park?. Informei que havia de fato perdido, mas que pedaços dele estavam incorporando a esse carro que eu treinei. Ficamos num dialogo de perguntas se eu tinha alguma possibilidade e como havia surgido esse carro no meio de toda a história. O Marcos Sacoman ficou ouvindo com aquele sorrisinho indecifrável, ele que é reputado e de fato conhece muito sobre automóveis quer seja de competição ou um sedan antigo, o homem é fera com uma vida dedicada ao assunto. Recebi muito abraços e desejos de boa sorte e promessa de presença bem como torcendo pelo sucesso. Era a minha presença de torcida brasileira naquele fim de semana.

Quando chegou o nosso horário de apresentação para a inspeção, Antonio e eu rolamos o carro até o galpão de lona de inspeção. Os quatro inspetores examinaram o carro e finalmente um deles informou que os pneus traseiros estavam com a escultura abaixo da "milimetragem" permitida e que fossemos ao stand da Firestone comprar dois pneus.

Retornado ao box eu me virei para o Antonio e lhe disse e agora que fazemos. O Antonio me disse, deixa-me dar uma volta e ver se conseguimos uma solução. Passado algum tempo ele retorna rolando um par de pneus montados em rodas. Perguntei qual era a jogada e ele me disse que não havia nenhuma. O Ed Patrick estava atrás de nós e
se inteirou do assunto e ao passar pelo box dele me perguntou se eu estava precisando de pneus. Confirmei e ele me disse pode levar esse par e depois da corrida me devolve. O Antonio lhe perguntou: mas você não está inscrito nessa corrida? No que o Ed respondeu: estou nesta e nas duas da turista e de GT.

- E ai como é que fica?

Ed respondeu: - Não fica cara. Esse sujeito não pode ficar fora da corrida depois de ter ficado entre os cinco melhores tempos ontem a tarde com essa tranqueira. Afinal de onde veio esse carro? Esse carro é homologado senão não teria passado na inspeção. Eu vi a placa de chassi. É um Merlyn velho?

Bota velho nisso - disse-lhe Antonio, mas tem uns cacos do MK11A destruído em Oulton Park. Parece que é um MK7 II 63.

- O da parede lá do Selwyn?

- Acho que sim.

- Porra, e ele rodou entre os cinco? O Selwyn tá louco. Já imaginou? O carro é de 1963, tem cinco anos de uso cara e é o modelo dos estabilizadores invertidos? Como é que passou o cano de descarga pelos estabilizadores?

- Você não notou, mas conseguimos um par dos MK11A e eu adaptei.

Bem, boa sorte mesmo. Essa eu quero assistir mesmo correndo....disse rindo.

Pois é: Diga a palavra mágica na Inglaterra. - HELP!
Meses antes, naquela tarde em Snetterton a pista estava vazia. Stirling Moss tinha conseguido um favor do Jim Russell para que os dois pilotos novos da SMART - Stirling Moss Automobile Racing Team passassem o dia treinando. Era a primeira vez que iriam andar com os Carros o Luiz Pereira Bueno e Ricardo Achcar. Um dia de primavera razoavelmente quente, estávamos o Luiz e eu a rodar uns tempos razoáveis melhorando a cada acerto que fazíamos nos carro de comum acordo. Nas interpretações mecânicas eu e nas regulagens eu tinha mais experiência do que o Luiz em monopostos. Mas o Luiz era imperativamente intuitivo. Se você soubesse interpretar o que ele informava era informação criteriosa e segura. Luiz media palavras. Nossos corpos tinham hábitos de assentos de competição diferentes, mas juntos somávamos muito. Não tínhamos o Antônio conosco ainda. Não o havíamos importado. O Luiz tinha suas dúvidas advindas de sua longa estada na equipe Willys e era profundamente desconfiado. Mal ou bem, o Antonio era cria desse Carioca e isso era uma novidade um tanto quanto duvidosa para a cabecinha do "Peroba". De fato, ao longo do tempo e muito tranco na equipe, o próprio Antonio reconheceu com o seu total empenho pessoal para ambos os pilotos, o grande valor profissional do Luiz Pereira Bueno, um tremendo piloto que muito pouca gente sabe o quanto arrojado era porque simplesmente ganhava as corridas junto com Bird Clemente e já se haviam para sempre tornado lendas autênticas do esporte motor.
Meses adiante outra vez, eu ainda assistiria o maior duelo de dentro da pista competindo em monoposto que poderia um dia imaginar. Em Brands Hatch naquela tarde de pista repleta e circuito Gran Prix eu havia feito o segundo tempo e Luiz era Pole Position. Collin Vanderwell, neto do potente Lord Vanwall, era a nova fera que surgira tendo adquirido o carro imbatível de Emerson Fittipaldi que já pulara para a F-III. Na largada eu pulei para frente e realmente abri a frente que queria. Adiante entre a terceira e quarta volta eu percebi que perdia para o Luiz na Stirling Bend . Ele conseguia fazer a Strling Bend mais rápido do que eu conseguia e eu me recuperava na Paddock Bend. Acreditei que iria melhorar na Stirling prestando muita atenção e ganharia a prova. Na terceira volta chegando na Paddock Bend e trocando de marchas percebi um ligeiro travamento no motor tipo freio motor não solicitado. Minha experiência me dizia que o mancal central do bloco rachara e eu estava perdendo pressão por vibração do virabrequim na altura dos seis mil giros para seis mil e duzentos, limite do motor. O motor Cortina tinha um pé de fracasso de engenharia com um virabrequim suportados por três mancais, ambas as castanhas em ferro nodular. Isso era um fator limitador delicado na limitação de giros. De repente, sem mais nem menos os dois me passaram no bacião onde o Jo Siffert perderia a vida anos depois. Era um ponto menos crítico, mas parecido com a junção de Interlagos em termos de transferências de massas. Ao me passarem o Colin emparelhou com o Luiz e eu assisti durante oito voltas, na parte do circuito Gran Prix o que, se tivesse acontecido na área do circuito Club promoveria a ambos a desclassificação. La dentro da floresta escondida e mortal do circuito GP, 

