sexta-feira, 14 de maio de 2010

REMINISCÊNCIAS BRASILIENSES - KOMBI 60 ANOS

A Volkswagen comemorou no mês de março 60 anos de produção mundial da Kombi. E para marcar a data, foi lançado no Brasil o concurso "Kombi 60 anos".

O início da produção da Kombi no Brasil foi em 1957, três anos após o lançamento mundial, e foi o primeiro veículo produzido na linha de montagem em São Bernardo do Campo, com motor de 1.200 cc.

Antiga linha de produção da Kombi

Hoje, depois de vender 1.360.850 unidades ao longo dos anos, a Kombi possui quatro modelos disponíveis e motor 1.4 8V flex, com potência de 78 cv quando abastecido 100% a gasolina e 80 cv, com 100% a álcool.

Último modelo saído da linha de produção

O nosso amigo Clécio Parreira é um apaixonado por Kombis e um ás ao volante de uma. Segundo amigos aqui de Brasilia, dava cavalos de pau pelas avenidas da cidade nos idos dos anos 60.

Agora, resolveu participar do concurso com a história relatada por ele abaixo:

CLÉCIO PARREIRA

"Magnífica a idéia da VW em homenagear a imbatível Kombi pelos seus 60 anos.
Foi motivado por ter a Kombi no sangue, que me imbuí da obrigação de contar uma, dentre inúmeras outras, histórias vividas com uma Kombi.
Uma não, várias Kombis! Basta lhes dizer que aprendi a dirigir em uma delas, em 1962, em Brasília, com apenas 17 anos.
No ano seguinte, já nos altos dos meus 18 anos, prestei exame de motorista e, é claro, foi na própria Kombi de meu pai – uma modelo 1959, motor 1200cc., que há anos atendia nossa família.

Vou contar a história, que selecionei para este concurso, porque recebi um filme alemão, com uma Kombi de estrela principal, passado nas pistas e estradas germânicas e que bem poderia ter sido estrelado pela nossa humilde azul e branco, nas condições em que esta esteve envolvida! Vejam a lista de quantas histórias deletei, para optar por esta: 1- O próprio exame de motorista, a 80 km/h;
2- Com farol de 6 volts, para não bater de frente com outro veículo, em uma escura estrada de Goiás, demos forte golpe de direção e passamos pela esquerda, enquanto o veículo contrário passava à nossa direita, a menos de 2 metros......quase morremos;
3- Mudança para novo endereço, levando colchões e camas...um incêndio em um dos colchões (talvez por uma fagulha de cigarro) e aquela fumaceira toda.... imaginem!;
4- Brasília –Chuí, em julho, numa Kombi sem forração (standard), dormindo 5 pessoas durante 30 dias. Pegamos 5 graus negativos em Lages, SC, ..... como temos histórias;
5- Várias competições na pista do Hotel Nacional de Brasília, onde junto a outros veículos muito mais adequados, alinhavam algumas Kombis, dos mais arrojados “pilotos”: com toda modéstia, nós mesmos; Zeca Joffilly; Luis da Kombi; Hamilton Medeiros; Moacir da Rural e outros menos assíduos.

Nasce aí a HISTÓRIA ESCOLHIDA..

Brasília, como todos sabem, foi e é celeiro de grandes pilotos automobilísticos. Suas avenidas e seu traçado são excelentes campos de formação e preparação de bons motoristas e, por permitir uma velocidade média e uma fluição do trânsito, muito maior que os demais grandes centros, vai estimulando a garotada ao domínio das técnicas da direção esportiva.
De lá saíram grandes nomes de projeção nacional e internacional.
Ênio Garcia – o ídolo e mestre de todos os seguintes – Geoge Pappas, Paulo Gomes, Dino Santi, João Laorgue, Carlos Laquintinie, Hamilton Medeiros, Baeta, Feijão, Catanhede, Carlão, Richard Penta, Roberto Dias, Alex Dias Ribeiro e João Bode, além de tantos outros, sem contar com o mais famoso de todos, o tricampeão Nelson Piquet.


