quinta-feira, 4 de novembro de 2010

RECORDANDO AS CORRIDAS NO PELEZÃO - DEPOIMENTO EXCLUSIVO DE ALEX DIAS RIBEIRO

As corridas no autódromo do Pelezão, no início da década de 70, onde era disputado o campeonato Brasiliense de automobilismo levava um grande público que prestigiavam o campeonato regional e com grandes nomes da época, como o novato Nelson Piquet que já se despontava como uma grande promessa, além de Alex Dias Ribeiro, que já era piloto oficinal da Equipe Hollywood, Olavo Pires e seu Furia Dodge, Waldir Lomazzi e seu Jiripoca com mecânica Corcel, Ruyter Pacheco com Puma VW, entre outros.

Nesta prova, dos 11 carros inscritos, somente 8 alinharam. O Fúria Dodge que representaria a Equipe Retífica Brasília não chegou a tempo de alinhar. Seu piloto, Olavo Pires, comentava que havia sido melhor não ter competido. Segundo explicava, o carro precisaria ainda de uma série de acertos pelas radicais modificações que sofrera com a adaptação de um motor Dodge 5500 e de uma caixa Hewland F 400, de formula 1.

O VW da Equipe Ideal, que correria sob o comando de Fernando Ramos e João Luiz, também não pôde alinhar, o mesmo ocorrendo com o VW 27, da Volksilva, impossibilitado de competir por falta de componentes que não chegaram a tempo.

Os pilotos de fora, Newton Pereira, do Rio, de Lamare e Sergio Matos, de São Paulo, Toninho da Matta e Clovis Ferreira, de Belo Horizonte, e ainda os goianos, não compareceram. Segundo se comentava nos boxes, foram expedidos vários telegramas por gente estranha à organização da competição. Os mesmos comentários diziam que eles haviam recebidos telegramas, uma espécie de comunicação ou aviso, prevenindo que os pilotos que viessem a competir estariam sujeitos às suspensões. Deve-se explicar que existiam naquela época, duas Federações de Automobilismo na cidade. A primeira, que organizou a prova, e a segunda, recém eleita e o que se acusa das providências que tumultuaram o programa. Mas isto são politicagem da época que não interessam no momento.

Fora os pilotos dos outros Estados, um dos principais concorrentes que não chegou a tempo, e mais dois carros que não alinharam, pensou-se, a princípio, que a competição seria uma grande decepção e que não ofereceriam maiores emoções ao público presente. Ledo engano. Quem foi à prova, ficou surpresos com as grandes disputas que houve nesta prova.

1ª BATERIA

As posições de largada foram estabelecidas pelos tempos de classificação, tomados antes das provas. Por isto, no sábado, os carros foram levados ao autódromo para esta sessão especial dos treinos. Com a quebra do Royale GM da Importadora OK, o melhor tempo foi assinalado pelo Patinho Feio pilotado por Alex Ribeiro, marcando 1,23m para a volta. O Royale GM com o tempo prejudicado pela quebra do coletor de escapamento ficou com a segunda colocação, enquanto Waldir Lomazzi garantiu a 3ª posição na primeira fila de largada pilotando o protótipo Jiripoca Corcel. Waldir era muito elogiado e que recebera o apelido de “São Waldir”, porque andava fazendo milagres no protótipo Jiripoca, o carro de menor cilindrada que participava do campeonato em Brasília e a figura mais constante no Podium.

A largada foi atrasada pela falta de bombeiros na pista, com Ignácio Correia Leite nas funções de Diretor de prova, substituindo o adoentado Sebastiao Roberto. Esperava-se, principalmente, uma disputa muito forte entre os dois primeiros lugares. Nelsinho Piquet, no Patinho Feio e Barata no protótipo da Importadora OK. Dada alargada, o protótipo Jiripoca, de Lomazzi, pulou na frente, graças à sua relação curta de câmbio. Luiz Barata, entretanto, ultrapassou-o antes da primeira curva, assumindo a liderança, seguido imediatamente por Nelsinho, já um dos melhores nomes do automobilismo brasiliense. Em grande prova, Waldir começou a maior briga com Toninho Martins pilotando o VW 29.

Toninho fez o carro desencabular com uns acertos e um defletor de ar na parte frontal. Mais atrás, Ruyter Pacheco com um Puma amarelo alugado com motor de cilindrada ignorado, Marcio Hildebrand com Lorena 1900, Aruí a bordo do VW 43 em sua primeira corrida profissional, e José Carlos Catanhede com uma Berlineta com mecânica VW.