ambos se bateram roda com roda tirando lascas de ferro e centelhas que chegavam dez metros atrás no meu carro. Eu me dizia, vou ganhar essa corrida e acompanhar um enterro. Foi um momento de minutos indescritíveis de testosterona no pico da morte.

Finalmente como achei que não se matariam se batendo, eu me liberei mesmo com menos condições de motor, para tentar me encaixar num segundo lugar. Faltando menos de duas voltas eu aproveitei o embate acirrado e quando o Collin abriu para a esquerda em Pilgrim's Drop para ganhar velocidade na curta descida antes de se ajustar na perigosa tomada a direita em subida de media alta Hawtohorn Bend, Luiz abriu junto e rápido para fazer igualmente uma tomada...ninguém iria passa-lo por fora...naquela curva. O Collin estava preparando a desatenção do Luiz no retrovisor para dar o golpe mais adiante. Acontece que o Luiz abriu para tomada junto com ele e...deu um pico de freio um tostão mais prolongado e a água quente do radiador do Collin se enterrou na caixa Hewland do Luiz e água e vapor espirraram e embaçou minha viseira ao que eu tomei o segundo lugar...e o Peroba ganhou a prova.

Falem-me de corridas de automóveis....

O Antônio horas antes pegou o mecânico do Collin no nosso box lambuzando os meus discos de freio dianteiros com óleo de freio. Brilhavam que era uma beleza...Collin era F.
De volta a Snertterton estávamos rodando livremente na pista e aos pouco eu fui parando e ajustando pressão de molas, amortecedores e mais detalhes e íamos Luizinho e eu trocando de carro e trocando ideias. Estávamos ambos tentando tirar o máximo das máquinas e buscando adiante tirar um tempo contra o outro. E assim fomos suando o capacete e o macacão, parando a cada meia hora, reabastecendo e ripando as máquinas. La pelas tantas da tarde vimos, la pelo no inicio das carreiras de box, o Emerson apareceu com seu formula laranja Merlyn e dentro de algum tempo começamos a cruzar os bigodes na pista. Um longo tempo se passou e Luiz e eu estávamos muito melhor do que o Emerson volta após volta. Um dado momento o Rato parou quando nos viu parados no box ajustando alguma coisa e veio ao nosso encontro.
- e aí cara, como é que estão as coisas? Perguntou o futuro campeão do mundo.

- Estamos indo bem, estamos ajustando a máquina.

- É cara, eu não consigo acompanhar vocês em saída de curva. Vocês dois dão uma estilingda e se mandam. Qual é o segredo?

Quem conhece o Luiz já sabe que ele fez a tromba e ficou tão calado como educado no seu silêncio total. Aí o metido aqui perguntou: - Mas o que você sente no carro. O que você sente, sai de frente, sai de traseira, em curva de alta, na saída da curva, como é que é? 

Emerson retrucou:- Cara eu sinto tudo bem normal na máquina. Não sei o que dizer. Só vi que vocês disparam nas saídas das curvas, na acelerada especialmente saída curva no final da reta.

Aí o metido aqui devolveu: - Traz o carro para junto de nós e vamos olhar na comparação.