Toda esta turma foi formada nos circuitos do Hotel Nacional, da Disbrave, da Novacap e, depois, nos circuitos do Pelezão e no autódromo Nelson Piquet.
Foi junto a esta graxa toda que cresci e aprendi a “tocar” uma Kombi, a meu juízo o melhor carro esportivo nacional. Explico a heresia!
É que a Kombi lhe dá tantas emoções a 80 km/h, coisa que os concorrentes só conseguem lhe fazer, a mais de 200 ou 300 km/h..........
Foi assim que me tornei um apaixonado piloto de Kombi, tendo tido a oportunidade de conduzí-las desde os 17 anos até mais de 40.
Foram mais de 400 mil km rodados em Kombis, pelos mais distantes rincões deste País!
Pois bem, aqui começa, verdadeiramente, a história que queremos narrar!
Em 1970 mudei-me para o Rio de Janeiro a fim de concluir meus estudos na UFRJ e, por isso, fui morar na Praia de Botafogo, num pequeno apartamento, próximo à Universidade.
Enquanto isto o automobilismo brasiliense fervilhava e obtinha seguidas performances nas melhores pistas brasileiras.Eu acompanhava, mesmo que à distância, os resultados dos amigos em várias Categorias de então: 850cc; até 1600cc e Protótipos.
Certa tarde de sábado, ao retornar para meu apartamento, vindo de uma praia escaldante, num fim de semana daqueles típicos do Rio de Janeiro, deparei-me com dois sonolentos mecânicos sentados junto à porta do meu pequeno refúgio, ali mesmo no corredor. Estavam com cara de exaustos!Eram, simplesmente, o Alex Dias Ribeiro e o Eládio, ambos totalmente lambuzados de graxa da cabeça aos pés e visivelmente abatidos.Convidei-os a entrar, café e pães comprados na padaria da esquina fizeram nosso lanche de reencontro.Que bela surpresa – a visita – a que devemos a honra, pergunto. Foi uma longa história. Tinham vindo de Brasília, em um caminhão, trazendo o Protótipo do Patinho Feio para correr os “500 km do Rio de Janeiro”, prova válida pelo calendário nacional, onde estavam em ótima classificação.

O problema é que naquela manhã de sábado, durante os treinos, tinham quebrado o terceiro e último motor de que dispunham e a corrida seria às 9 hs. do domingo. Todo o comércio já estava fechado e não havia tempo de trazer outro motor de Brasília. Sábado, final de tarde, uma cidade estranha, o que fazer? Pensa daqui, pensa dalí....lembraram do Clécio e sua Kombi (Já então uma com o potente motor 1500 cc). Por isso estavam lá em casa. Precisavam do motor da Kombi para correr no dia seguinte. Isto que já passávamos das 4 horas da tarde de sábado e a corrida seria às 9 hs da manhã seguinte!
Pronto, não titubeei. Macacão na mão, caixa de ferramentas na outra, garrafa térmica para o café da padaria, pães, frios e queijos eram o prenúncio de uma noite de trabalho pela frente, rumo ao autódromo de Jacarepaguá. No caminho deixamos o Alex no hotel, pois o mesmo tinha que dormir para poder pilotar no dia seguinte. Chegamos à pista já estava escuro. Os mecânicos já tinham desmontado todo o motor do Protótipo. Colocamos a Kombi dentro do Box, macaco, cavaletes e em minutos o motor estava no chão. Em menos de duas ou três horas – a emoção era tanta que não vimos o tempo passar – tínhamos aberto o motor da Kombi e trocado todo seu miolo. Eixo roletado, comando P4 ou P5, não me lembro, pistões cabeçudos e bielas especiais. Na parte externa coletores para dois carburadores Weber de 40’ e uma descarga com saída central. Quando o dia amanheceu estávamos rodando na pista, amaciando o motor do bólido.
Às 9 hs. , com pilotos de banho tomado, barba feita e roupa limpa, o Patinho arrancou para os “500 KM”, prova que concluiu em terceiro lugar, primeiro em sua Categoria, somando preciosos pontos no campeonato.
Fim de festa. Pódium, banho de champanhe, etc. etc. etc...... até às quatro da tarde.
Naquele momento, enquanto todos iam para suas casas, retornamos ao box. Os mecânicos recolhiam as ferramentas, combustível, óleos e outras quinquilharias, lavavam e encaixotavam todas as peças do Patinho Feio. Colocavam tudo no caminhão, enquanto nós tirávamos o motor do protótipo e recolocávamos na Kombi.
Um pulmão de mais de 200 HP, em substituição ao original de 52HP!
As peças originais do motor da Kombi já estavam guardadas em seu interior. Saímos do autódromo por volta das 19 hs., fomos para São Conrado, onde haviam grandes bares e churrascarias, local marcado pelas equipes para a confraternização final.
O trajeto autódromo-churrascaria foi feito, para espanto das pessoas na rua, numa Kombi que roncava como um Fórmula 1, arrancava nos sinais como um Boeing e era ocupada por meia dúzia de jovens cabeludos que “eram felizes e não sabiam”!
A emoção de dirigir aquela Kombi Furacão foi, embora que por pequeno tempo, algo que nunca mais sairá de nossas memórias. Aquele filme alemão muito bem poderia ter sido feito por nós, trocando a estrada alemã, pela descida do Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro.
Nossa Kombi portava-se igualzinha àquela do filme.
Foi uma das melhores lembranças daquela Kombi, nem sentimos a , madrugada seguinte quando, novamente, desmontamos todo o motor e recolocamos as peças originais da Kombi.
Quando saí para passar o final de semana em Petrópolis, tendo que subir a serra, quase não reconheci o desempenho do bom e tradicional motor 1500, que continuou nos dando muitas alegrias e permitindo cruzar este território em várias direções, apesar de seus 52HP de potência.
Era, novamente, uma Kombi “careta” !