Barata liderava com Nelsinho na sua cola acelerando forte para o acompanhar, Toninho e Waldir disputavam até a terceira posição ficar com o veterano Toninho, Aruí e o Puma de Ruyter andaram juntos, e Catanhede e Hildebrand promoveram um dos melhores pegas da competição, durando aproximadamente 15 voltas. No primeiro terço da prova, o Royale GM que vinha liderando tranquilo, entrou nos boxes com o motor falhando. Enquanto a injeção direta do motor Chevrolet era conferida, Nelsinho assumiu a liderança, mantida mesmo depois do retorno de Barata para a corrida. De volta à pista, constatou-se que haviam sido perdidos 36 segundos, que começaram a ser descontados, volta por volta, até que o box da equipe da Importadora OK sinalizou para Barata não forçar o motor. Faltavam poucas voltas, o motor voltara a falhar, a primeira posição era impossível de ser alcançada, enquanto que o segundo lugar estava garantido. Atrás Toninho Martins, Lomazzi, Hildebrand, que finalmente conseguia deixar Catanhede para trás, e o Puma 21, cujo conjunto poderia ser muito agradável para andar na rua, mas que decididamente não possuia preparação para competir.

Aruí não concluiu a prova com o cabo do acelerador quebrado, tirando-lhe a chance de classificação na primeira bateria. Piquet conseguia outra vitória em sua rápida carreira.

O Major Fábio deu a bandeirada de chegada, e, logo em seguida, com os carros nos boxes, declarou sua intenção de promover a largada sem muito intervalo. Isto, entretanto, não ocorreu, porque vários carros precisavam de reparos. Nos boxes da Importadora OK, Verediano, ex-preparador da Retífica Brasília, e que era o atual chefe de oficina da Arábia, resolveu tentar o que se considerou uma loucura: substituir o sistema de injeção direta pela dupla carburação Weber. Os outros concorrentes agiram com espirito esportivo, mas demorou muito e só ficou pronto quando todos já estavam alinhados para sair.
2ª BATERIA
A Pole Position era agora ocupada por Alex Ribeiro com o Patinho Feio. Novamente, ao seu lado, o Royale GM e desta vez na primeira fila, o VW 29, representando a Brasal e que faria a sua última corrida. Dada a Largada para a segunda bateria, Estevão fez o Royale GM pular na frente, enquanto o Patinho Feio de Alex tinha dificuldades com a relação de marchas muito longas. Estêvão começou a liderar, acelerando forte. As trocas de pilotos para a segunda bateria haviam determinado Alex no Patinho Feio, Estevão no Royale GM, P.Wilson tocando o VW da Brasal, Haroldo Meira com o Puma, Carlão no VW 43, Zé Marcio no Interlagos VW, Zé Galinha com o Lorena e manteve-se apenas Waldir Lomazzi, que partia para mais uma sessão de milagres a bordo do protótipo Jiripoca.

Estêvão liderava, andando bem abaixo do limite do carro, com Alex o perseguindo, tentando superá-lo. Esta disputa durou pouco. Logo Alex parou com a alavanca de marchas quebrada. O imprevisto custou quatro voltas para Alex, que teve seu carro reparado na pista pela sua equipe. O PT VW que antes havia corrido com Martins, teve problemas no motor, queimando as válvulas. Com isto, Estêvão manteve a liderança, seguido por Waldir Lomazzi, Zé Marcio com Interlagos/VW. O Puma e o Lorena andaram muito bem. Mas o primeiro parou longo tempo nos boxes com problemas no motor, fechado poucos dias antes, enquanto o segundo, entrou nos boxes sem freios, retornando em seguida, mas perdendo muito tempo nas voltas.

Alex voltou à prova pretendendo recuperar a posição inicial, o que, efetivamente, não podia conseguir. E foi ganhando espaço gradativamente, ultrapassando os concorrentes. Estêvão que estava à sua frente, recebeu sinal dos boxes para manter a média, a esta altura, baixa e tranquila. Foi uma boa corrida para o piloto de Brasília que corre pela Equipe Hollywood. Para o público, que pensava que o espetáculo havia acabado, restava mais um acontecimento. Faltando três voltas, o chefe da Equipe Importadora OK sinalizou para que Estevão aumentasse o ritmo, o que foi feito, justamente em frente ao palanque de sinalização. Talvez animado com a oportunidade de ensejar uma disputa, Estevão empolgou-se com o rendimento do Royale GM, encontrando um barranco no final do miolo. Houve um momento de tensão com a batida e todos pensavam que acabara ali a sua prova e perdendo uma corrida praticamente ganha. Mas com a frente pendurada, e com o radiador danificado e perdendo água, sem uma das portas, o carro ainda deu mais uma volta, apesar de insistentes pedidos da equipe Camber para que o Royale GM recebesse bandeira preta para encostar nos boxes, ganhou a quadriculada. Coincidentemente, era a última volta.