O Rato caminhou até o seu box solitário e trouxe o carro laranja até nós.


Passamos a examinar o carro juntos. Emerson é reconhecidamente um acertador de carros com raras qualidades. Examinando no "olho" toda a periferia do carro eu podia assegurar que estava muito bem alinhado.

Recapitulando a expressão "saída de curva na acelerada" do Rato eu me dei conta de que ele estava me dizendo que "destracionava" ou sentia ausência de aderência. Um desses dois fatores era o que estava em jogo especialmente no caso dele que era um piloto estrela. Não era possível pensar outra coisa salvo uma rachadura no chassi. Isso se confirmava porque era contra o Luiz ou eu nas mesmas condições disparava a frente dele.

Foi quando então lhe perguntei: - Quanto de pressão você está usando nos pneus?

O Rato devolveu:- A pressão que todo mundo usa na Formula Ford. 32 libras nas quatro rodas.

Disse-lhe eu: - Te dá uma tremenda precisão instantânea no volante, certo?

- Absoluto, disse o Rato. Uma faca nas curvas. Fazia referência ao F-Vê com seus Cinturatos que pareciam bochechas de um lado para o outro no asfalto.

Então eu disse ao Emerson,: - Faz o seguinte. Coloca 22 libras na traseira e 18 libras na frente.

Emerson olhou para mim, ficou parado, fixo. A cara suada e o capacete a mão. Tomou tempo. Finalmente me disse.

-Ricardo, eu vou fazer isso porque é você que está me dizendo.

Em seguida, calibrou a receita nos pneus, colocou o capacete, ajustou, sentou no carro se auto colocou o cinto de seis pontos e os ajustou. Tudo sozinho. Não precisava de ajuda. Já tinha o total controle.

E, se foi. O Luizinho e eu, naquele mesmo dia e treino, nunca mais vimos o furo da bala.

Que piloto e que motor...

Luiz nunca me perdoou.

Eu acho que de fato nunca entendi a regra do jogo. 
Naquele Domingo o programa anunciava a nova inspeção e classificação - 20 minutos - para a categoria Formula Ford competindo no Les Leston Championship para as 11:00 horas da manhã.
Passamos bem pela inspeção com o Ed Patrick sacaneando o Antonio se ele precisava também de um volante. Depois, olhando mais para o carro identificou seus pneus mais raiados e novos dos que os meus remanescentes na traseira, colocados no trem dianteiro do carro. Ed ainda perguntou para o Antonio se não havia algum engano naquele ajuste, no que o Antonio com dificuldade de entrar em detalhes apontou para mim. Nisso o Ed concordou levantando os braços

Fomos direcionados para o "curral" de entrada na pista onde ficamos aguardando para todos entrarem juntos.

Uma vez liberados entrei na pista e sem esperar mais nada fiz cinco voltas e cravei o terceiro tempo da classificação. Luiz Pereira Bueno se classificou no segundo lugar para a satisfação da equipe do Stirling Moss a S.M.A.R.T..


Dada a largada eu pulei para a primeira posição na segunda volta e despenquei até o final ganhando a prova. Creio que o Luiz ficou em terceiro nessa prova e já não me recordo mais quem foi segundo e os demais.

Meu segredo foi estabilizar a frente do carro de tal maneira que deslizasse sobre os pneus mais raiados com os amortecedores ajustados para macio de maneira a ganhar o máximo de aderência "com aviso" de escape. Quando desse sinal de escorregar eu teria o trem traseiro muito bem estabilizado e duro em relação a frente e poderia "tesourar" o volante buscando um traçado mais amplo e com tangências mais afastadas da corda da curva mas com aceleração plena mais constante. Ganhei velocidade para aquela
combinação, naquela pista, em pontos específicos, temperatura e piso. Recentemente observei o Alonso fazer uma mudança de traçado relacionada com uma troca de pneus e valores de reação tão evidente que fiquei impressionado com a capacidade de interpretar uma modificação desta natureza num F-1 com pneus tão críticos e instáveis, com aerodinâmica impossível de interpretar porque vento não faz curva... e de, sobretudo sem ter informação direta do carro para o piloto que literalmente não "sente" nada. Dependendo de sensores, telemetria, interpretações de engenheiros que não são pilotos como um Chapman foi em sua época ou o Tri Brabham. Aliás, este é um detalhe impressionante no formato de pilotagem do Alonso. Vocês já repararam que a engenharia do Alonso fala pouco? Informa mais do que comanda?
Lembro-me de minha torcida nacional local ser explosiva naquele dia. Mas muitos ingleses presentes foram mais do que cordiais e havia um clima de gozo relacionado ao carro. Foi uma corrida a não se esquecer, e eu não sei onde Antonio e eu encontramos soluções, vontade e até mesmo um excesso de ousadia diante de tanta adversidade que nos acompanhava desde o acidente em Oulton Park.
Muita coisa iria ainda rolar e algumas impagáveis como o teste de desenvolvimento da Lola T 210 com o presidente Erick Broadley na pista de Brands Hatch alguns meses depois.
Mas...isso é uma outra história.
Enfim, tudo isso para contar esse final que em minha opinião vale um filme comédia.