Clecio Parreira"


Fotos, reprodução

14 comentários:

  1. Comentário do José Luiz Joffily enviado para o meu email.

    "Olá Jovino.
    O Clécio é um sentimental e foi muito generoso em me alinhar entre os feras de kombi nos idos de Brasília. Não é nada disso, fera foi ele, o Luiz Gladstone, a irmã do dono das Drogarias Santa Mônica (que ele esqueceu e eu também não lembro o nome). O Luiz tinha uma marca registrada: ele não reduzia marcha, fazia tudo em 4ª, muito doido... O Clécio também era muito doido. Um dia ele vinha chutado e desviou de um tronco que não era tronco no fim do eixão norte que a bichinha ficou de lado... era o canteiro central.
    O que sei de Kombi aprendi com ele. Na época eu tinha um pouco de miopia e não usava óculos, chovia muito e eu dizia que não estava enxergando nadinha. O cara perguntava "a quanto você está ?" Eu dizia 60. "Então bota 120 !"
    Brasília tem uma longa tradição automobilistica e muitas feras internacionais se criaram aí.
    Você sabia que no dia da inauguração da cidade, em 1960, além de show aéreo teve uma corrida de "fórmula 1" no eixão ? Tinha uma Ferrari vermelha do Arthurzinho e uma Maseratti amarela que eu acho que era do Chico Landi... vale pesquisar nos arquivos (Zé Roberto não estava lá mas deve ter isso guardado).
    Grande abraço.
    zeca joffily"

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  2. este blog é o baú do bem. clécio henriques parreira gomes, zeca joffily, camaradas de quem só ouvimos, com saudade, referencias sempre positivas, consequentes de ter assimilado o espírito de brasília, a poeira do pioneirismo, a certeza de que aqui estávamos, no agreste do cerrado plano, tão distante das águas e das montanhas do litoral, para ajudar a fazer alguma coisa que seria importante. era mais ou menos o espírito dos reis magos: sabiam que acontecia alguma coisa importante, estavam lá, mas nunca imaginariam os desdobramentos.
    como disse com lirismo o lúcio costa sintetizando brasília, a realidade é maior que o sonho.

    zeca, saudades. como você disse, ainda não havia chegado a brasília. mas a corrida foi da melhor presença, incluindo o fangio como ícone maior.
    ganhou-a o jean-louis lacerda soares, com ferrari - pode ser o tal carro amarelo, pois a foto que tenho mostra-o claro.

    pinte mais. e se em brasília, venha ao museu do automóvel, ápice da patologia automobilística.
    zeroberto nasser

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  3. Nasser, o Clécio, pelo o que o Penta me informou hoje, já se encontra em Brasilia para a festa dos 50 anos da Caseb e comparecerá nesta quinta no já tradicional encontro lá do bar da lapa. Aliás, vem muita gente daquela época de fora e que morava na cidade.
    Pinta lá a partir das 18h.
    Jovino

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  4. Complemento ao comentário do Joffily: "Carlitos" era o nome do dono da rede Stª Mônica e correu em dupla com Waldir Lomazzi pilotando o ELGAR GT 104 na prova em comemoração ao aniversário da cidade de Anápolis em 1969, na qual Ênio Garcia sofreu uma fechada, ou leve batida, saiu da pista e acabou provocando um acidente envolvendo o público presente e com vítimas fatais.
    Antes do ELGAR ficar pronto, corriam em duplas pela BRASAL,Inácio Correa Leite e outro piloto que não recordo o nome, com o carro nº 10, Waldir Lomazzi e Paulo Guaraciaba com o nº 11 e Ênio Garcia e Antônio Martins Filho (Toninho Feijão) no carro 12.
    O ELGAR GT 104 ganhou sua 1ª prova em setembro de 69, nos 500 Km de Bsb, com os pilotos Toninho Martins e Luiz Cláudio.

