quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

MORREU EMILIO ZAMBELLO


Presidente do Automóvel Clube Paulista e um grande batalhador do automobilismo faleceu na noite dessa quarta-feira.
Faleceu as 23h da última quarta-feira (15/01) o piloto e presidente do Automóvel Clube Paulista, Emílio Zambello.

À frente da organização da tradicional prova dos 500 Km de Interlagos, Emílio será velado a partir das 10h no Cemitério do Morumbi; no mesmo local a partir das 16h acontecerá o enterro.

Confira um pouco sobre a história de Emílio Zambello retirada do site Nobres do Grid:

Piazzola Sul Brenta é uma pequena comunidade agrícola, localizada na província de Padova, na região do Veneto. Atualmente, segundo o último censo italiano, com pouco mais de dez mil habitantes. Em 6 de novembro de 1926, não tinha mais do que 5 mil e entre as famílias que lá trabalhavam a terra, estava a família Zambello... estava, não: está!


Marivaldo e Zambello vencedores dos Mil quilômetros de Brasília de 70

A casa e a propriedade de cerca de 10 alqueires onde Emilio Virginio Zambello, o primeiro de seis irmãos, nasceu continua de pé e ainda pertence à família. A irmã mais nova, Maria, ainda mora lá e Emilio faz questão de ficar “em casa”, usando o mesmo quarto no qual dormia, todas as vezes que viaja (três a quatro vezes por ano) ao país de origem.

Em sua infância e juventude, estudou e trabalhou na região natal, na propriedade da família. A família cultivava trigo. Mas a paixão por mecânica já era latente no jovem Emilio, que após a guerra trabalhou com reparo, compra e venda de motocicletas, em geral sobras de guerra. Uma guerra que, por muito pouco, ele não teve que alistar-se ao exército de Benito Mussolini e “pegar em armas”.

Em 1949 ele tomou uma decisão que mudaria sua vida para sempre: Decidiu sair de casa e “conquistar o mundo”. Passando pela suíça, foi “subindo o continente” até chegar à Suécia e em Estocolmo, através de um amigo no consulado, conseguiu um emprego e um novo desafio: Ele foi ser timoneiro em um navio que havia sido vendido para o Brasil e de lá a tripulação viria para entregá-lo e posteriormente retornar... ou não.

Foram 30 dias de viagem e o navio atracou no porto de Santos no dia 02 de janeiro de 1950. Emilio já tinha em mente ficar no Brasil e tentar se estabelecer no país trabalhando naquilo que gostava: mecânica de automóveis.

No Brasil, Emílio tinha uma referência, um amigo da família e que era natural da mesma região, o padre Romano Bevilacqua e foi através da ajuda do amigo, que ainda é vivo e que não só casou Emílio com D. Dirce mas também batizou os filhos Rita, Silvio e Sergio, e assim estabeleceu-se em São Paulo, tendo como primeiro emprego a surpervisão do armazém da Atlantic, empresa de combustíveis e postos de gasolina estabelecida no país.

Depois de um ano no Brasil, Emílio comentou com um colega de empresa, que trabalhava na área de venda de óleo, que gostaria de comprar uma oficina mecânica, ter um negócio seu aqui no Brasil... o colega falou que sabia de uma para vender, que ficava na Senador Queiroz, 450, esquina com a 25 de março, bem no centro de São Paulo... Eles foram lá, viram o local, o ferramental e acabou por fechar negócio.

Para trabalhar com ele, na nova empreitada, Emilio foi atrás de um outro italiano que conhecia de Pádova, Ruggero Peruzzo. Mecânico dos bons e assim começaram o novo negócio... Ruggero cuidava dos carros e Emílio da parte comercial da “Garagem Fulgor”.

Na área comercial, ficou conhecendo Ângelo Juliano, que era proprietário de uma loja de autopeças na Av. São João e através do parceiro comercial, passou a receber alguns “clientes especiais”: pilotos de corrida. Entre revisões, reparos e preparações, começaram também o serviço de amaciamento de motores em Interlagos... estava aí o estopim para que o “velocitococus” infectasse de vez Emilio Zambello.