Terça-feira seguindo o fim de semana heroico me telefona o Chris Steel para o hotel Trevose.

- Onde você anda?

- Ainda de porre, porque? tem algum teste na quarta? Quarta-feira era o dia que o John Webb estipulava para treinos livres ou testes com pagamento mínimo de uso da pista em Brands Hatch. Já era tradicional.

- Que teste nada! O Selwyn Hayward está em pânico.
- Como em Pânico? O carro está na tua oficina. Qual o problema?

- Você foi se meter a ganhar a corrida!

- Como é que é?

-Você ganhou a porra da corrida!

Ai eu fiquei meio que mudo. Inglês às vezes era uma língua difícil de acompanhar.

Retruquei: - Não. Eu ganhei a corrida. Cheguei em primeiro lugar.

- Mas porra está claro que ganhou. Já detonou esse assunto na associação dos fofoqueiros da imprensa da fofoca.

- Mas e então?

- Mas não era.

-Mas não era o que?

-Porra não podia ganhar. Era para dar uma presença. Aparecer. Não ficar "morto". Será que você não entende?

Realmente eu tinha dificuldade em entender.
Anos mais tarde, quando virei construtor de carros de corrida e com o exponencial evento da Formula Super Vê profissionalmente calçada pela Volkswagen do Brasil durante a presidência do inesquecível Wolfgang Sauer, lembrando este assunto bem ainda a flor da pele, recordo de uma fato muito interessante.
A Polar Racing Enterprises estava no auge de suas vitórias na Super Vê e evidentemente muitos pilotos trocavam os carros por um Polar Super Vê. Era o carro que melhor assegurava vitórias. La em Maria da Graça, no Rio de Janeiro, onde ficava a fábrica nos seus anos mais importantes, um dia eu me virei para o Ronaldo Rossi que era o meu sócio na empresa e para o Chico Lameirão que era a viga que completava e lhes disse.

- Pessoal, vamos fazer outro carro nesse galpão que está para alugar aí em frente?

Estabeleceu-se um profundo silêncio na sala de projeto.

O Marcos Carbone que era o projetista enterrou a cabeça na prancheta e se fundiu com ela. O Rossi começou a sacudir os braços e as pernas, ficava sempre de pé da altura dos seus 1,92 centímetros que nem vara de pesca trepidando. O Chico, bem Português, entrou em transe, suas meninges interpretavam "coisas" que só o Chico sabe enxergar e não saia uma palavra da boca.

Fomos todos salvos pelo Ed Moina.

Ed Moina é um capítulo a parte na minha vida. Uruguaio de nascença tinha um senso de humor e um vigor na caneta ao desenhar que fazia dele um ser dimensionalmente a parte. Era o computador da época... Era uma criatura universal. Via tudo cor de rosa, ou colocava tudo na cor de rosas.

Tinha um senso de humor que transcendia anedota. Era fulminantemente interpretativo por natureza. O Buggy Terral era desenho dele. A Esquadrilha da Fumaça da FAB portava as cores e design do Ed Moina

Em trinta segundos rabiscou numa folha de desenho um cavalo cavalgado por um cavaleiro em três direções. Levantou a folha no meio da sala de projetos e com seu sotaque marcante, expondo a obra e disse:
- "Pronto, monto em su brioso corcel e se partiu em todas las direcciones".
Foi risada geral, mas...Creio que naquele dia e hora foi o momento na minha vida em que eu mais me encontrei. Nunca esqueci as palavras jocosas do Ed Moina, mas também nunca pude deixar de enxergar uma verdade completa naquela sua interpretação. Essa marca tem tanta dinâmica quanto ...peso. A vida me contou.

Fato é que o Chico logo se recuperou e embarcou na ideia. O Rossi era mais difícil, mais pragmático e dizem que isso é ser mais realista. Acabamos de certa forma contribuindo para liquidar a categoria. Ganhamos tudo. Isso não é bom para o esporte motor. Tipo monomarca. MORTAL.
Voltando ao telefone púbico da pensão Hotel Trevose... me reportei ao pânico daquele telefonema que terminou mais ou menos da seguinte forma.
- Olha disse - Chris - O homem quer o que é parte dele desse carro maldito la em Colchester ontem.