2º Bateria e o Royale acidentado pilotado por Luis Estêvão

Nos boxes, enquanto não se divulgava o resultado final, surgiram protestos por parte de alguns concorrentes. O que surpreendia, entretanto, era que o pessoal que gosta de brigar, discutir, levar crianças para a pista integrados em equipes, ainda não se lembraram de ler o regulamento do Campeonato Brasiliense. Ele se baseava no regulamento Internacional da FIA.


1º Luiz Barata e Luis Estêvão, 2º Alex Dias Ribeiro (cadê o Piquet?), 3ºWaldir Lomazzi e Bernardo Baessa, 4º José Carlos Catanhede e José Marcio Toscano e 5º Marcio Hildebrnad e Zè Galinha.

Depoimento histórico de Alex Dias Ribeiro falando de sua primeira vitória e a participação dele com o Porsche 910 da equipe hollywood.

Obrigado Alex.

"Caro Jovino,
Gostaria de Lembrar que a corrida de estréia do Pelezão foi um evento muito feliz para mim pelas seguires razões:
- Consegui realizar o sonho dourado de pilotar um Porsche 910.
- Corri pela primeira vez em dupla com Luis Pereira Bueno, um dos meus ídolos de infância.
- Foram duas corridas. Uma no sábado e outra no domingo. Na de sábado eu vinha disparado na liderança quando não entrou uma marcha na freada do fim da reta e eu rodei.
Pensando que havia um defeito no cambio parei nos boxes para verificar o que havia acontecido e por isso perdi a corrida.
- Conquistei a confiança dos meus patrões na equipe Holywood, que me deram uma segunda chance na corrida de domingo quando finalmente venci minha primeira corrida, cinco anos depois de minha estréia nas pistas.
- Tá certo que corri de Porsche contra os protótipos de fundo de quintal.
- Mas também nunca tinha vencido porque sempre corria com o nosso Patinho Feio contra os Porsches, Alfas, BMWs e outros carrões importados ou das equipes de fabrica.
- Mas a primeira vitoria a gente nunca esquece. E aquele foi um fim de semana muito feliz na minha vida.
Alex "

RESULTADO


1º Luiz Barata/Luis Estêvão – Royale GM nº 3
2º - Nelson Piquet/Alex Ribeiro – Patinho Feio nº 17
3º - Waldir Lomazzi/Bernardo Baessa – Jiripoca Corcel nº 15
4º - Catanha/José Toscano – Interlagos VW nº 5
5º - Marcio Hildebrand/Zé Galinha – Lorena nº 41

CAMPEONATO

1º - Nelson Piquet – 81 pontos
2º - Luiz Estêvão – 72 pontos
3º - Ruyter Pacheco – 61 pontos
4º - Waldir Lomazzi – 60 pontos
5º - Luiz Barata – 48 pontos
6º - Alex Ribeiro – 45 pontos
7º - Antonio Martins – 36 pontos
8º - Haroldo Meira – 31 pontos
9º - Luiz André – 21 opntos
10º - Carlos Cesar – 17 pontos.
(Fotos, reprodução e Napoleão Ribeiro, Fonte, pesquisas em jornais da época)

2 comentários:

  1. Depoimento do Alex Dias Ribeiro encaminhado para o meu email:

    "Caro Jovino,


    Gostaria de Lembrar que a corrida de estréia do Pelezão foi um evento muito feliz para mim pelas seguires razões:
    - Consegui realizar o sonho dourado de pilotar um Porsche 910.
    - Corri pela primeira vez em dupla com de Luis Pereira Bueno, um dos meus ídolos de infância.
    - Foram duas corridas. Uma no sábado e oura no domingo. Na de sábado eu vinha disparado na liderança quando não entrou uma marcha na freada do finda reta e eu rodei.
    Pensando havia um defeito no cambio parei nos boxes para verificar o que havia acontecido e por isso perdi a corrida.
    - Conquistei a confiança dos meus patrões na equipe Holywood, que me deram uma segunda chance na corrida de domingo quando finalmente venci minha primeira corrida, cinco anos depois de minha estréia nas pistas.
    - Tá certo que corri de Porsche contra os protótipos de fundo de quintal.
    - Mas também nunca tinha vencido porque sempre corria com o nosso Patinho Feio contra os Porsches, Alfas, BMWs e outros carrões importados ou das equipes de fabrica.
    - Mas a primeira vitoria a gente nunca esquece. E aquele foi um fim de semana muito feliz na minha vida.


    Alex"

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