    Faltaram alguns nomes dos bons pilotos que contribuiram para a história do automobilismo de Brasília: Dirceu Bernadon, Karl Raymond Von Negri e os pilotos acima citados.
    É isso aí.
    Um abraço,
    Hamilton França.

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  5. Telefonarei hoje para far com a "Thiurma do Bar do Lapa"... Aguarde-me, sem falta... Lapagesse

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  6. Hamilton,
    Em breve, vamos começar uma seção de entrevistas com pilotos que fizeram o automobilismo de brasilia no início de tudo. O primeiro vai ser o Waldir Lomazzi que construir juntamente com o Ênio o Elgar GT 104.
    Jovino

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  7. Hamilton,

    Salvo engano, quem corria com o Inácio Correia Leite era Jacques Lima.

    Abs

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  8. Dos automobilistas nomeados pouco sei, mas a história envolvendo a Kombi é um tesão. Tive kombi por uns 15 anos e servia pra td. Carro da familia, do trabalho, hotel nos tempos dificeis e de grande economia, enfim fazia e acontecia com a Catarina, I, II, III, e IV, Grandes histórias, muitos sustos e um ridículo record. Nunca ninguém conseguiu me passar descendo a serra de Caraguatatuba, uma estrada que eu fazia 3 vezes por semana e onde conhecia até as pedras soltas.
    Fico imaginando o que pensavam daquele louco desembestado morro abaixo, numa KOMBI abrindo caminho com uma buzina de barco!!!!

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  9. Regi, dirigi Kombi pouscas vezes, mas tinha um amigo o Don juan de las feras que tinha uma e a rebaixou colocando a traseira mais baixa do que a dianteira. E o cara jogava ela de lado e derrapava nas quatro deixando a traseira sair, mas ele segurava. A kombi pelo fato de ser um veículo longo era fácil de fazer derrapagens controlada, mas viajei pelo interior de Minas numa várias vezes. Na época, o meu pai tinha Rural e era uma briga de filhos defendendo o carro do seu pai, eu dizia que a rural era mais carro e ele a Kombi. Hoje são dois clássicos nacionais.
    Mas tem histórias de pegas de Kombi e Jeep aqui em Brasilia lá no circuito do Hotel Nacional, palco de vários corridas aqui na cidade.
    Jovino

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  10. Nunca fui automobilista mas acompanhava tudo.COMO IRMÂO E Fâ, não devemos esquecer do GULU< CRIADOR DO PROTOTIPO OK E GRANDE CORREDOR DAQUELA ÈPOCA>

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  11. Zeca, Vc ficou devendo essa, de não comparecer ao baile. Pergunte à sua irmã. Festa total!
    Cara, não deixe de visitar o museu do Nasser, coisa de profissional apaixonado. Bota apaixonado nisso.
    No Lago/Papuda (agora está tudo unido!), também tem duas coleções maravilhosas, uma do Nelson, com destaque para um Cadilac verde-piscina e, outra, do Geraldo, com destaque para um Antonov monomotor de dupla asa, coisa de museu, um avião multicida, de onze lugares, que o danado põe a voar. Quando eu conseguir tirar a foto do celular posto aqui. Vai lá Jovino, registra com sua Roleflex!
    Bjs a todos
    Clecio

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  12. Pois é Clécio.
    O Penta não me convidou para esta empreitada lá na casa do Piquet, pois o Piqeut,neste horário, estava lá no VCC com a gente. Vocês foram recebidos pelo Geraldo.
    Na próxima oportunidade, levo a minha máquina e registro tudo.
    Ab.
    Jovino

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  13. Olá jovino,tudo bem?Talvez voce não me conheça..esta foto do Nelson e Pupo moreno foi feita por mim , em uma pista de Kart do CEASA, onde corria Broka, Wagner Rossi e outros .Um grande abraço e seu so alegria e emoção.

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  14. Agora vi este comentário e me lembrei dele, por onde anda o Broca? Este p.... não podia ter faltado ao baile.
    Vamos fazer uma lista e dedurar todos aqueles que fizeram corpo mole...... a velhice está pegando esta "moçada"?
    Para com isso minha gente, viajei mais de 1000 km só para rever os amigos.
    Dei umas voltas na pista do Hotel (com semáforos e tudo, só para matar as saudades), combinei com o Jansen, voltaremos em novembro.
    Até lá.
    Abraços,
    Clecio

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