terça-feira, 16 de julho de 2013

MORRE ZAMPONI. MORTE CEREBRAL DE VANESSA DAYA É DESCARTADA

Duas notícias muito tristes para o automobilismo brasiliense e brasileiro: a morte do jornalista Zompa e é decretada a morte cerebral de piloto brasiliense Vanessa Daya, segundo informações no jornal local da Globo hoje pela manhã.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS:

Pela manhã, a Globo havia noticiado a morte cerebral de Vanessa Daya. Agora a  tarde, uma outra equipe médica examinaram a piloto Vanessa Daya e descartaram a sua morte cerebral. Então, o que nos resta, é rezar e torcer para que ela sobreviva.
 
Acaba de ser decretada a morte cerebral da piloto Vanessa Daya que sofreu gravíssimo acidente quando disputava uma prova de motovelocidade neste final de semana aqui em Brasília. Ele era a atual campeã brasiliense de motovelocidade. Que descanse em paz.

A piloto, de 31 anos, já havia conquistado o segundo lugar na primeira bateria do dia, restrita às mulheres. Mais tarde, sendo a única a correr entre os homens na Superbike, conseguiu ultrapassar o amigo Daniel Mamola, mas teria calculado mal o ângulo na hora de tomar a frente e acelerado demais, na avaliação do piloto. Vanessa perdeu o controle da moto e deslizou para a área de escape da chamada Curva da Piscina, um setor tranquilo e sem ocorrências anteriores. Em um dos vários capotamentos, a moto atingiu a cabeça e o pescoço da atleta, que usava todos os equipamentos de segurança. Daniel viu todo o acidente e ficou muito abalado.
 

Zampa era um dos maiores jornalistas especializado em automobilismo brasileiro e atuava por mais de 4 décadas e muito querido no meio automobilístico.
 
No retrato, Pandini e Zampa.
Zamponi, Raul Boésel, Xandi Negrão, Cairo Fontes e Eduardo Cardoso

O texto abaixo é do Pandini postado em seu blog PANDINI GP.
 
"Atenção ao mestre durante um final de semana de Porsche Cup em 2005. Foto, presumo, do camarada Miguel Costa Júnior.
 
Poucos personagens do automobilismo brasileiro foram tão queridos quanto o jornalista Marcus Zamponi, o Zampa. Desde o anúncio de sua morte, na noite de ontem, vários colegas escreveram suas lembranças, reproduziram histórias ou simplesmente manifestaram sua saudade nas redes sociais. Pilotos, ex-pilotos, dirigentes, mecânicos, construtores e preparadores de carros de corrida também o fizeram. Meu camarada e “companheiro de equipe” Alexander Grunwald observou bem: “O cara morre e dezenas de pessoas desandam a contar histórias hilariantes sobre ele. Não é para qualquer um”.
 
Não é mesmo. Todo mundo que viveu o automobilismo brasileiro nas últimas quatro décadas conhecia Marcus Zamponi. Pessoalmente ou por meio de seus textos inteligentes, analíticos, viscerais, emocionados e, muitas vezes, absolutamente hilários. Foi por meio deles que eu, garoto mal entrado na adolescência, “conheci” o Zampa no início da década de 1980. Naquela época, o fã de automobilismo que morasse em Santos, como era meu caso, acompanhava corridas pela TV, pelo rádio, pelos jornais e pela imprensa especializada – na época, composta pelas revistas mensais Quatro Rodas, Auto Esporte e Motor 3 e pelo jornal “devezenquandário” Auto Motor Esporte. Zampa era editor na Auto Esporte e escrevia no Auto Motor. Depois, passei a comprar também a Motoshow, a que melhor cobria o motociclismo de competição.
 
Aos 12 ou 13 anos, eu já prestava atenção nos nomes dos autores dos textos. E, invariavelmente, os que levavam a assinatura “Marcus Zamponi” ou “MZ” eram os que eu mais apreciava. Zampa era um personagem espetacular: numa época em que a superexposição dos tempos atuais era algo simplesmente inimaginável, ele era mencionado e admirado pelos seus pares de tal forma que os meros leitores, como eu, se sentiam íntimos dele – e percebiam se tratar de um adorável porra-louca. Não é à toa que, quando eu tinha 18 anos e prestava vestibular para jornalismo, meus inspiradores chamavam-se Marcus Zamponi, Otávio “Pena Branca” Ribeiro (o maior repórter policial que o Brasil teve) e Tarso de Castro (outro “porra-louca”, inteligente e brilhante).
 
Conheci o Zampa no início de 1989, quando me foi dada a missão de ir à redação da Auto Esporte para pegar algum material qualquer. O primeiro contato já me fez dar algumas risadas, mas nesse dia Zampa estava atarefado e parecia bastante sério (por incrível que pareça). Alto, bastante gordo, barbudo, fumante e comilão, Zampa entremeava todas suas frases com um “merrrmão” dito com o mais autêntico sotaque carioca. Pelas características físicas, uma versão branca do cantor Barry White. Pela voz, Zampa poderia tranquilamente se juntar a Tim Maia como um dos grandes do soul carioca dos anos 1970, caso tivesse se dedicado ao canto.
 