- Mas porque esse pânico?

- Cara, o homem tem uma produção de 40 carros mês e você arruma um jeito desconcertante de ganhar uma prova com um carro velho de cinco anos, capenga e com inscrição independente no meio de um campeonato Inglês?

- Mas o que você realmente esperava?

- Realmente, sobretudo esperava que você nunca ganhasse a prova.

- Mas cara: ganhei com o seu motor!

- Cala essa sua boca, homem. Eu tenho uma produção contratada de fornecimento de motores para a fábrica dele há mais de três anos! Você não entende? Já imaginou acharem que um motor Steel correu fora do regulamento, por exemplo?

De fato levei tempo para entender toda a situação.

Afinal, um carro parcial velho de cinco anos. Empenado. Montado por um Português e um Brasileiro no fundo de uma oficina, usando um motor em bom estado usado, com pneus deficientes e sem treino algum de pista para ajustes, era uma caso razoavelmente singular. 
O que me escapava e que eu viria entender alguns anos depois na pele de construtor é o que se passa no interpretativo da imprensa, chefes de equipe, pilotos, mecânicos, patrocinadores. Passam-se interpretações que nada tem a ver com o projeto de um carro de corridas e que este pode cair em desuso e desqualificação junto a patrocinadores numa ocorrência como essa, que para mim, foi fruto de grande felicidade.

Finalmente:

- Pelo amor de Deus, se manda para cá com o Antônio e desmonta esse troço que o Pete vai levar amanhã à tarde sem falta para Colchester.

O homem está em pânico e quer pendurar o chassi na parede o mais rápido possível. Esse carro que nunca correu em Mallory Park em 1969. Está claro? Nunca correu. Esse carro. Está claro? E já devolveu as rodas do Ed Patrick? Foi ele que botou a boca no telefone às gargalhadas às oito da manhã para o Selwyn. Você imagina isso?

- Claríssimo, respondi, botando a viola no saco.

O Antonio teve convulsões. Esperneava com razão. Metade do "lucro" era dele. Levou muito tempo para entender. Muito. O Chris correu sérios riscos na época.

Menos esbaforido e acalmado com minha resposta, Chris retornou: - Umbelievable! How could you do this? (como pode fazer isso?).

- Pude fazer com ajuda do Chris Steel, Peter Hull, Antonio Ferreirinha, Ed Patrick, Carlos Alberto Scorzelli, Marcos Sacoman e finalmente, que Deus o tenha, o grande Selwyn Hayward cujos carros brilham ainda hoje sem previsão de ser vencido pelo tempo.

Mas que foi hilário isso foi!

A melhor corrida, gente: nunca é.

O que é, é o micro universo por aonde a equipe, os agregados, os torcedores, o cheiro da borracha, gasolina verde, o cachorro quente e... a ilusão da vitória definitiva que nunca chega. A Melhor Corrida, nunca chega. Só chega à categoria fúnebre da monomarca aonde salvo o marketing do fabricante, ninguém vai para lado algum, que não faz história, não deixa saudades e cimenta de maneira constrangedora o sentido de esquecimento. Pior do que página virada é a página em branco. Como competir na real nestas condições em busca da grande acalentadora ilusão, a Melhor Corrida?


A Mola mestra que nos leva ao desafio de competir.
Selwyn Hayward MK 7 F II 63/64 que foi pilotado por Teddy Pillete
Ricardo Achcar
Do fundo de um baú sem fim

Março 2013

Fotos: 1- Abrindo frente sobre o Emerson Fittipladi em 1970, Torneio internacional BUA - Rio de Janeiro, Lola T210 X Lotus FF / 2 - Chris Steel e Vitória em Mallory Park, campeonato Ingles -/ 3- Selwyn, jovem na Merlyn / 4- Fábrica da Merlyn na ação que seria a Polar um dia....qual fumaça num Brasil que sempre tudo se evapora / 5 - Oficinas do Chris Steele e quebra pau / 6 -Perda do Merlyn MK11A em Oulton Park / 7- A Mula no sábado....e depois no curral para classificação/ 8 - A Mula tomando pau na inspeção.../9 - O Dia do Duelo narrado de Brands Hatch, eu largo e tomo a ponta , Luiz em 3º e Collin em 4º / 10 - Snetterton dia livre de treino / 11 - Alinhado para partida com Antonio ao lado...envergado ao solo / 12 - A caminho das nuvens....bem próximo do céu dos pilotos./ 13 - Selwyn Haward, muito obrigado".