quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

REMINISCÊNCIAS BRASILIENSES - BEIRUTE E ARABESKE

Durante muitos anos da minha vida freqüentei o bar Beirute. Lá era o bar Underground, da contracultura brasiliense, onde se podia saborear as delícias árabes e tomar umas cervejinhas e encontrar com a galera, botar os papos em dia, e que ficava lotado, principalmente, nas sextas feiras, com suas mesas e calçadas cheias de gente freqüentado pelo mais eclético público e ideologias sociais, culturais e econômicas, tanto daqueles simpatizantes de esquerda, como os da chamada direita.


CARROCEIROS NO BEIRUTE

Lá foi quando juntamente com uns amigos malucos nos saudosos anos 70 pegamos emprestado uma carroça de uns carroceiros que ficavam ali próximo ao parque da água mineral. Os carroceiros bebiam muito e nós, espertamentes, levamos umas garrafas de pingas para eles e conseguimos depois de muitas doses da branquinha convencê-los a nos emprestar uma das carroças para darmos uma pequena volta ali pelas redondezas.

Acontece que fomos nos animando e a voltinha começou a ficar grande demais. Passamos da residência do Tonico Maluco e ele pegou um enorme rádio a pilha todo cromado, daqueles de não sei quantas faixas, todas AM. Sintonizamos numa rádio bem brega e fomos para o Beirute lá pelas 10h da noite.

Chegamos lá ao som de Jane e Herundy, ícones bregas românticos da época com o hit muito tocado naquele momento "Não se vá". Num bar bem eclético, mas predominantemente de rockeiros, ficamos um pouco apreensivos com a receptividade deles para conosco, mas quando viram a carroça puxada pelo "Rogério", apelido dado ali no momento para o sofrido eqüino, todos adoraram a bela surpresa e ficamos por lá por algum tempo batendo papo com a galera e tomando umas (não havia bafômetro para condutores de carroças na época) e pudemos nos divertir bastante até tomarmos rumo de volta para casa.

A VISITA AO GENERAL DA CENSURA.

O cartunista Jaguar foi convocado pelo chefe da censura para vir a Brasília. Aliás, convocado não, intimado pelo general e ele veio com as piores informações possíveis, de que Brasília era uma cidade horrorosa, que não tinha bares, nem esquinas, e ele foi falar com o general que lhe disse que só podia atendê-lo em 4 horas. Aí, Jaguar se perguntou: o que eu vou fazer em 4 horas em Brasília!! Resolveu pegar um taxi e ficou rodando pela cidade e falou com o motorista: não é possível, que eu, como biriteiro, não encontre nenhum bar legal nesta cidade!!! E o motorista o levou para o Beirute. Ele adorou o bar e quando foi visitar o general ele estava completamente de porre de chope e steinhagen. O general só queria dar um esporro nele dizendo que ele Jaguar só mandava matérias censuráveis e que ele sabia que seriam cortadas e o porque que ele não fazia a auto censura!! Aí o Jaguar lhe respondeu: este problema é do senhor general e não meu! E o general retrucou dizendo que além de tudo o senhor está completamente bêbado!!! Então Jaguar lhe respondeu: claro!! O senhor me mandou esperar 4 horas e o que iria fazer nesta cidade!!! Tomei um porre no Beirute mesmo. Maior foi a surpresa de Jaguar quando o general lhe disse que ele também freqüentava o Beirute. 

Enfim, estas são algumas das muitas histórias deste bar que é um dos mais tradicionais de Brasília e que está no documentário abaixo sobre uma das entre quadras mais tradicionais de Brasília, a 108/109 sul, com depoimentos de artistas, músicos e frequentadores.
Veja o vídeo abaixo que vale a pena.


Um comentário:

  1. O Beirute, o Arabesk eram uma bagunça só. É o que tínhamos a época. Muita bicha e pouca mulher. Sinto saudade, do local e da minha juventude. O Marcão Adrenalina se foi, morreu. Estávamos brigados, motivo: eu sempre bêbado nas noites.

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