Era ele quem ia para a pista amaciar os motores, rodando por horas e horas. Algumas vezes os pilotos reclamavam de que o motor não estava como eles queriam e era Emilio quem ia para a pista conferir qual era o problema... se é que havia um. Com isso, além de “pegar a mão” do circuito, ele percebeu que estava virando tempos tão bons ou até melhores que alguns de seus clientes... a decisão de correr não demorou muito a ser tomada!
 


A primeira prova foi uma preparatória, antes do início do campeonato paulista, com um Fiat 600, equipado com um motor de 633cc e que terminou em 8º na geral, sendo o 2º para carros com motores de menos de 750cc, no dia 16 de maio de 1954. Na prova de abertura do certame, dia 11 de julho foi o 4º na geral, sendo o vencedor na sua categoria.

Apesar da vitória e de outras provas disputadas, era difícil engolir o carros mais potentes passando por ele durante as corridas. Assim, logo passou a competir com um carro motor de 1.1 litro. Contudo, foi apenas em 1957 que foi desenvolvido na sua garagem um carro que seria o terror da categoria T 2.0. Era o Fiat “Fulgor”, com um motor de 1089cc, mas que era um ‘verdadeiro fulgor’.

Os negócios iam bem e em 1957 foi aberta a “Autopeças Fulgor”, na rua Jesuíno Pascoal, com Emilio deixando o garagem sob os cuidados de Peruzzo e de Vitório Zambello, irmão que viera depois para o Brasil.

Depois de diversas provas disputadas individualmente, em 1958 veio a participação nos 500Km de Interlagos, onde Emilio Zambello e Ruggero Peruzzo dividiram o volante de uma Cisitalia 202, preparada na sua oficina. Ficaram com a primeira colocação entre os mecânica nacional até 2.0 litros.

Emilio descobriu seu ‘balanço’ entre velocidade e constância nas provas longas e passou a ser um dos mais respeitados pilotos neste tipo de corrida. Para o ano de 1961, comprou uma Maserati que pertencia a Henrique Casini, com um motor V8 de 4.500cc, novo em folha que o próprio Zambello foi comprar na Itália. O carro era um verdadeiro canhão! A prova dos 500 Km daquele ano foi um passeio do trio formado por Emílio, Peruzzo e Celso Lara Barberis.

Emilio sempre deu preferência a correr com carros italianos. A única vez que ele “traiu a pátria” foi em 1963, em Porto Alegre, quando disputou as 500 milhas de Porto Alegre em dupla com Marivaldo Fernandes.

No ano anterior, os laços com um outro italiano começaram a se estreitar e desta amizade veio a surgir uma das mais famosas duplas e – posteriormente – equipe do automobilismo brasileiro. Este personagem era ninguém menos que Piero Gancia, que foi apresentado a Emilio por Ruggero Peruzzo.

A parceria foi muito além das pistas uma vez que, juntos, abriram a Jolly Automóveis, no bairro de Santa Cecília, na rua Frederico Steidel, com Emilio tendo conseguido a representação dos carros da Alfa-Romeo. Foram importados as Alfa Giulia em suas versões e que fizeram grande sucesso dentro e fora das pistas.

A Equipe Jolly, que muitos historiadores referem-se como Jolly-Gancia, marcou época no automobilismo brasileiro. Eram carros potentes, estáveis e resistentes, bem a feitos tanto as provas rápidas com as provas longas. Em provas curtas, corriam em carros separados, em provas longas, correram várias vezes em dupla e outras tantas com parceiros como Marivaldo Fernandes e Ubaldo Cesar Lolli, com quem venceu as 24 horas de Interlagos ao volante de uma Giulia-Super.

Na segunda metade da década de 60 e nos primeiros anos da década de 70 a história de Emilio Zambello confunde-se de tal forma com a da equipe que é difícil separar até mesmo as biografias dele e do amigo Piero.