Meu convívio profissional com o Zampa se acentuou a partir de 1991, quando comecei a trabalhar no Jornal da Tarde. E aí comecei a ouvir mais as histórias dele, a vivenciar algumas e a admirar cada vez mais o jornalista e a pessoa. Zampa adorava pregar peças nos outros, e às vezes as brincadeiras eram pesadas. Nos tempos da Auto Esporte, adorava trancar uma secretária baixinha em um armário. Aprontou tantas com a mulher que ela não aguentou mais que um par de meses na editora. Era fácil ficar puto com algumas de suas brincadeiras – e igualmente fácil esquecer tudo e voltar às boas com ele. Um doce de pessoa.
 
Zampa morava na Inglaterra no início dos anos 1970 – foi nessa época que ele começou a trabalhar como jornalista, sendo correspondente da Auto Esporte, e conviveu com estas figuras aqui. Dividia um apartamento com amigos brasileiros e, antes de conseguir emprego na March, ganhava uma merreca trabalhando em um restaurante. Carne bovina era coisa caríssima na Inglaterra dos anos 1970 e, um belo dia, Zampa não teve dúvidas em aproveitar uma ocasião propícia para “expropriar” alguns bifes do congelador do restaurante e levar para casa. Mas precisava escondê-los em algum lugar onde depois pudesse pegá-los e ir embora. Colocou tudo em um saco plástico e enfiou o “produto do roubo” em um banheiro, num buraco atrás de uma privada. Na hora de ir embora, fingiu que ia usar o tal banheiro, enfiou o saco de carne por dentro das calças e foi caminhando em direção ao metrô para ir para casa.
 
Tudo parecia estar correndo dentro do previsto. Mas aí, de pé no metrô, Zampa percebeu a expressão de horror e espanto do homem sentado no banco à sua frente. Olhou para baixo e viu as calças ensopadas de sangue. Não se fez de rogado: foi calmamente para casa, preparou o jantar e só depois da refeição contou aos colegas de apartamento o caminho que aquela saborosa carne havia percorrido antes de chegar ao estômago de cada um.
 
Uma outra história aconteceu em 1992 ou 1993, durante um almoço de apresentação da Mil Milhas Brasileiras. Eu e outros jornalistas dividíamos a mesa com o Zampa quando se aproximou de nós o lendário Eloy Gogliano, presidente do Centauro Motor Clube e já com mais de 80 anos de idade. Como bom anfitrião, Eloy trocou algumas palavras conosco e se afastou em direção a outro grupo. De repente, Zampa faz uma cara de espanto e fala para nós, em volume não muito discreto: “Cara, olha o pau do Eloy!”. Ficamos tão desconcertados que, após alguns segundos em silêncio, Zampa repetiu e acrescentou: “Olha o pau do Eloy! Merrmão, olha o volume no meio das pernas dele!”. Coube ao colega Marco Antônio Catai, já morrendo de rir, o esclarecimento: “Zampa, aquilo é uma fralda geriátrica… Deixa o velho em paz!”
 
Anos mais tarde, em 2007, aconteceu o diálogo relatado neste post. Eu estava prestes a completar 34 anos, já tinha quase 15 de profissão, e me emocionei ao perceber o que havia acontecido: o Zampa, quase um ídolo da minha juventude, havia me procurado para trocarmos ideias. Acho que foi nesse dia que falei ao Zampa de sua importância para mim, e de quem eram seus companheiros como “meus inspiradores jornalísticos”. Sua reação foi típica: “Ih, merrrmão… Vi muito pó entrar nas narinas desses dois… E haxixe também…”. Fiz questão de repetir a reverência pessoalmente naquele que seria nosso último encontro, em junho de 2010, um pouco antes de o Zampa se mudar para São José do Rio Preto.
Praticamente todos os jornalistas sempre cobraram do Zampa que escrevesse um livro sobre automobilismo, e parece que boa parte dele já estava escrito. Mas, de ontem para hoje, uma imensa quantidade de jornalistas (eu inclusive) retirou do baú as histórias do e com o Zampa. No fim, fomos nós quem escrevemos, cada um em seu espaço, um livro sobre ele. Talvez tenha sido a última peça que o Zampa pregou nos amigos. Ótimo que tenha sido assim. Marcus Zamponi é, sim, um personagem digno de um livro.
Obrigado por tudo, Zampa. Já estou com saudades".

4 comentários:

  1. Eu estava no autódromo Nelson Piquet e vi a ambulância ir socorrer a Vanessa. Na hora não achei que o acidente fosse grave. Uma pena. Vá com Deus Vanessa!
    Lamentável também o falecimento do "Lobsang Zampa". Em 1987, fiz uma viagem com ele, no veleiro do Zé Carlos Teixeira Leão, de búzios ao Rio de Janeiro, emexatas 24 horas. Não foi por causa de falta de vento, mas porque paramos em todos os lugares que tinha algo parecido com um bar no caminho. Conversei muito com ele na viagem. Vá com Deus, também, Zampa!

    ResponderExcluir
  2. Edmundo, sempre fui fã dele e de seus artigos cheios de bom humor e tive o prezer de conhecê-lo pessoalmente uma vez aqui em Brasília. Jovino

    ResponderExcluir
  3. Caro edmundogonzaga a ambulância foi de onde e demorou para ir? Você estava no paddock? Abraço

    ResponderExcluir
  4. Profundamente triste, ontem por volta das 18hs fui ao hemocentro e doei sangue, p Alessandra Daya, na esperança de sua recuperação. Aqui ficam os sinceros sentimentos, força e paz aos pais, familiares e amigos. Vanessa... Continuara acelerando muito onde estiver!

    ResponderExcluir