O Alfa Giulia era fenomenal. Na primeira participação nas provas nacionais, Emilio e Piero venceram as 6 Horas de Interlagos. Na verdade chegaram em segundo, na geral, mas em primeiro na categoria. Depois, importaram "um Grand Turismo puro sangue": o Alfa GTA. Em pouco mais de 20 corridas, Emilio ganhou oito, o mesmo número de vitórias que conquistaria, dessa vez na geral, com outro possante, o Alfa GTA-M, com motor de 2 litros. Um carro ainda mais marcante na história das nossas pistas.

Uma corrida que Emílio faz questão de lembrar é a inauguração do asfalto do autódromo de Curitiba. Onde a equipe Jolly fez dobradinha com sua vitória e o segundo lugar do Wilsinho Fittipaldi.

Os maiores nomes do nosso automobilismo procuraram correr na equipe Jolly, alguns deles conseguiram como José Carlos Pace, Marivaldo Fernandes, Tite Catapani, Wilsinho Fittipaldi, Graziela Fernandes Santos entre outros, Emerson Fittipaldi disputou uma prova e os irmãos Alcides e Abílio Diniz também pilotaram as Alfas.

Em 1971 Emilio disputou suas últimas provas. A derradeira delas foi no dia 7 de setembro, a principio seria em dupla com Abílio Diniz, entretanto, o parceiro teve um mal estar e Emilio acabou por disputar sozinho os 500 Km de Interlagos.

Na memória do decano campeão ainda é forte a lembrança da entrega dos 3 capacetes de ouro que ele recebeu, um deles das mãos do inesquecível Juan Manuel Fangio.

Os carros importados foram proibidos de participar de competições nacionais no final daquele ano e esta decisão fez com que a equipe fechasse as portas, para tristeza de muitos fãs e emprobecimento das nossas corridas.

Emilio encerrou a carreira como piloto, mas não a de empresário bem sucedido, mantendo a importação dos carros para o público até que, em 1975 foram proibidas as importações de veículos inclusive para o público. Foi um duro golpe, mas não o suficiente para esmorecer o lutador italiano.

Ele continuava ligado ao ramo automotivo e era membro do Automóvel Clube Paulista, do qual veio a se tornar presidente anos depois. Nos negócios, começou a produzir rodas esportivas: as famosas rodas Jolly! Posteriormente ele também passou a importar pneus, mas poucos anos depois os pneus foram proibidos de ser importados.

Empreendedor, há alguns anos Emilio Zambello não se deixou parar no tempo e com olhos voltados para o futuro passou a investir num seguimento não apenas politicamente correto mas também de excelente retorno: a reciclagem de pneus.

Ele foi a Itália e fechou contrato como duas empresas produtoras de máquinas trituradoras e que são capazes de separar em um pneu, por exemplo, as resinas, o aço e atender clientes para produção de tapetes, asfalto, siderúrgicas, etc. Empresa que ele, ainda hoje, aos 84 anos, preside com dinamismo e visão atuais.

No meio automobilístico, como presidente do Automóvel Clube Paulista, que tem sede numa das esquinas do cruzamento da Avenida 9 de Julho com a Avenida Brasil, um dos metros quadrados mais valorizados do país, Emilio está à frente há 10 anos, e tem como uma de suas conquistas foi a volta da realização da tradicional prova dos 500 Km de Interlagos.

Emilio é o retrato mais fiel do apaixonado automobilista que tem a velocidade no sangue, que seu nome sempre ficará marcada na memória e na história do nosso automobilismo.

Fonte, a matéria é do Nobres do Gride

2 comentários:

  1. Bela homenagem.
    Tive o prazer de conhecer Emilio Zambello desde 1966, são, portanto, 48 anos.
    Imagino que a turma lá de cima, inclusive meu irmão Sérgio Cardoso, o receberá com muito amor e carinho.

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  2. Também conheci Sr. Emílio final dos anos 80 e começo dos anos 90, meu pai, Riccardo Labussiere, também Italiano chegou no Brasil em 58 desenhou muitas rodas e volantes na Jolly, tenho muitas saudades daquela época. Hoje passo em frente ao prédio da antiga Jolly aqui em São Roque SP me seguro muito pra não chorar...

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